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Em dia de mobilização, Célio cobra desfecho de “novela” envolvendo piso da enfermagem

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dia mobilização Célio cobra desfecho novela envolvendo piso enfermagem
Imagem: Yaly Pozza

Profissionais da enfermagem foram às ruas nesta terça-feira (14) em todo o país para uma mobilização em defesa do pagamento do piso salarial. Em Brasília, o deputado federal Célio Studart (PSD-CE) participou da manifestação promovida em frente ao Ministério da Saúde pela manhã e esteve em reunião com a ministra Nísia Trindade à tarde.

Já virou uma novela o piso da enfermagem, e uma novela de mau gosto. É o momento de dizer chega ao desmando de qualquer um que pense que pode desfazer uma conquista tão importante e grande como esta da maior categoria da saúde do Brasil”, afirmou Célio aos profissionais da enfermagem.

↘ O que falta para que o piso salarial da enfermagem seja aprovado?

O deputado vem participando ativamente de todo o debate envolvendo o tema com vistas a garantir o pagamento desta conquista, assegurada na Lei 14.434/22. Após decisão do STF de suspender a aplicação da lei, o Congresso Nacional aprovou propostas com vistas a sanar restrições impostas, como a ausência de fontes de recursos.

A categoria aguarda que o Governo Federal publique uma Medida Provisória para regulamentar a destinação de recursos para estados, municípios, filantrópicas e hospitais privados que atendem no mínimo 60% SUS para o pagamento do piso.

O texto tem sido debatido entre parlamentares, entidades que integram o Fórum Nacional da Enfermagem, e o Ministério da Saúde, que encaminhou uma minuta para a Casa Civil.

Este foi o principal tema da reunião com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Nela a titular da pasta ressaltou que o governo instituiu um grupo interministerial para avaliação da matéria, integrado por representantes de órgãos como Casa Civil e ministérios da Fazenda e do Planejamento. A MP já estaria em fase final de elaboração.

Fique por dentro:
Senado aprova PL do piso da enfermagem; proposta segue para Câmara
Piso da enfermagem: decisão isolada do STF e a mobilização de trabalhadores

A categoria promete entrar em que greve caso o texto da MP não seja publicado até 10 de março.

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PRAIA E O BRASIL

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Adoro praia. Mesmo no inverno, quando as aqui do Rio Grande do Sul tomam um tom acinzentado. Essa tristeza melancólica me agrada. Mas, claro, as gosto especialmente no verão. Não sou dado ao calor. Acima do peso e com início da dieta marcado inadiavelmente para a próxima segunda-feira, suo muito. Às vezes, no meu cúper, asso a virilha e tenho que passar maisena. Mas, se estou na praia, quero calor de 40 graus, inticando com a probabilidade dum câncer de pele.

E a praia é como diz meu amigo Ivan: democrática. Mais de uma vez, quando fomos juntos à orla, ele, entre um gole de cerveja e outro e embebido também pela moda verão feminina, que ele apreciava escudado pelos óculos escuros, dizia: “eu gosto do mar. A praia é democrática. Qualquer um pode vir. Negro ou branco, rico ou pobre.” E tomava mais um gole do latão retirado do cúler.

Tem razão meu amigo. Apesar de a caipirinha custar o mesmo que num meretrício, os pobres podem ir e fazer como meu amigo e eu, levar sua própria bebida. Ultima vez que comprei na praia uma cerveja à temperatura não muito boa, dado o preço, quase exigi uma dançarina seminua na minha frente (e ela com vestes ainda menores do que a da moda verão que desfilava ali atrás).

Por isso, compro somente uma caipirinha no capricho no quiosque e depois tomo as minhas latas levadas de casa.

Mas a praia é também lugar de diversidade ideológica, política, cultural, de gostos, enfim, de tudo.

Nesses dias que frequentei o mar, não vi brigas de “petralhas” x golpistas ou bolsonaristas inconformados acampados na orla pedindo intervenção da Marinha ou de ETs veranistas. Vivia-se, na República Praieira, realmente uma democracia, com respeito às liberdades e pensamentos individuais. Mais do que isso, se convivia, se relacionava.

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Miami Beach, EUA (divulgação/shutterstock)

Não sei se aquela família tinha votado 22 ou “feito o éle”, mas eles gentilmente cuidaram dos meus tênis enquanto eu fui me refrescar depois da corrida.

Em outro momento, ouvi aplausos. Pensei: finalmente o reconhecimento. Anos escrevendo aqui no Pragmatismo Político e nunca me pediram autógrafo. Mas eis que dias de glória. Em plenas férias, num dia ensolarado, a praia para para me homenagear. Fila para os cumprimentos. Mulheres e crianças primeiro… mas não. Não sabia desta prática: quando uma criança se perde na praia cheia, o pessoal começa a bater palmas até que o responsável a encontre. Neste caso, a mãe, aos aplausos, se deu conta de que o filho tinha ido pra longe. É que ela estava entretida no celular. Decerto atualizando o status, postando que a vida é boa. Férias com o filho, que é tudo pra ela. E a música Pé na Areia animando o Instagran.

Outra vez ocorreu conosco. Cheguei com a pequena. Eu carregando carrinho com guarda-sóis, cadeiras, bolsa, brinquedos, prancha e, claro, o cúler. Enquanto eu retirava os apetrechos, já montando acampamento, ouço um apito. A salva-vidas chamava a atenção da minha filha, fazendo sinal para que recuasse. Ela estava na beirada, mas a autoridade achou por bem lhe advertir. Quando a aprendiz de sereia voltou pra perto de mim, a salva-vidas venho até nós explicar por que havia lhe chamado. Nos deu uma pequena aula de oceanologia. Falou sobre o movimento dos ventos e das correntes e que por tal e tais motivos era perigoso o banho ali e etc.

A moça não queria saber minha orientação sexual, minhas crenças, meu salário ou minha ideologia política. Fez o seu trabalho (talvez até um pouco mais) com senso de responsabilidade social, não interessando a quem.

Aliás, sobre isso, vi muito marmanjo metido a marujo tomando, literalmente, apito dos salva-vidas. O pessoal toma umas duas ou quinze cervejas (trazidas de casa ou compradas ali no quiosque a preço de bordel) e fica valente. Decerto também querendo se exibir pras passantes na passarela da moda verão feminina, ultrapassam a linha da prudência e se jogam mar adentro. Pra já que os da-guarita sopram o apito e fazem sinal de volta, volta. As meninas supracitadas finalmente lhe dão atenção. E um sorrisinho de deboche ao canto da boca. O bonitão volta constrangido.

E, assim como a simpática moça orientou-nos, os outros cuidam a vida dos adultos sem interessar qualquer característica outra dos sujeitos, a não ser uma inadvertida imprudência. Resguardam a vida do outro, que isso é que se espera dum mínimo de civilização e humanidade. Não vociferavam que petistas, comunistas, bolsominions ou o que quer que seja devem morrer. Não. Apitavam em advertência e, se preciso fosse, arriscavam as suas próprias vidas na expectativa de salvar um semelhante.

Leia aqui todos os textos de Delmar Bertuol

Os insistentes pescadores de de manhã cedo também oferecem o seu bom dia aos colegas de pesca frustradas ou aos caminhantes da alvorada. Os peixes não escolhem partido. Não mordem a isca de ninguém. Os pescadores também por um momento deixam de lado paixões políticas e preconceitos. Cumprimentam com calor praiano todos os que passam olhando curiosos seus baldes vazios.

A praia, como disse, é pra todos. Da extrema-direita à extrema-esquerda, passando pelo extremo-centro. É para quem fez o éle e para os acampantes de defronte aos quarteis. É até para golpistas de 8 de Janeiro que, surpresa, lá se comportam, preservando a natureza e as pessoas. São pros liberais na economia e pros liberais nos costumes. São para os que levam suas bebidas e comidas e para quem tem condições de pagar os preços meretriciais dos quiosques, pois, muitas vezes, fazem a festa da firma nos meretrícios mesmo, embora se digam defensores da família tradicional.

Uma pena que a praia seja somente essa feliz exceção da sociedade e não o seu reflexo fiel.

Espero que este novo governo cumpra o prometido e aumente o poder de compra do trabalhador, pois espero ansioso o próximo verão com sua moda verão feminina, o divertimento da minha filha, a caipirinha e essa sensação de civilidade.

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”
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DOGMA

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político

Dogma é princípio que se convenciona não discutir e, muitas vezes, que não se aceita discussão. Uma doutrina dogmática é um sistema oficial de princípios que devem ser aceitos tais como são, sem discussão.
Embora se imagine que o dogma é basicamente religioso, sua propagação atingiu todos os aspectos da percepção e avança com passos largos para regulações que acometem a sociabilidade em níveis cada vez mais profundos.
Nesse sentido, o formato da terra, a teoria da evolução, a gravidade, a desigualdade social, as hierarquias sociais, cada um dos elementos que orientam nossa percepção da realidade é um dogma, portanto indiscutível.
Qualquer um que ouse discordar dessas verdades universais será cancelado, ridicularizado, exilado e seu nome será riscado da aceitação que os grupos definem como adequados a participar da vida comum.
O meio acadêmico, certamente, é o mais dogmático e emite seus sinais de adequações e pertencimentos rotineiramente. Como reproduz as mesmas cátedras, independente da área a que pertence, é um mundo restrito em suas bases, mas que influencia muito amplamente.
Todas as disciplinas acadêmicas são dogmáticas em seus princípios e desdobramentos. São ensinadas como verdades e cobradas como avaliações.
As mídias reproduzem as condenações e destroem antecipadamente qualquer tentativa de contrapor idéias dogmáticas gerais e específicas.
Vivemos um momento histórico em que o dogma pode ser conferido a cada novo ataque da consolidação de novas verdades que modificam o passado e se impõem a todos.
As questões de gênero, de raça, de sexualidade, a nomenclatura que passa a regrar o falar das gentes, as denúncias e a vigilância contra defecções podem nos dar uma idéia do poder dogmático como norma social emergente.
No princípio o dogma é parte de uma regra intolerante, mas baseada num sentimento de justiça ou correção histórica. Parece sempre razoável alterar os mecanismos de relação, pois avançamos para um tempo positivo, de melhora e evoluções diversas. Depois ele se naturaliza e as gerações que perderam sua origem, acreditam na eternidade de sua manifestação.
O dogma exige concordância absoluta, pois todas as teorias científicas, baseadas nas verificações fazedoras de verdades são dogmáticas. Todos os livros também o são, pois se apresentam como fruto da concordância geral das verdades fundamentais ali inscritas.
A história é a mais dogmática ciência, pois naturaliza a desigualdade na biologia humana e impõe sua soberania como dada. Daí que a racionalidade é o lócus onde se alojam todos os dogmas.
A racionalidade dogmática sobressai por imaginar ser o dispositivo que distingue o homem das outras espécies, cuja classificação foi ele mesmo quem concebeu.
Não deixa de ser irônico que o homem investigue a vida, propõe uma classificação hierárquica e se coloca no topo da cadeia alimentar da inteligência, negando a todas as outras formas de vida qualquer vestígio de inteligência.
Esse pensamento unívoco, capaz de determinar como são as coisas, os seres, os entes e até mesmo os vastos multiversos espirituais está ancorado num princípio dogmático fundamental.
O adjetivo unívoco diz do que só tem uma explicação ou interpretação; que não é ambíguo; evidente; inequívoco, que é do mesmo gênero e possui a mesma explicação ou sentido, mas pode ser aplicável a coisas diferentes, da função que associa a cada ponto do domínio somente um ponto do contradomínio e que designa com o mesmo som coisas diferentes, que é homônimo.
Essa forma ubíqua de entender a vida, o mundo e os seres é o que chamo primordialmente de dogma, pois não pode ser contestado de princípio, pois o princípio é o verbo e seu suporte, a linguagem, comanda tudo, penso, logo existo.
Desse modo inaugural, a dúvida será erradicada em seu conjunto de possibilidades e as certezas assumirão a forma fascista de verificar a realidade. Globalmente se imagina saber de tudo e cada indivíduo, considerando ser único, pode compor uma célula da verdade universal.
Os que destoam, por sua vez, se ancoram em outros conjuntos de verdades universais igualmente válidos e a discordância é parte do jogo mental binário que confirma fundamentalmente o conceito. Então se concorda ou discorda, amparados pelo mesmo dogma, apenas colocado no extremo oposto da ferradura.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

A teoria da ferradura demonstra como o dogma se consolida na prática política por uma ideologia que se mostra sempre em oposição e dualidade, mas que, em todo percurso de seus discursos, aproximam-se mutuamente.
O primeiro uso do termo na ciência política parece ter sido colocado por Jean-Pierre Faye, em seu livro de 2002, Le Siècle des idéologies. Outros atribuem a criação da teoria aos sociólogos americanos Seymour Martin Lipset e Daniel Bell e à escola pluralista. A teoria às vezes tem sido denominada como “Les extrêmes se touchent” (“Os extremos se tocam”).
Não são apenas os extremos que se tocam, mas a forma da ferradura realça o caminho comum, desde os centros até as pontas. E nada parece sair desse constrangimento, já que a democracia, afinal, é considerada como o último baluarte onde esses discursos se organizam. Nada parece existir além da democracia, apenas retrocesso diante dos determinismos positivos do pensamento dogmático.
O dogmatismo carrega essa característica dual, pois parece que ou é isto ou aquilo e que assim está realizado o divisionismo, o reformismo, o oportunismo e o controle das narrativas.
Embora tenha sido concebida como uma teoria para explicar os extremismos políticos, a teoria da ferradura está presente em todas as teorias cientificamente propostas, senão vejamos o caso da teoria da evolução de Darwin.
Uma vez concebida, surge uma oposição extrema, o criacionismo, como alternativa ao pensamento pretensamente científico. Essa oposição tola só surge para reforçar que o fundamento da ciência é válido contra o fundamento da religião. E como é uma oposição que zera qualquer possibilidade, o jogo da ferradura parece autorizar sua veracidade aos dogmáticos de ambos os lados do extremo.
Pouco importa que o biólogo russo Kropotkin tenha concebido uma teoria da importância da colaboração para o surgimento e prosseguimento da vida, confrontando a competição que a teoria hegemônica apontou para justificar o liberalismo como uma decorrência da vida no planeta.
O mesmo pode ser aplicado ao conceito de gravidade newtoniano. É irrecusável, embora a física quântica e o relativismo einsteiniano tenham oferecido aberturas que ainda são fonte de dúvidas e a dúvida não é aceitável como base do dogma científico. Só quando uma teoria tiver superado a outra saberemos da nova verdade inquestionável, do novo dogma inquestionável.
Qualquer um que ouse duvidar dessas verdades será ridicularizado como alguém fora do lugar e fora do tempo.
Esses exemplos poderiam se reproduzir aqui em diversos modelos de verdades absolutas e da mesma forma seriam aceitos de modo inquestionável, pois se imagina que são partes do método científico e que a oposição, a dúvida, a ousadia colocará o sujeito na zona do exilado.
Numa sociedade heteronômica deseja-se fazer parte da maioria, já que a minoria que não recebe os benefícios dos empoderamentos será considerada como a parte maldita, que une todos no extremo oposto.
É inaceitável que a Grécia não seja o berço da civilização ou que o trabalho não seja natural biológico. É inaceitável que se questione a ordem geográfica do mundo ou a teoria em que Freud apontou a estrutura da psique humana.
Duvidar da forma do planeta então, pura heresia e rematada tolice.
Basta a autenticidade de um discurso científico ou religioso para que a coerência da ordem eurocêntrica e de seu império cognitivo seja reforçada. Contrarie esse determinismo e seja condenado ao ostracismo e à execração pública.
O dogma é tão poderoso que ao escrever tais sandices sei que já faço parte dos incautos, dos malucos, dos perdidos cuja direção é o abismo do isolamento.
Mas, como dizem os sadhus e nagababas, os homens desgarrados das castas hindus, ora como loucos ora como gênios, assim caminham os homens livres pela terra.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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As armadilhas políticas das Fake News

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Imagem: Emily Curbani | CMC

Carlos Castilho*, Observatório da imprensa

A decisão do governo federal de ingressar no combate à proliferação de notícias falsas (fake news) na imprensa e nas redes sociais esconde armadilhas políticas que podem causar sérios embaraços ao presidente Lula, porque é um tema complexo sobre o qual é difícil estabelecer um controle absoluto.

Na verdade, o combate às fake news está mais na esfera da comunicação social e menos no âmbito do poder executivo, já que é muito arriscado criar regras rígidas para neutralizar um problema que ganhou grandes dimensões justamente porque se aproveitou da escassa experiência de nossa sociedade com o manejo da informação digitalizada.

O fenômeno das notícias falsas, incompletas, distorcidas ou descontextualizadas já é bastante antigo. Convivemos com ele há mais de um século, período em que se manifestava através de jornais, revistas, noticiários radiofônicos e telejornais. As fake news passavam, no entanto, quase desapercebidas porque a comunicação jornalística pré-internet era controlada por um reduzido grupo de grandes empresas, na maioria privadas.

Com a chegada das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), no final do século XX, surgiram as redes sociais virtuais que passaram a concorrer com a imprensa convencional na produção de fluxos informativos oferecidos à população. A concorrência se transformou em batalha pela sobrevivência com a migração de anunciantes para o espaço virtual, especialmente depois que a telefonia celular facilitou o acesso às grandes redes virtuais como Facebook e Google.

É neste contexto que surge a polêmica sobre o combate às fake news, basicamente um argumento manobrado pela imprensa convencional para tentar construir uma imagem de credibilidade em meio ao caos informativo criado por grupos políticos extremistas no fluxo de notícias na internet. Se a imprensa estivesse eticamente comprometida com a veracidade das informações publicadas até a chegada da internet, ela já teria feito um mea culpa de todas as notícias distorcidas, enviesadas e meias verdades veiculadas no passado como parte do jogo corporativo de interesses políticos e empresariais.

A ofensiva político-publicitária contra as redes sociais ganha características de uma manobra dos grandes conglomerados midiáticos interessadas em usar a bandeira do combate às fake news como arma contra a acelerada expansão financeira de impérios tecnológicos como Facebook e Google. É uma guerra de “cachorro grande” e quem se meter nela precisa ter muito claro que se o compromisso com a confiabilidade das notícias for levado até as últimas consequências pode acabar tendo que enfrentar tanto as redes como grupos empresariais como Globo, Folha e Estadão.

As redes sociais virtuais estão muito longe de serem modelos de conduta em matéria de compromisso com a veracidade. Muito pelo contrário. O fato de reunirem audiências infinitamente maiores que as da imprensa convencional, de se aproveitarem da onipresença dos telefones celulares e permitirem a instantaneidade na transmissão simultânea de milhares de mensagens, fez com que Facebook, Youtube, Twitter, Instagram e Whatsapp se tornassem as plataformas preferenciais dos terroristas e extremistas online. Casos como o da Lava Jato, bem como as campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro e Donald Trump, acabaram se tornando paradigmas do uso de notícias falsas com fins político-eleitorais.

Discurso sofisticado

O esforço para combater as fake news é urgente e necessário mas ele precisa levar em conta o contexto social-econômico-político em que estamos inseridos, as especificidades tecnológicas dos fluxos virtuais de notícias e os recursos de que dispomos para alcançar o objetivo. A primeira constatação contextual é a inviabilidade de combater problemas digitais com ferramentas analógicas. Não vai funcionar ou servirá apenas para enganar a opinião pública. No espaço físico dos jornais, rádio e TVs há responsáveis, endereços e condutas localizados e identificáveis. No chamado ciberespaço, tudo isto é muito difuso, mutável e complexo.

Levamos décadas para produzir leis, códigos, regulamentos e normas tentando disciplinar a atividade noticiosa da imprensa, sem eliminar completamente a incidência de notícias falsas ou distorcidas na imprensa convencional. As empresas construíram um sofisticado discurso para adequar o jornalismo ao ambiente comercial na produção e veiculação de informações. Mais do que isto, as mídias formataram audiências que, sem juízo crítico, incorporaram vários itens deste discurso aos seus valores individuais no trato com a informação.

De repente, tudo isto muda com a avalanche informativa gerada pela internet e por inovações tecnológicas como telefones celulares, computadores, bancos de dados e, mais recentemente, com a robotização e inteligência artificial. Criou-se um espaço sem regras e sem valores consolidados. O lento e complexo sistema de produção de leis e regulamentos não consegue acompanhar o ritmo frenético das inovações tecnológicas. Muitas leis se tornaram obsoletas e ineficazes antes mesmo de serem aprovadas. E mais do que tudo, começa a ficar claro que a criação de normas vai depender mais das pessoas do que dos tribunais, parlamentos ou governos.

Isto fica claro quando se analisa o trabalho das centenas de projetos de checagem de informações, um louvável esforço para tentar limitar a proliferação das fake news por meio da sua desconstrução. É humanamente impossível checar todas os dados e fatos publicados numa edição normal de jornais impressos. É viável detectar as mentiras mais grosseiras, mas o enviesamento, descontextualização e as meias verdades exigem muito mais tempo e conhecimento para serem identificadas. Além disso, a experiência tem mostrado que o espaço editorial dedicado à publicação do resultado de checagens é muito inferior ao dedicado à publicação de notícias gerais. O resultado é que a checagem de fatos e dados, também conhecida pelo jargão inglês fact checking, acaba servindo mais para marketing do jornal ou revista do que para tranquilizar ou orientar o leitor.

Assim, o ingresso do governo no combate às fake news precisa levar em conta todo este arsenal de dificuldades capazes de criar decepções, contrariedades e acusações numa questão que, no final das contas, tem mais chances de ser resolvida pelas pessoas e comunidades do que por decretos e leis. Em vez de buscar a normatização do problema, o governo talvez tenha mais possibilidades de êxito se apostar em campanhas públicas de formação de consciências e de incentivo ao surgimento de novos valores e comportamentos no trato da notícia.

Lidar com a informação e a notícia não é algo que você prática baseado em manuais ou regras. Cada informação ou notícia está relacionada a um contexto específico, a uma realidade particular e por uma visão de mundo individual. Os casos mais grosseiros podem sim ser enquadrados em leis mas no dia a dia das pessoas, o combate às notícias falsas, distorcidas ou incompletas é uma questão de atitude, de valores incorporados à visão de mundo de cada indivíduo. São condutas, idealmente, quase automatizadas, como por exemplo a consciência de que uma queimadura pôr fogo é algo doloroso. Nossa reação é automática, ninguém precisa nos ensinar a não botar a mão no fogo.

Não há receitas prontas para o combate às fake news e é justamente por isto que a ação do governo é insubstituível neste campo. Mas ele não pode cair na armadilha de pretender apresentar soluções definitivas e universais para atender aqueles que cobram resultados imediatos. Tentar puxar para si a responsabilidade de achar soluções rápidas e definitivas para um problema tão complexo, como as fake news, é um risco enorme para o governo.

*Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.

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As profissões digitais mais procuradas em 2023

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profissões digitais mais procuradas 2023 trabalho emprego

Com a evolução da tecnologia a população possui um cenário totalmente novo no mercado empresarial, com a origem de novas áreas de atuação e atividades nas empresas.
As profissões digitais trouxeram um grande impacto na estrutura social do país, trazendo novas demandas no mercado de trabalho aos brasileiros.

Neste artigo, listaremos as principais oportunidades no mercado de trabalho para os profissionais digitais. Confira!

Copywriter

Um copywriter é um profissional responsável por criar conteúdos persuasivos para diversos fins, sejam eles publicitários, divulgação de produtos e serviços. Seu objetivo principal é atrair o interesse do público, despertando sua curiosidade e incentivar a ação.

Além da habilidade de escrever, um bom copywriter deve ter conhecimento sobre o mercado e o público-alvo ao qual o conteúdo está sendo direcionado. O trabalho de um copywriter é essencial para o sucesso de uma campanha de marketing, pois é ele quem constrói o conteúdo que vai impactar o público.

O salário médio de um Copywriter no Brasil é de R$3.000 a R$5.000 por mês, com base em informações de mercado.

Marketing Digital

O profissional de marketing digital é responsável por desenvolver, planejar e executar estratégias de marketing para a empresa a fim de alcançar os objetivos propostos.

Isso inclui usar técnicas de SEO (search engine optimization – otimização para mecanismos de busca), SEM (search engine marketing – marketing de mecanismo de busca), links patrocinados, anúncio display, remarketing, e-mail marketing, mídias sociais, entre outras.

O salário médio de um profissional de Marketing Digital no Brasil é de aproximadamente R$ 3.500,00 a R$ 6.500,00, dependendo da região e do nível de experiência.

Desenvolvedor de jogos

O desenvolvedor de jogos é um profissional de tecnologia que cria jogos online e offlines para computadores e dispositivos móveis. Esses profissionais trabalham com programação, design gráfico, testes e produção para criar jogos atraentes e interativos.

É aconselhável que o profissional tenha conhecimento sobre game engines, plataformas de jogos, ferramentas de desenvolvimento e softwares de testes.

O salário inicial médio de um cargo júnior da carreira no Brasil é R$2.550,00. Já o sênior é de R$8.200,00

E-commerce

O profissional de E-commerce é responsável por gerenciar e otimizar o desempenho de uma loja virtual. O objetivo é aumentar o seu tráfego, o número de conversões e o faturamento da empresa.

Para iniciar este ramo, é necessário ter facilidade em criar planejamentos estratégicos e táticos, além de usar ferramentas de análise de dados para melhorar a experiência do usuário.
O profissional de E-commerce deve entender as tendências do mercado e estar apto a trabalhar em várias plataformas, como Shopify, Magento, WooCommerce e PrestaShop.

O salário de um profissional de E-commerce no Brasil depende da experiência e das responsabilidades da função. Em média, um profissional de E-commerce ganha entre R$2.000,00 e R$7.000,00 por mês.

Social Media

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O Social Media atua na gestão e produção de conteúdos, criação de estratégias e monitoramento de todas as plataformas de mídia social de uma empresa.

As principais tarefas de um profissional de Social Media envolvem a criação de conteúdo relevante e atrativo, a monitoração e otimização das postagens em plataformas como o Facebook, Twitter, LinkedIn, Instagram, YouTube, etc.

Além disso, eles também são responsáveis ​​por analisar e monitorar as estatísticas e resultados das mídias sociais, identificando tendências e oportunidades.

O salário de um profissional de Social Media no Brasil depende da empresa e cargo ocupado. Segundo o site de emprego Catho, o salário médio para esse profissional é de R$ 3.400,00.

Tradutor

A profissão de tradutor exige habilidades e conhecimentos de línguas estrangeiras para traduzir documentos, textos e conversas de um idioma para outro.

O salário de um tradutor no Brasil depende da área de atuação e qualificação profissional. Em média, um tradutor freelancer pode ganhar entre R$20 e R$50 por hora, enquanto um tradutor contratado por uma empresa ou agência de tradução pode receber entre R$2.000 e R$4.000 por mês.

Enfim, as profissões digitais têm se tornado cada vez mais relevantes e indispensáveis na sociedade atual. Com a crescente importância da tecnologia e da internet em nossas vidas, as carreiras relacionadas a essas áreas se destacam como opções promissoras e em constante evolução.

Além disso, as profissões digitais são bastante versáteis e podem ser exercidas em diversas áreas e setores, desde empresas de tecnologia até agências de publicidade e comunicação. A demanda por profissionais qualificados nessas áreas tende a ser alta, o que pode resultar em salários atrativos e oportunidades de crescimento profissional.

Outro aspecto positivo das profissões digitais é a possibilidade de trabalhar remotamente, o que proporciona uma maior flexibilidade e autonomia para os profissionais.

Em suma, as profissões digitais são uma excelente opção para quem busca uma carreira em constante evolução e com boas perspectivas de crescimento. Com a crescente importância da tecnologia em nossas vidas, essas áreas se tornam cada vez mais indispensáveis e promissoras para o mercado de trabalho.

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Democracia e Palavra: lançamento do livro.

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Livro: Democracia e Palavra

Lucio Massafferri Salles*

No próximo dia 16 de março, uma quinta-feira, ocorrerá o evento de lançamento do livro Democracia e Palavra. A Livraria Travessa de Botafogo (Rio de Janeiro) receberá o público a partir das 19 horas, para isso. Os autores desse texto coletivo, projetado para alcançar um público externo à Academia, são Beatriz Porcel, Guilherme Castelo Branco, Fernando Antonio da Costa Vieira, Lucio Massafferri Salles e Luiz Otávio Mantovaneli; todos professores com formação em filosofia.

Lançamento: Democracia e Palavra

A democracia aparece como uma experiência política de decisões coletivas fundadas na palavra e no debate, desenvolvida em Atenas a partir de 500 a.C. Desde então, inicia um caminho que nunca esteve livre de perigos e que foi percorrido por diversas crises, transformações e ataques, na linha do tempo. Seus inimigos invariavelmente buscavam o governo de poucos, fossem eles aristocratas, oligarcas, tiranos ou demagogos.
Essa experiência política estabelecia que os cidadãos gozavam da igualdade das leis (isonomia) e da igualdade do direito à palavra em público (isegoria). E, pelo menos em tese, se as leis são comuns a todos os cidadãos (isonomia) e as leis escritas servem a todos, o pobre e o rico deveriam estar em pé de igualdade nesse aspecto, podendo quem é mais fraco interpelar o poderoso com as mesmas palavras, se for o caso deste insultar aquele, conforme afirma Eurípedes (Suplicantes. 430-438). É a justiça que garantiria isso. Ou, pelo menos, o deveria.

Leia aqui todos os artigos de Lucio Massafferri Salles

Porém, na organização política dessa democracia nascente, havia limitações. Uma delas era a de que as mulheres não tinham o estatuto de cidadãs. O voto e o igual poder da palavra em espaços públicos não lhes eram concedidos, por regra. Oficialmente, havia escravos na democracia, tudo estabelecido por lei, sem o verniz dos dias atuais. Além disso, no âmbito das disputas judiciais, a lei não deixava os cidadãos contratarem outra pessoa para falar por elas diante de um júri, caso fosse necessário. Alguém que fosse denunciado e acusado de algo poderia contratar um outro que conhecesse as leis e que escrevesse bem para lhe preparar uma defesa (escrita); mas era o próprio denunciado quem teria que se defender, em pessoa, no tribunal.
Entre tantos outros, foi esse o caso do livre pensador Sócrates, que acabou sendo condenado à morte, por ingestão de veneno, no processo de cunho político que foi movido contra ele.

O poder da palavra na arquitetura do caos

A Livraria Travessa fica na Rua Voluntários da Pátria 97 (Botafogo – RJ), sejam todos bem-vindos.

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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista. Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU. Criador do Portal Fio do Tempo (YouTube).

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Servidor que barrou joias de R$ 16,5 milhões para Michelle é elogiado: “Conduta exemplar”

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joias michelle bolsonaro

José Benedito da Silva, blog do Maquiavel

Elogiado pelo sindicato dos auditores fiscais da Receita por ter adotado “procedimento padronizado e conduta exemplar”, o servidor da alfândega de 39 anos que reteve um conjunto de joias destinadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em outubro de 2021, atua no órgão como auditor desde dezembro de 2016 e recebe um salário bruto de cerca de 30 mil reais, segundo dados do Portal da Transparência do governo federal.

A atuação do auditor fiscal chamou a atenção desde que o jornal O Estado de S. Paulo noticiou o episódio, na última sexta-feira, 3, e levantou debate sobre a importância de o servidor público gozar de estabilidade no cargo – o que, em tese, favorece sua autonomia e independência.

O auditor reteve os objetos, avaliados em 16,5 milhões de reais, após fiscalização de rotina na bagagem de um ex-assessor do então ministro de Minas e Energia, Beto Albuquerque, quando a comitiva dele voltava de uma viagem à Arábia Saudita. Esse ex-assessor, Marcos André Soeiro, tentou passar na fila de “nada a declarar”, o que é irregular. Todos os viajantes que chegam ao país com itens que superam 1.000 dólares precisam declará-los à Receita e recolher impostos que equivalem a 50% do valor estimado da mercadoria. No caso das joias, como não houve a declaração, ainda era preciso que fosse paga uma multa de 25% para liberar os itens.

Após Soeiro ter o material retido no aeroporto de Guarulhos, o então ministro Bento Albuquerque chegou a voltar à área da alfândega para tentar liberá-lo, alegando que se tratava de um presente do governo da Arábia Saudita para Bolsonaro e sua esposa. O ministro, no entanto, não formalizou na ocasião que os itens seriam incorporados ao acervo da Presidência da República – ou seja, que eles não seriam bens pessoais de Bolsonaro e Michelle. O auditor fiscal, então, manteve a retenção das joias.

Para o vice-presidente do Sindifisco em São Paulo, Fochi Simão, o episódio revela a importância da estabilidade do funcionário público para enfrentar pressões. Segundo Simão, os auditores que atuam em alfândegas – cerca de 2.000 em todo o país – estão acostumados a lidar com situações parecidas com essa. “Ocorrem quase todo dia. Isso se chama exploração de prestígio e pode ser crime”, afirma.

Servidor barrou joias milhões Michelle bolsonaro elogiado Conduta exemplar
Governo Bolsonaro quis trazer ilegalmente joias para Michelle

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Chefe da Receita que tentou liberar joias para Michelle ganhou cargo em Paris

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Julio Cesar Vieira Gomes

Carta Capital

O chefe da Receita Federal, que tentou interferir na liberação de joias dadas como presente à ex-primeira-dama pelo governo da Arábia Saudita, foi indicado para um cargo em Paris pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação é do G1.

Julio Cesar Vieira Gomes, que comandava o Fisco na ocasião, foi nomeado como adido da Receita Federal na França no dia 30 de dezembro de 2022, um dia após tentar recuperar as joias que entraram no Brasil ilegalmente, avaliadas em 16,5 milhões de reais.

Os objetos foram apreendidos com um integrante da comitiva oficial do governo brasileiro ao país árabe. Ele teria dado uma “carteirada” diante do órgão no aeroporto de Guarulhos, mas não conseguiu sair do local com as joias.

A nomeação foi assinada pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão, já que na data Bolsonaro já havia partido para os Estados Unidos.

Outro auditor fiscal suspeito de interferir para liberar os presentes também teria sido nomeado adido da Receita nos Emirados Árabes.

José de Assis Ferraz Neto, então subsecretário-geral da Receita, teria pressionado o corregedor do órgão para não investigar a quebra de sigilo fiscal de desafetos da família do ex-capitão.

A nomeação de Vieira foi cancelada por Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.

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Os quatro poderes

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político

A democracia, mais que um conceito é uma prática. É preciso que algumas condições sejam oferecidas para que um conjunto de indivíduos sintam sua manifesta organicidade.

É uma experiência social relativamente recente a vida democrática. E o que mais sobressai dessa experiência é o envolvimento das pessoas nos processos históricos de sua entronização.

Tomando o caso brasileiro, se considerarmos o envolvimento um dado massivo, ou seja, fora dos engajamentos de grupos que marcaram os últimos anos sob a égide da constituição cidadã de 1988, apenas nos últimos sete anos a mobilização social ampla encontrou na árdua convocação das lutas eleitorais um campo político desse envolvimento.

Os governos gentis no poder a partir de 2002 não foram testados no campo das disputas massivas em cada etapa de seu avanço. O impeachment de Dilma Rousseff é prova da absoluta desmobilização a que estou me referindo.

De fato, apenas com a proximidade da eleição de Jair Bolsonaro as mobilizações se fizeram sentir.  Os contornos mais radicais exigiram envolvimentos grandiosos e a polarização é uma das melhores formas para exercitar as potencializações democráticas. O que era morno até então se torna combustível e clama por vozes mais dissonantes.

Os indivíduos saem de seus lugares de conforto para o de confronto, ávidos por se engajarem nas lutas políticas. E não deixa de ser incrível como a formação ideológica é imediata a partir do momento decisivo da luta. Pessoas comuns se engrandecem diante de formadores de opinião e de legisladores de botequim. Pautados por um cálculo válido e misterioso, escolhem a bandeira como um avatar e saem às ruas em estados de defesa e de ataque continuados. A mobilização é emergente e está sempre carregada de uma energia poderosa, colhendo cada vez mais partícipes da jornada política democrática. E apenas na democracia isso é possível. Nos estados de exceção, os grupos cumprem essa função de modo pífio, ordenado e localizado, incapaz de contaminar os demais.

quatro poderes

De modo que as jornadas democráticas, usualmente, são acompanhadas de letargias mentais, tornando a aparência democrática coisa de tolo.

Nesse sentido, a arquitetura democrática acompanha os momentos letárgicos sem entusiasmo. Essa estrutura foi imaginada como um jogo de tensões que, sem elas, fortificam apenas os esboços de sua elevada curvatura.

São quatro os poderes para a tensão: o poder executivo, o legislativo, o judiciário e o midiático. Há pouco a fazer quando a normalidade democrática corre nos trilhos seguros das disposições transitórias.

Nesses períodos a gentileza é a marca das relações entre eles. Como se ninguém quisesse tensionar além do necessário. O governo de plantão submete ao legislativo as demandas sempre aceitáveis de tal sorte que o referendo, seja qual for, preserve a calma parlamentar.

As estruturas legais cumprem seus rituais a contento e o judiciário decreta suas prédicas sem distúrbios.

Os indivíduos pouco ouvem falar desses poderes em seu cotidiano amornado pela continuidade conservadora. Vivem suas vidas longe dos corredores parcimoniosos por onde circulam os agentes do poder. Eventualmente um escândalo chama atenção para que a figura do político se perpetue como um prosaico agente de corrupção que logo desaparece, permanecendo apenas como um lembrete de que a política não vale a pena ser pensada.

A grande maioria das pessoas não sabem como funcionam essas estruturas e nem se interessam, desde que suas vidas possam passar ao largo das diatribes siderais das esferas do poder vigente.

Todavia, esse estado de letargia comunal pode ser revolvido de modo a que os indivíduos se mobilizem para a grande luta democrática que está ali, disponível nas estruturas criadas para esses momentos históricos. É quando tudo deve fazer sentido, no fervor radiante das lutas.

Karl Marx foi um dos principais teóricos desses momentos ao analisar o ímpeto revolucionário na França de 1789. Foi percebendo como uma força primária tinha combustível para ir até um certo ponto e depois refluía, mas era superada por outro grupo, que levava o conflito a níveis ainda mais densos e também esses seriam superados por outros, até que, naquele caso específico, forças conservadoras surgiram para reduzir o ímpeto e anular no momento exato o furor, antes que o estágio desejado fosse historicamente superado também por forças mais primitivas, indesejadas para o motor virtuoso e positivo da história.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

Mas não é necessário que o movimento emergente da política seja revolucionário para percebermos como as instancias democráticas funcionam nos momentos mais intensos do engajamento político massivo.

A polarização como estamos vivenciando agora é um desses momentos raros na história recente da democracia. É quando todos os discursos mornos dos porta vozes da democracia serão testados para o espetáculo de uma verdadeira conjunção de respostas legais ou ilegais para sua manutenção.

É quando as questões mais insidiosas da experiência democrática vêm à tona com sua face tirânica em nome justamente da democracia sempre reivindicada, como uma abstração que requisita para si o ordenamento social necessário e suficiente de um discurso finalista e igualmente positivo.

A escatologia contida no termo democracia reside justamente em que não é possível superá-la, não havendo nada além dela própria. E como não há nada além dela, nela precisamos realizar todas as possibilidades, inclusive amortecendo as tensões que poderiam nos convencer de que ela não é capaz de suprir suas promessas de estabilidade indefinidamente.

Disse um dia Winston Churchill que “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”. A frase já foi tantas vezes citada que perdeu a originalidade, mas, ainda assim, continua a ser das melhores para usar na hora de defender as virtudes (ainda que refletindo sobre a falta delas) dos sistemas políticos ocidentais.

Parece haver essa espécie de consenso de que não existe nada além da democracia e isso pode ser perturbador, pois ao ser contido nela todas as possibilidades, resta um reordenamento no interior de seus dispositivos democráticos para suprir suas próprias deficiências.

Se a independência dos poderes regula os tempos de paz interna, com a polarização intensa os conchavos precisam garantir que um grupo prevaleça sobre o outro. É o momento de inflexão dos ordenamentos institucionais para um locus totalitário. O consenso não pode ser perdido, nem mesmo em nome dos discursos que sustentam a voz democrática.

Então os arranjos procuram alinhar com a força subterrânea os quatro poderes numa linha de pura dependência. Ninguém pode sair fora desse alinhamento.

Vivemos agora exatamente esse momento. O poder executivo precisa do suporte do legislativo, principalmente do senado e também da câmara. Aí se decide o que pode ou não ser votado, o que deve ser legislado. Então o presidente do Senado precisa responder ao presidente da nação com uma voz obediente, acompanhado do presidente da câmara dos deputados. Esse alinhamento dos poderes fundamentais não pode ficar a descoberto se o judiciário não conter eventuais ataques ao grupo hegemônico. O presidente do Supremo é o alinhamento fundamental da ordem inquestionável. Resta o quarto poder, a fonte onde o controle das narrativas ganha legitimidade. No cenário atual, a Rede Globo cumpre exemplarmente essa função, reduzindo quase todas as alternativas externas a ela a um balbucio.

Quando esse alinhamento se realiza completamente, já não há mais prática democrática de direito, e só por ficção se mantem o ordenamento político. Os indivíduos e seus clamores não silenciam, pois a dicotomia do grupo massivo é parte do jogo ficcional da democracia teórica e no aceite da hegemonia constitucional vigente.

Apenas num outro momento histórico essa situação se realiza: nas ditaduras, pois o executivo silencia por força das armas, o legislativo, o judiciário e a mídia, manifestando um pensamento único que precisa se tornar pedagógico.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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Democracia “de araque”

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Democracia araque camara deputados congresso arthur lira
Dep. Arhur Lira, presidente da Câmara dos Deputados (Imagem: Valter Campanato | ABr)

Anderson Pires*

O Brasil precisa debater com seriedade seu modelo de democracia. Após um longo período de ditadura, de 1964 a 1985, passamos por uma transição com a anistia ampla, geral e irrestrita, seguida por uma eleição indireta para presidente e a assembleia constituinte que resultou na Constituição de 1988.

Em meio ao cenário tenebroso que vivemos por mais de duas décadas, qualquer mudança que parecesse nos livrar da ditadura e construir bases democráticas era vista como grande avanço. Porém, o processo pós ditadura deixou uma série de armadilhas que poderiam ser utilizadas pelos “democratas” que protagonizaram a reabertura no Brasil.

Os erros são muitos. Podemos começar pelo processo de anistia que colocou no mesmo patamar torturados e torturadores. Foi algo idêntico a absolver um estuprador, porque o ambiente era propício a prática do estupro. O Coronel Brilhante Ustra homenageado por Bolsonaro por ter torturado a presidente Dilma Rousseff, foi considerado tão inocente quanto qualquer jovem que lutou contra ditadura e foi submetido a sessões de tortura pelos militares.

A opção permissiva de saída da ditadura rende até hoje, com manifestações golpistas, apologia à tortura, crimes políticos e defesa do fechamento do Supremo e Congresso Nacional. As instituições brasileiras foram coniventes quando não tomaram medidas cabíveis. O exemplo mais notável é o do próprio Bolsonaro, que durante 30 anos como parlamentar sempre fez apologia a ditadura, ao ponto de ter no mural do seu gabinete fotos de colegas deputados federais com os seguintes dizeres: “se a ditadura fosse tudo que dizem, essa corja não estaria viva”.

Preferiram a omissão, como se fosse apenas um devaneio sem repercussão. Caberia perda do mandato e prisão. Certamente, serviria de exemplo para que o país entendesse, que apesar da complacência da anistia, esse tipo de crime não seria mais tolerado. O que parecia um gesto insignificante de um deputado, resultou na sua eleição para presidente, seguido por todos os absurdos e crimes que promoveu no cargo.

Mas as armadilhas à democracia brasileira não param no erro histórico. Os herdeiros da ditadura, construíram um modelo político capaz de perpetuar distorções. Temos um regime presidencialista refém do Congresso. As regras eleitorais gestadas na Constituição de 1988 permitem que a composição da Câmara dos Deputados seja desconectada da eleição para presidente. Isso deveria ser algo bom, mas, na prática, virou algo preocupante. Visto que, se for conveniente aos deputados, podem inviabilizar governos e destituir o presidente, mesmo sem amparo legal.

Essa mesma Câmara de Deputados que tem Arthur Lira como presidente foi responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff. Naquela oportunidade, o presidente da Câmara era Eduardo Cunha, que foi preso por corrupção e, agora, elegeu a filha deputada. Inclusive, foi beneficiária do dinheiro que o pai roubou. Não se pode imaginar que os intuitos mudaram se os atores são os mesmos ou ainda piores.

A proporcionalidade que temos no Congresso Nacional, em nada reflete as partes da sociedade brasileira. Por qualquer viés que se observe, do ideológico ao étnico, temos um conjunto de parlamentares que refletem a desigualdade no Brasil. Consequentemente, os interesses que defendem são os seus.

Clique aqui para ler todos os textos de Anderson Pires

O Brasil está refém de uma democracia capenga. Basta verificar que os parlamentares são eleitos sem nenhum compromisso ideológico ou social. No modelo que temos hoje, os deputados federais são eleitos no primeiro turno. Na sua grande maioria sem um vínculo programático com as eleições majoritárias. Tanto que, após serem eleitos, tomam os caminhos no segundo turno que lhes pareçam mais convenientes. É comum encontrar parlamentares eleitos por partidos que apoiaram Bolsonaro, apoiarem Lula no segundo turno ou após a eleição assumirem o apoio para quem foi eleito presidente.

Isso é feito sem um alinhamento político verdadeiro. O que se tem é uma acomodação de interesses, fazem opção pelo acordo entre partes. Trocam-se votos no Congresso por facilidades para liberação de verbas pelo executivo. Porém, caso os deputados resolvam que a parte que lhes cabe deverá ser maior, restará o embate, chantagem e até impeachment do presidente.

Parece absurdo. Afinal, o presidente foi eleito pela maioria, como podem os deputados manipularem essa vontade, ao ponto de termos um governo que não reflete os anseios populares, mas sim um grande acordo político. Isso é fruto dessa aberração democrática que é o Brasil.

Diversas reformas no país já foram feitas. Algumas pequenas maquiagens, que chamaram de reforma política. Porém, nunca mudaram efetivamente a legislação que trata dos partidos e instâncias partidárias. Tanto que temos exemplos de presidentes de partidos, que mesmo presos continuaram comandando as legendas. É o caso de Roberto Jeferson e Valdemar Costa Neto.

Os partidos têm estruturas cartoriais, que não permitem processos de renovação, alternância e quebras de oligarquias. Os processos de escolha dos dirigentes são feitos de forma restrita para que o controle fique mais fácil, muitas vezes, com colegiados formados por familiares e amigos.

São essas estruturas que dão origem a nomes como Arthur Lira, Eduardo Cunha e tantos outros ícones do lobby parlamentar, que atuam como instrumentos de interesses particulares e grupos empresariais em detrimento da democracia e da vontade popular.

Recentemente, Arthur Lira fez uma ameaça ao presidente Lula em relação as dificuldades que teria para aprovar matérias simples no Congresso. O presidente da Câmara deu a entender que Lula está na mão do grande arranjo que montou na Câmara dos Deputados e que se quiser governar, terá que entregar uma gorda fatia do executivo para servir aos interesses de Lira e dos seus.

Alguém pode dizer, assim é a democracia, a maioria dos deputados tem direito de impor seu posicionamento em relação ao presidente da República. Mas qual posicionamento? Alguém sabe dizer o que os parlamentares ligados a Arthur Lira pensam e defendem? Quais são as opiniões sobre os temas mais importantes para a população brasileira? A população votou nele porque ele defendeu a manutenção da taxa alta de juros, a permanência das reformas trabalhista e previdenciária que tirou direitos do trabalhador? Não. Em momento algum, esses deputados fazem o debate público durante a eleição sobre os temas que agora querem ditar a decisão.

Essa turma que hoje defende os interesses do mercado com discurso de responsabilidade fiscal e estabilidade econômica, destinaram bilhões e bilhões para o orçamento secreto, obras e ações sem qualquer planejamento que servisse a algum objetivo estratégico do país. Usaram dinheiro público para distribuir em suas bases eleitorais, de forma sabidamente corrompida, como tantos exemplos atestam. Basta dizer que, em um dos casos, destinaram dinheiro para extrair praticamente todos os dentes da população de uma cidade no Maranhão.

O Brasil que está prestes a encaminhar a reforma tributária, terá como condutor essa Câmara dos Deputados. Todos os deputados propagam a necessidade de reduzir impostos, mas não dizem como a conta irá fechar. Para o pobre pagar menos sobre o consumo não se pode continuar isentando lucros, dividendos e grandes fortunas ou cobrar percentuais baixos sobre a propriedade.

O liberal brasileiro que gosta de utilizar os Estados Unidos como modelo de tributação para o consumo, não revela que lucros, dividendos e o equivalente ao nosso ITBI podem chegar a 30%. Afinal, quem ganha com especulação, seja financeira ou imobiliária, tem que pagar impostos por isso. São esses poucos privilegiados que concentram toda riqueza do Brasil. Só teremos mudanças quando começarem a pagar a conta.

Entretanto, pouco se pode esperar. Assim como foi com as reformas trabalhista e da previdência, que condenou trabalhadores a morrerem antes de se aposentar, a reforma tributária conduzida pelo Congresso atual pode agravar as distorções e a desigualdade econômica que perdura no Brasil. A democracia de araque desenhada pós ditadura deixou brecha para que arbitrariedades fossem feitas travestidas de atos democráticos.

*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.

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Enfezados

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político
Viver no tempo dos enfezados é estranho e bizarro.

A sensibilidade atual é causa de intolerância e seriedade excessiva. As pessoas têm à disposição mecanismos para ampliar a sensibilidade e ao mesmo tempo para arremessar sobre o próximo que ousa perturbar seu equilíbrio precário.

Todo mundo anda ou pisando em ovos ou atirando pedras jurídicas em seus semelhantes. Uma palavra é suficiente para destruir a paz.

A ciência descobriu que existem redes de neurônios dos intestinos. Não é de se estranhar que os enfezados tenham aumentado em número e em grau.

Certamente pensam em meio a muita merda. Daí que a intolerância acompanha o pensamento. Pensar se tornou um ato de guerra.

Em algumas culturas, é bem verdade, o cérebro está nos intestinos. Na antiga China a barriga pronunciada era sinônimo de inteligência e sabedoria. Entre os aborígenes australianos a barriga guarda os segredos auráticos.

Não se engane, os chineses dentre outros, sabiam o que só agora os cientistas estão a descobrir.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

Uma das redes de neurônios mais vastas e importantes do corpo é o sistema nervoso entérico, que se aloja justamente na barriga.
O que nos convida a refletir sobre a natureza do pensamento. Se considerarmos a trajetória individualista na modernidade, certamente devemos reconhecer que a degradação dos últimos quinhentos anos, moral, ambiental, científica, educacional e desrespeitosa com todas as outras formas de vida têm muito a ver com essa rede neuronial entérica. A soberania humana ancorada na razão só fez merda.
Infelizmente, o termo enfezado tem outra origem. À época da escravidão, as cidades mais urbanizadas como o Rio de Janeiro ou Salvador, com grande população escrava e que ficaram conhecidas como cidades negras, não tinham rede de esgotos.
Nas casas, o uso de urinóis substituía a ausência de banheiros, que só no final do século XIX começariam timidamente a compor as casas mais chiques. O conteúdo dos urinóis era esvaziado cotidianamente.
Os coletores desses vasos eram conhecidos como escravos tigres. Passavam anunciando as descargas, carregando sobre as cabeças os tonéis onde os moradores iam despejando suas merdas.
Todavia, antes do descarte no mar, o conteúdo extravasava e se derramava sobre as cabeças e os corpos dos escravos, que iam seneo manchados de excrementos, parecendo as listras dos tigres.
E quando mais transbordava o conteúdo, mais enfezados ficavam os tigres.
Hoje, a sensibilidade excessiva dos militantes os faz reviver esses enfezamentos. Escorrem sobre a pele as fezes da ignorância e do despudor mais indigente.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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OVNIs observados recentemente podem ter exibido “anomalias da física”, afirmam cientistas

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OVNIs observados podem ter exibido anomalias física cientistas
Imagem: Departamento de Defesa dos EUA

Danielle Cassita, Canaltech

Os OVNIs (sigla para “objeto voador não identificado”) observados recentemente teriam desafiado as leis da física e, ainda, objetos interestelares seriam capazes de liberar sondas no Sistema Solar. É o que propõem Avi Loeb, físico da Universidade de Harvard, e Sean Kirkpatrick, diretor do Escritório de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios, em um artigo preliminar divulgado no início do mês.

O texto traz especulações sobre como e por quê formas de vida extraterrestres viriam para o Sistema Solar, e discute possíveis processos físicos envolvidos no processo. Resumidamente, a fricção gerada pelos fenômenos aéreos não identificados (ou “UAPs”, sigla normalmente usada por cientistas e oficiais dos Estados Unidos para descrever estes objetos) com o ar ou água nos arredores deveria ter gerado fenômenos ópticos, como uma bola de fogo e um envelope de ionização.

Depois, a ocorrência destas formações deveria gerar emissões em ondas de rádio, mas nada do tipo foi observado. Para eles, isso não significa que as possíveis naves espaciais alienígenas seriam formadas por algum material desconhecido para os humanos, mas sim que falta sensibilidade nos instrumentos disponíveis atualmente, que não seriam capazes de identificar as assinaturas.

Leia também: Astrônomos avistam “óvnis cósmicos” e “fantasmas” por todo o céu da Ucrânia

Ainda no artigo, os autores relembram a passagem do objeto interestelar Oumuamua e do meteoro interestelar IM1, e levantam a possibilidade de que objetos interestelares sejam como “naves-mãe” capazes de liberar várias sondas pequenas durante passagens perto da Terra. O mecanismo de liberação das sondas seria parecido com aquele dos dentes-de-leão, que soltam várias sementes no ar de uma só vez.

Vale lembrar que Loeb rendeu uma série de controvérsias quando o assunto são possíveis seres extraterrestres e as origens de objetos interestelares — basta relembrar que, enquanto os astrônomos tentavam determinar as propriedades de Oumuamua, Loeb especulou que, na verdade, o objeto seria uma espécie de veleiro espacial alienígena, sendo que não haviam evidências da natureza artificial dele.

“As observações típicas de UAP estão longe demais para permitirem imagens definidas do objeto, e a determinação do movimento dele é limitada pela falta de dados de alcance”, acrescentaram. Eles destacam que, caso algum dos fenômenos tenha origem extraterrestre, há limites práticos para a interpretação dos dados observados e medidos, como resultado de restrições físicas.

Relembre: Bolsonaristas pedem socorro a alienígenas em Porto Alegre

O artigo foi disponibilizado no repositório da Universidade de Harvard, sem revisão de pares.

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Sergio Moro foi salvo de atentado porque autoridades fizeram o contrário do que ele defende

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Sergio Moro salvo atentado autoridades fizeram contrário defende
Imagem: Waldemir Barreto | Agência Senado

Josias de Souza, em seu blog

Certas coisas precisam avançar na base do vai ou racha. Outras têm que ir mesmo quando já estão rachadas. É o caso da guerra em que um Estado esculhambado tenta enfrentar um crime cada vez mais organizado. Na investigação que desmontou o plano do PCC para executar autoridades como o promotor paulista Lincoln Gakiya e o senador Sergio Moro, o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Federal iluminaram o caminho. Nesse episódio, o Estado prevaleceu sobre o crime usando duas armas letais: inteligência e parceria.

Valendo-se da inteligência, o MP paulista interceptou mensagens do PCC e escutou uma testemunha. Farejou dois planos do braço operacional da facção, chamado de Sintonia Restrita. O Plano A previa a libertação do chefão Marcola. O Plano B envolvia homicídios e extorsão mediante sequestro. Ambos foram desbaratados.

Quando o nome de Moro e dos seus familiares surgiram na investigação, a PF exibiu comportamento de mostruário. Agiu como instituição de Estado, não de um governo presidido pelo principal antagonista do alvo dos criminosos.

Salvo pelo setor de inteligência, Moro escalou a tribuna do Senado para defender o uso da força. Esgrimindo um projeto que prevê o agravamento de penas, declarou: “Se eles vêm para cima com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles têm metralhadora, nós temos que ter um tanque“.

Foi a primeira oportunidade de Moro para exibir alguma serventia como parlamentar. Revelou-se inútil. Não notou que a força se torna impotente quando falta método e jeito no combate ao crime organizado.

Como ministro da Justiça de Bolsonaro, um presidente com vínculos milicianos, Moro endossou a política armamentista e o vale-tudo policial do chefe. Cumprindo ordem judicial, abriu as portas de presídios federais para Marcola e outros criminosos. Deixou o governo acusando o chefe de interferência na Polícia Federal.

Relembre: A íntegra do discurso de Sergio Moro ao anunciar demissão

No Senado, a sede de holofotes levou Moro a exagerar no autoelogio. Na hora dos agradecimentos, excluiu da lista o governo federal e o ministro Flávio Dino, da Justiça. Moro não perde a oportunidade de perder oportunidades.

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Estudante brasileira é aprovada em 11 universidades dos EUA após redação sobre feijoada

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redação feijoada

Uma estudante brasileira conseguiu ser aprovada em 11 universidades nos Estados Unidos após escrever uma redação sobre a feijoada — prato tipicamente brasileiro e que evidencia parte da diversidade cultural do país.

Sofia Rosa, de 17 anos, disse que a redação é um dos pilares para o processo de candidatura nas faculdades dos EUA. A adolescente observou que a analogia é um artifício importante para contar sua história e mostrar seus valores.

“Escolhi esse tema por achar que me representa. A combinação de ingredientes, que por muitos anos foram desvalorizados ou deixados de lado, forma algo único e autêntico. Essa analogia representa meu processo de auto aceitação e amor próprio. Por mais que durante os anos eu tenha desprezado características minhas, elas são essenciais para a formação da pessoa que eu sou hoje,” conta a jovem.

A ligação com a culinária vem de família, principalmente da avó. A filosofia da casa é que, enquanto se cozinha, pode-se encontrar meios de criar e superar desafios. E este aprendizado Sofia leva para a vida. Foi essa a lição valiosa que a garota usou para iniciar a vida acadêmica.

Em seu texto, a moradora do Brasília (DF) detalha a história do prato, citando o triste período escravocrata do Brasil. A jovem explica que a feijoada era preparada por e para escravizados, somente com o que restava da carne dos porcos servida aos colonizadores.

Sofia faz analogias, do preparo da feijoada com seu crescimento pessoal, como ser humano. “Eu tive de aprender quando parar e a definir limites, exatamente como no preparo da feijoada”.

“Todo mundo estranha quando falo o tema da redação. ‘Como assim falar de feijoada em redação acadêmica?’ Mas todos que leem ficam surpresos com o desfecho dela”, conta Sofia.

Ao todo, a estudante fez 18 aplicações, mas algumas instituições de ensino ainda não divulgaram o resultado da candidatura. Sofia aguarda a resposta de todas universidades para decidir para qual irá. Apesar disso, o destino provável é a Flórida, onde os pais poderiam visitá-la mais vezes.

A seguir, leia a íntegra da redação:

“Feijoada

In Portuguese, feijoada derives from the word “feijão” – bean. Brazilians eat beans every day, but feijoada is something special. One of the most typical foods in Brazilian history. Crucial for good old family meetings on Saturdays. The delicious smell of braised sausages, my mom’s laughter as I fail to samba, and to listen to the best thing any grandmother can say: Food is ready! This dish tells many stories, including my own. Back when Brazil was still a colony, enslaved people would cook beans with the only meat they had access to, the dismissed pork parts. Nowadays, it is paramount that a well-made feijoada must have these ingredients. They give an exceptional taste and make it unique.

Sensitivity, as those leftovers, for many, may be considered useless. However, it can add a whole new flavor when properly nurtured. For years I blamed myself for being too intense. I thought it made me look fragile. Occasionally, whenever I had a crisis, my dad – also a sensitive person – would advise me that crying helped us gain strength and overcome any difficulty. Owing to him, I learned to be proud of my sensitivity. It is part of my personality and doesn’t make me weak.

Cooking feijoada could be considered a form of art. Not only for all the mixed ingredients but also for the process it takes. You must know when to start and when to end it. It is usual for a 15-year-old girl not to master this art quite yet. My English teacher needed help creating social media content to sell online classes, and I volunteered as a freelance marketing consultant and media creator – a fancy name that I didn’t know back then. So I dived into the world of advertising and fell hard for it. With my teacher’s support, I started studying the power of verbal and non-verbal communication and understanding its importance for small and global businesses.

By the time I got to my senior year, managing school and work was hard, but I still hadn’t felt that burning smell. Strict schedules helped me cope with finishing my daily tasks and working for more clients. But the Brazilian educational system requires advanced knowledge of various subjects, which turned work into a much more challenging assignment at that moment. And there was the smell. I was overcooking. I had to learn when to stop and set boundaries, just like when timing feijoada. Sometimes there’s too much on your plate, and I realized that you must prioritize what’s most vital for yourself without compromising life’s true flavor.

An excellent feijoada must have its seasoning – all kinds of pepper, bay leaves, fresh chives, and garlic. As the little things that make life worth living. Happiness doesn’t come only from significant events or achievements. Sure, those are awesome. But to notice the minor happenings in daily life is priceless – the smell of damp soil when the rain comes after a long drought. Ace a difficult test. To hear your grandma call for your favorite meal.

Like beans build the foundation of feijoada, the meat and the seasoning form its essence. Sometimes, life can bring up what seems unimportant, but now I know that even a pinch can be fundamental, and I have learned to embrace every part of my personality. Today, I understand the value of each ingredient in this dish, every piece of me that makes me extraordinary, and I am keen to say:

Food is ready.”

EM PORTUGUÊS:

“Feijoada

Em português, feijoada deriva da palavra ‘feijão’ . Brasileiros comem feijão todos os dias, mas feijoada é algo especial. Uma das comidas mais típicas da história brasileira. Crucial para as boas e velhas reuniões de família aos sábados. O cheirinho gostoso de linguiça braseada, a risada da mamãe enquanto eu deixo de sambar, e de ouvir a melhor coisa que qualquer avó pode dizer: A comida está pronta!

Este prato conta muitas histórias, inclusive a minha. Quando o Brasil ainda era um colônia, os escravizados cozinhavam o feijão com a única carne a que tinham acesso, as peças de porco descartadas. Hoje em dia, é fundamental que uma feijoada bem feita tenha esses ingredientes. Eles dão um sabor excepcional e o tornam único. A sensibilidade, pois essas sobras, para muitos, podem ser consideradas inúteis. No entanto, pode adicionar um sabor totalmente novo quando devidamente nutrido.

Por anos eu me culpei por ser muito intensa. Eu pensei que me fazia parecer frágil. Ocasionalmente, sempre que eu tinha uma crise, meu pai – também um pessoa sensível – me aconselhava que chorar nos ajudava a ganhar força e superar qualquer dificuldade. Graças a ele, aprendi a ter orgulho da minha sensibilidade. Faz parte da minha personalidade e não me torna fraca.

Cozinhar a feijoada pode ser considerada uma forma de arte. Não só por todos os ingredientes misturados, mas também pelo processo. Você deve saber quando começar e quando terminar. É normal para uma menina de 15 anos ainda não dominar esta arte.

Meu professor de inglês precisava de ajuda para criar conteúdo de mídia social para vender aulas on-line e eu me ofereci como freelancer consultor e criador de mídia – um nome chique que eu não conhecia na época. Então, eu mergulhei no mundo da publicidade e me apaixonei por ele. Com o apoio do meu professor, comecei a estudar o poder da comunicação verbal e não verbal e a compreender sua importância para os pequenos negócios e negócios globais.

Quando cheguei ao meu último ano, administrar a escola e o trabalho era difícil, mas ainda não sentia ‘aquele cheiro de queimado’. Horários rígidos me ajudaram a terminar minhas tarefas diárias e trabalhar para mais clientes. Mas o sistema educacional brasileiro exige conhecimento avançado de várias disciplinas, o que tornava o trabalho uma tarefa muito mais desafiadora naquele momento. E havia o cheiro. Eu estava cozinhando demais. Eu tive que aprender quando parar e definir limites, assim como na hora da feijoada. Às vezes há muito em seu prato, e eu percebi que você deve priorizar o que é mais vital para si mesmo sem comprometer o verdadeiro sabor da vida.

Uma excelente feijoada deve ter seu tempero – todo tipo de pimenta, louro, cebolinha fresca e alho. Como as pequenas coisas que fazem a vida valer a pena. A felicidade não vem apenas de eventos ou realizações significativas. Claro, esses são incríveis. Mas notar os menores acontecimentos da vida cotidiana não tem preço – o cheiro de terra úmida quando a chuva vem depois de um longo seca, um teste difícil, ouvir sua avó pedir sua refeição favorita.

Assim como o feijão é a base da feijoada, a carne e os temperos formam sua essência. Às vezes, a vida pode trazer à tona o que parece sem importância, mas agora sei que até mesmo um beliscão pode ser fundamental, e aprendi a abraçar cada parte da minha personalidade. Hoje eu entendo o valor de cada ingrediente desse prato, cada pedaço de mim que me faz extraordinária, e estou ansiosa para dizer: A comida está pronta.”

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“Decepção” de Paulo Coelho mostra como a noção de tempo foi alterada pelo atual estado de urgência

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Decepção Paulo Coelho mostra noção tempo alterada atual estado urgência
(Imagem: Getty)

Matheus Pichonelli, TAB

Paulo Coelho provavelmente nunca escreveu um livro em menos de 90 dias, mas não esperou três meses para jogar a toalha das expectativas em relação ao governo Lula (PT), para quem fez campanha na disputa contra Jair Bolsonaro (PL), em 2022.

A seus mais de 15 milhões de seguidores no Twitter ele escreveu que o novo mandato do petista “está patético”.

Cuidou, é verdade, de usar o presente do indicativo. Com mais de 320 milhões de livros vendidos, Paulo Coelho sabe a diferença entre “ser” e “estar” — e deixava entreaberta a possibilidade de mudança. Do governo e de sua avaliação.

Para o autor de “O Alquimista”, Lula pecou ao “cair na trampa” do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), a quem chamou de “ex-juiz desqualificado”, e por se mostrar incapaz de “resolver problema do BC”, em referência à guerra declarada contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Eram razões suficientes para Paulo Coelho dizer que não devia ter se empenhado como se empenhou na campanha do petista. “Perdi leitores (faz parte) mas não estou vendo meu voto ter valido a pena.”

O tuíte, que teve grande alcance e provocou debates até aqui respeitosos, com intelectuais e influencers, mostra como a noção de tempo foi alterada pelo estado de urgência da contemporaneidade.

Quem votou em Lula votou com a esperança de que um novo dia de um novo tempo se iniciasse tão logo ele subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado por representantes das populações mais escrachadas por Bolsonaro em sua gestão. A começar pelos povos indígenas, a quem Lula estendeu a mão em seus primeiros dias como presidente, denunciando e travando o extermínio contra milhares de yanomamis impactados pelo garimpo em Roraima.

Com pressa, Paulo Coelho não é o primeiro que ameaça apertar o botão da desistência, embora o livro sobre o novo Lula 3 seja uma obra em fase de rascunho.

Agentes do mercado, que viram em Lula uma perspectiva menos desastrosa do que os anos de beligerância sob Bolsonaro, já dão sinais de impaciência desde o primeiro dia. E aliados, como o senador Cid Gomes (PDT), já fazem alertas sem meias palavras sobre as chances de Lula ser levado para o “buraco” se fizer o jogo do centrão. Um dos alvos escolhidos foi o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Dias antes o ex-governador do Paraná Roberto Requião (PT) já havia mandado recados ainda mais duros.

Mas não está cedo para tanto desconforto?

A resposta é complexa.

Em condições normais de pressão e temperatura, 90 dias seriam um nada para as estruturas do edifício começarem a se assentar. Mas a dinâmica das comunicações em rede transforma esses passos iniciais em uma eternidade — ao menos para quem esperava alguns sinais definitivos de que daqui para frente tudo será diferente.

O “nem tudo” é que são elas.

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No latifúndio político da distância entre expectativa e realpolitik, eleitores de Lula convictos e outros nem tanto se surpreendem com a resiliência de impasses que não se resolveram por pensamento mágico ou boa vontade quando Bolsonaro pegou o avião e se mandou para os EUA.

Muita gente apostava (eu inclusive) que o ex-presidente estava condenado à irrelevância a partir de então. E que o próprio corpo político, não apenas as alas progressistas da conversa, já teriam a essa hora chegado a um consenso sobre os riscos e perigos à própria sobrevivência representados pela máquina bolsonarista ora adormecida. Sobretudo após o 8 de janeiro.

Mas Bolsonaro e sua família seguem recebendo atenção até mesmo quando alguém do clã espirra. Como participantes de um reality show, seus passos, palavras e até figurinos são acompanhados com interesse e repercussão.

Hoje a curiosidade gira em torno da data em que o ex-presidente voltará ao Brasil. Em breve será sobre o que ele pensa em relação a vacinas e doenças sexualmente transmissíveis.

É que não só a viabilidade eleitoral de Bolsonaro como também as condições que o levaram ao poder seguem pairando como alma penada em cada pacto mal formulado da sociedade brasileira.

O ambiente de crise institucional não saiu de cena sem seu agente do caos por perto.

Prova disso é que os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), travam neste momento uma briga fratricida em torno dos ritos das medidas provisórias, suspendendo a análise de projetos-chave do governo, que segue refém de criadores de instabilidade no atacado. São os mesmos que vendem facilidades no varejo.

Sob Lula, o centrão não dança no miudinho como esperavam os apoiadores do atual presidente. Pelo contrário: dá as cartas e emplaca aliados em postos-chave.

Na peleja, chama atenção o engajamento de Pacheco, reeleito presidente do Senado com o apoio de Lula, para emplacar mudanças no rito do impeachment de autoridades. Parece (e é?) uma vacina contra eventuais tentações golpistas que habitam do outro lado da rua.

Nos primeiros dias de mandato, Lula descobriu que não há versão paz e amor nem promessa de pacificação com juros a 13,75% ao ano administrados pela autoridade monetária escolhida a dedo pelo seu antecessor. A briga entre o Planalto e o Banco Central, que muitos leram como um atentado contra a autonomia da instituição, é só um indício de que a temperatura seguirá elevada por muito tempo — ao menos até a próxima ata do Copom.

Da mesma forma, a relação de Lula com as igrejas evangélicas não foi pacificada depois de sua eleição, como muitos apostavam. A hesitação inicial entre apoiar ou não o presidente a quem pintaram como o diabo ficou no passado: o que não faltam hoje no Brasil são pastores pintados para a guerra santa.

Lula assumiu o governo com margem estreita de votos e sabe que não pode errar. A briga desnecessária com Sergio Moro (e com os fatos, ao dizer que o ex-juiz armou um plano para se dizer vítima de facções criminosas) instigou opositores e desagradou eleitores como Paulo Coelho. São eleitores que, ansiosos e cansados de ouvir “faz o L” a qualquer tropeço, esperavam do presidente um pouco mais de habilidade a essa altura do campeonato.

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Depoimento de Flávio Dino representou o triunfo da Política sobre a ignorância e oportunismo

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flávio dino ccj
Flávio Dino (Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Miguel do Rosário, em O Cafezinho

Uma das desgraças mais amargas que se abateu sobre a sociedade brasileira, nos últimos anos, foi a hegemonia do sentimento antipolítica. Não há civilização, dignidade humana, paz e, sobretudo, democracia, sem que a Política, com P maiúsculo, seja respeitada como o único instrumento pelo qual os seres humanos resolvem seus dilemas e conflitos.

Entretanto, para que a política ocupe esse lugar central no debate público, é necessário um entendimento mínimo entre as pessoas. Esse entendimento pressupõe, sobretudo, a disposição de ouvir o argumento contrário, com benevolência e imparcialidade.

Mas não apenas isso. A Política se materializa no discurso, em texto, gesto, voz, do cidadão. Sem esse ato de comunicação, ela ainda não pode ser considerada como um fenômeno político. Antes da comunicação, a Política é apenas uma ideia, sem o incrível poder de transformar o mundo, poder que ela adquire sempre que escapa do silêncio do espírito e ganha vida.

Para que ela, a Política, deixe de ser apenas uma ideia, e se torne o que ela é, um poder, ou seja, para que dê à luz a si mesma, é necessário coragem, integridade e clareza.

Para nascer, portanto, a Política precisa de um ser humano digno de sua paternidade. Ecce homo. Nesta terça-feira 28 de março de 2023, assistimos ao depoimento de Flavio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, com o prazer com que, outrora, atenienses ouviam Demóstenes.

Entretanto, seria um grande erro atribuir o sucesso de Flávio Dino, durante a Audiência na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), apenas à sua virtuose retórica. Ou antes, é sempre bom recordar a lição de Aristóteles, em sua Arte da Retórica, de que “aquilo que é verdadeiro e naturalmente melhor presta-se melhor ao silogismo e está mais sujeito à persuasão”. Ou seja, apesar da política ter a má fama, infelizmente com razão, de abrigar uma variedade imensa de picaretas, capaz de inventar e mentir com a facilidade de quem bebe um copo d`água, a “vantagem estratégica” de estar ao lado da verdade e da justiça é sempre um trunfo importante.

É o caso de Flavio Dino. O que ele fazia na Audiência da CCJ? Quais os pontos vulneráveis de sua gestão que a oposição poderia atacar? Dino já sabia quais eram, e veio armado até os dentes com argumentos tão poderosos quanto simples.

O deputado federal Nikolas Ferreira, conhecido por um apelido curioso, fez a mesma pergunta que diversos outros parlamentares já haviam feito, repetidamente. Na verdade, mais que uma pergunta, Nikolas e outros deputados, tentam um ataque desesperado ao mais primário bom senso, criando uma realidade paralela em que o movimento bolsonarista, do qual eles mesmo são lideranças, não tem responsabilidade pelo que fazem seus próprios membros. Algo assim: milícias nazistas percorriam as ruas de Munique e Berlim, depredando lojas, espancando judeus, asiáticos e negros, promovendo todo o tipo de violências, mas a culpa não é do movimento nazista, e sim do governo social-democrata que era “omisso”… Tampouco a culpa era de Hitler, embora o líder nazista promovesse diariamente ódio, sectarismo e extremismo em seus discursos.

Ora, não seria difícil para um orador menos talentoso que Dino responder as “acusações” ridículas dos parlamentares bolsominions, segundo as quais a culpa pelo 8 de janeiro seria, em verdade, das vítimas, ou seja, do governo atacado, e não das lideranças políticas que, com sua pregação antidemocrática (para não mencionar seu financiamento ativo), fomentaram uma insurreição de caráter explicitamente fascista.

Mas Dino é Dino, quiçá o mais talentoso orador vivo hoje no Brasil, e transformou o que a oposição achava que seriam momentos de constrangimento para ele, num espetáculo de argumentos sólidos em defesa do governo Lula e contra as falácias e crimes das lideranças de oposição, em especial contra o “Il Duce” do eixo Miami – Barra da Tijuca, o líder terrorista dos milicianos, o “mito” dos fascistas de pijama, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

VÍDEOS:

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CLAUDIO SETO, O MESTRE ONMYOJI

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político

Se o significado de moderno é indivíduo, me parece natural que o individualismo, o egoísmo e a soberba caminhem num aprofundamento desses valores que separam cada vez mais intensamente o sujeito, isolando num pedestal variável cada um dos que desejam manifestar sua soberania.
Aprecio encontrar aqueles que resistem às facilidades exibicionistas que validam a premissa moderna.
Embora o esquecimento seja democrático nessa jornada, ou seja, não importa o que o cabra faça pra permanecer no topo, seja qual topo for, sempre será efêmera sua exposição.
Mas nunca é demais resgatar as almas que defecam nas auras e que se afastam do sentido seboso de aparecer.
Claudio Seto (1944-2008) foi um desses seres.
Num tempo em que o termo mangá de samurai se tornou sinônimo de apreciação de muitos, seus usuários deveriam conhecer esse precursor que primeiramente, não só no Brasil, mas no mundo ocidental e mesmo no Japão estava apontando os caminhos.
Seto foi um polímata, talvez um dos últimos. Reconheço um significado para esse termo quando ele se instala num ser: ele pode fazer tudo o que quiser, pois consegue perceber dimensões que aqueles que estão submetidos ao império cognitivo jamais poderiam com sua visão de mundo unívoca e focada. O polímata fragmenta a percepção como o prisma fragmenta a luz.
Viveu entre muitos mundos. No mundo budista em que nascera era Chuji.
O nome Cláudio Seto foi adotado por Chuji a fim de receber um diploma no curso primário. Na época, na escola rural de Jundiaí, no bairro do Engordadouro, não entregavam diploma para pagãos. Chuji, e mais meia dúzia de nisseis que estudavam lá, foram devidamente catequizados como faziam com índios na época colonial.
Nessa primeira fratura, Seto fez desdobrar um “doppelgänger, do alemão Doppel que significa dublê ou gänger, que por sua vez significa andarilho. Este termo foi cunhado pelo escritor alemão Jean Paul em sua novela Siebenkäs (1796). Não queria receber o crédito todo pela suas criações.
Quando de sua catequização, Seto entrou em contato com o melhor da cultura indígena. E sua incorporação assimilou a filosofia da rede. Um velho xamã que vivia perambulando pelo interior do estado contou que a rede é o melhor equipamento pra se ter boas ideias sem a necessidade de realizá-las. O duplo favoreceria o cumprimento dessa filosofia nativa.
Mas a rede era muito mais do que licença para a preguiça. Como se pode ver com a participação dele na fundação da editora grafipar.
Sua percepção fragmentária foi de fundamental importância na ousada experiência da editora de Curitiba.
Começou trabalhando na Edrel e logo foi convidado a formar o núcleo da primeira editora de quadrinhos fora do eixo Rio São Paulo. A Edrel havia sido um núcleo de formação de criadores de quadrinhos dentre os quais o próprio Seto, Paulo Fukue e Fernando Ikoma, criador em 1969 do herói do universo dos sonhos Fikon, talvez o mais inusitado e lisérgico herói dos quadrinhos brasileiros.

Quando assumiu o núcleo de quadrinhos da Grafipar, a complexa mente de Seto gerou uma das mais interessantes experiências criativas da produção de conteúdos quadrinhisticos jamais igualada. Em 1977 e o regime militar já antevia o seu fim, embora as questões de costumes que sempre alertaram seus censores ainda estivessem muito ativas.
Seto lembrou-se dos profissionais que haviam sido gestados na Edrel e de muitos outros que zanzavam despertos pelo país e no convite que foi fazendo a cada um havia um detalhe inovador: que eles fossem a Curitiba gravitando em torno à editora. E pela primeira vez uma reunião física dos maiores quadrinhistas brasileiros podiam vivenciar da mesma complexidade afetiva imaginada pela mente de Claudio Seto. O resultado impressiona até hoje dado a produção desse período, não só pelos artistas, mas pela qualidade inigualável da produção da Grafipar.
A vila dos artistas, como ficaria informalmente conhecida, abrigava os melhores de então, por dois fatores fundamentais. O primeiro é o pagamento. Um artista da grafipar ganhava quatro vezes mais que um jornalista. O segundo, a liberdade criativa absoluta que reinava nos encontros.
Moravam por lá o Fernando Bonini, Franco de Rosa, Gustavo Machado, Itamar Gonçalves, Watson Portela, Flávio Colin, dentre outros. Além de roteiristas do calibre de Carlos Chagas, Nelson Padrella, Ataíde Brás, Júlio Emílio Brás e até mesmo Paulo Leminski e sua esposa Alice Ruiz.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

Embora o Brasil estivesse sob a censura da ditadura militar, o dono da Grafipar, Faruk El-Kalib contava com a amizade pessoal com um censor para conseguir lançar suas publicações sem maiores problemas. Chegou a ter a primeira publicação brasileira voltada para o público homossexual, a revista Rose, dirigida por Alice Ruiz, que foi feita inicialmente para as mulheres interessadas em nu masculino, mas acabou sendo mais consumida pelo público gay.
Com o fim da Grafipar em 1983 também chegou ao fim uma era de quadrinhos de terror e de erotismo, substituído por revistas que publicavam fotografias sem os incômodos da censura.
Em 1969, cria O Samurai, apresentando traços originais que seriam imitados por Coseki Kojima dois anos depois em Lobo Solitário e filhote no Japão.
No mesmo período, faz a história Idealismo Frustrado, inspirado nas ações de Lamarca, inclusive a decepção que tais ações foram provocando em Seto. Tecia na mesmo obra uma crítica à ditadura e à guerrilha. Nunca caiu na via fácil da ideologia, afinal era um polímata e uma das características é sua visão crítica da realidade.
Em Samurai 4, de 1968, a ousadia de Seto superava tudo e ele publica O Afeminado, uma história de um samurai de traços delicados que é estuprado e elabora um plano de vingança que só a criatividade exorbitante de Claudio poderia imaginar. O verdadeiro gênio não têm limites em abrir as fronteiras.
Sua dedicação ao bonsaísmo traduzia sua discrição e sensibilidade.
Tratou de tantos temas com sofisticação que ainda falta uma obra que teça análises sobre sua jornada à altura.
Pouco antes de falecer em 2008, recebeu esta homenagem da equipe Tadaima Curitiba:
[…] “Todos nós aprendemos um pouco com o artista plástico, o mestre Onmyoji da seita Zenchi, o fotógrafo, o animador cultural, o jornalista, o poeta… Com esse homem único chamado Claudio Seto. Agradecemos do fundo do coração tudo o que tem feito pela Cultura Japonesa e para cada um de nós!”

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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Policial que matou cinegrafista por uma pizza tem prisão em flagrante convertida em preventiva

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O policial penal Marcelo de Lima
O policial penal Marcelo de Lima

O policial penal Marcelo de Lima teve a prisão em flagrante convertida em preventiva após passar por audiência de custódia no domingo (2/4). Marcelo matou a tiros o cinegrafista Thiago Leonel Fernandes da Motta

De acordo com testemunhas, o policial atirou nove vezes após uma briga por causa de uma pizza. De acordo com o juiz Bruno Rodrigues Pinto, não há nenhum elemento que apoie a tese da defesa de que o acusado agiu em legítima defesa.

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O magistrado afirmou ainda que Marcelo tentou fugir. “Esse não é o tipo de comportamento esperado por aqueles que agem de acordo com a lei”, escreveu Pinto.

Ainda de acordo com o magistrado, as circunstâncias do crime “revelam uma personalidade extremamente violenta e desajustada” de Marcelo.

Nas redes sociais, Marcelo costumava postar fotos segurando armas e frases como “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O homem também venerava o ex-presidente Jair Bolsonaro, minimizava a pandemia e criticava ‘comunistas’.

Thiago, que foi assassinado, estava com o amigo Bruno Tonini Moura, que também foi baleado e socorrido a um hospital. Ambos são torcedores do Fluminense. Thiago era cinegrafista, fotógrafo e diretor de fotografia. Ele frequentava rodas de samba e foi um dos fundadores do Samba Pra Roda.

Entenda o caso

Testemunhas contam que Thiago e Bruno estavam no bar após a partida entre Flamengo e Fluminense, quando Thiago pediu duas pizzas brotinho que estavam em uma estufa. Eram as duas últimas à venda.

Segundo os relatos, Marcelo alegou também ter feito um pedido e tentou pegar uma das pizzas da mão de Thiago.

Houve um princípio de confusão, e Marcelo teria sido retirado do bar. Uma testemunha afirma que o policial penal retornou minutos depois com uma arma e atirou nove vezes contra Thiago, que morreu na hora.

Ferido, Bruno foi levado ao hospital. Em nota publicada nas redes sociais, o Fluminense informou que foi submetido a cirurgia e está na UTI.

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária disse que “repudia todo ato de violência praticado pelos seus servidores e acrescenta que será aberto um Procedimento Disciplinar Administrativo”.

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HOMOSSEXUALIDADE MASCULINA E PODER

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político
Wakashudo, catapigos, catamita, pederastas, as relações sexuais entre homens nos auxiliam a resgatar as conexões íntimas entre o ato e o aumento do poder. E mesmo esse poder pode ser historicizado, uma vez que nossa forma colonizada de entender o poder reside justamente em sua naturalização.
O cristianismo, principalmente nas comunidades anteriores à centralização em Roma no século XVI, o esplendor da verdade não se separava do esplendor do amor, sendo a relação homossexual absolutamente aceita.
Exemplo disso pode ser buscado nas circunstâncias que levaram ao massacre de Tessalônica, no final do século IV, uma prova de que até mesmo na era cristã a homossexualidade ainda era aceita por grande parte da população, mesmo sendo oficialmente perseguida. Isso aconteceu quando um cocheiro popular foi acusado de assédio sexual a um oficial do imperador e foi preso. A partir de então, a cidade se reuniu para exigir a sua libertação, demonstrando que a homossexualidade não era vista de todo como um crime nesta parte do império.
Só a partir do século 20, o tema se consolidou com o Papa Pio 12 – que defendeu o celibato na encíclica Sacra virginitas. E no segundo Concílio Vaticano, em 1965, dois documentos trataram do tema. O papa Paulo 6º também divulgou um documento, De sacerdotio ministeriali, abordando o assunto.
A energia masculina se multiplica com a conjunção carnal como acreditam ancestralmente algumas culturas. A cultura japonesa tradicional aconselhava a união ocasional entre guerreiros. Da mesma forma a cultura grega e romana.
É preciso entender essa historicidade, pois a homossexualidade assume diferentes significados muito distantes dos atuais.

Algumas tribos indígenas convivem com a homossexualidade sem nenhum problema, implicando no respeito que os seres nutrem entre si.
Na modernidade, o poder tem a ver com a soberania do homem que emergiu no humanismo. No topo da cadeia da vida, o homem foi assumindo não só decisões sobre a natureza, da qual se separava paulatinamente, mas também em relação aos animais, aos seus semelhantes, as mulheres, os homossexuais e até entre os próprios homens, produzindo escalas baseadas não mais na força, mas na masculinidade, na propriedade, no dinheiro.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

O paternalismo, a colonização, o capitalismo impuseram novos conceitos do uso do poder, como a racialização, a submissão da mulher, a força do provedor e assim por diante, consolidando o poder como força simbólica fundamentada nas cartas de direitos feitas pelos homens. As nações foram instituídas dessa forma, unificando um modelo de família (nuclear), uma forma de educação (formal), uma forma de trabalho (desigual).
Dessa forma, nossa percepção do poder é unimórfica, ou seja, imposta pela história, pela política, pela educação e pelo trabalho.
Portanto, historicizar o poder em sua relação com a homossexualidade nesse passado distante requer um esforço de imaginação, pois o poder moderno fundamentado na desigualdade entre os membros é coisa moderna, é coisa dos últimos cinco séculos.
Sobretudo, a compreensão desses vínculos antigos entre sexualidade e poder nos auxilia a desnaturalizar a desigualdade fundamentada na ideologia.
Wakashudo, o caminho da juventude, era uma prática de homossexualidade entre os samurais que se estendeu até a modernização do Japão no final do século XIX.
Seguindo as práticas budistas do Japão, homem e mulher têm energias diferentes e essas energias são trocadas através dos atos sexuais. Quando homem e mulher praticam o sexo, a energia feminina rouba o poder do homem. O inverso acontece entre homens, o sexo entre eles aumenta a energia, a potência tão necessária na época do Sengoku Jidai, as guerras que ocorreram durante o período Tokugawa em diante.
Não havia impedimento a essas relações que eram inclusive estimuladas para o aumento da força e da coragem.
Entre os gregos clássicos, a relação homossexual significava a única relação de amor que um homem livre poderia desejar. Geralmente, os filósofos da Grécia clássica poderiam desposar a mulher para constituir família, também poderiam se divertir com as hetairas, mulheres que compunham um grande número de habilidades, inclusive como parceiras de discussões filosóficas, mas também das artes do sexo, da mesa, dos vinhos. Mas a relação de verdadeiro amor só era possível entre homens do mesmo status de cidadão e liberdade. O sexo homossexual era símbolo de amor entre iguais. No envolvimento homossexual esses cidadãos se tornavam catapigos e eram publicamente reconhecidos e respeitados.
Entre os romanos, as mesmas relações marcavam as práticas entre os poderosos. Não é apenas o Antinoo que foi eternizado como parceiro amoroso e companheiro do imperador romano Adriano. Após sua morte prematura antes de seu vigésimo aniversário, Antínoo foi deificado por ordem de Adriano, sendo adorado tanto no Leste grego quanto no Oeste latino, às vezes como um deus e às vezes apenas como um herói.
Nessa relação entre homossexualidade e poder temos acesso a uma forma de união que exalta cada um dos parceiros, não encontrando nenhum caso em que o poder de um submete o outro.
Seja no caso dos guerreiros samurais, em que a força potencializa o símbolo da espada, seja no caso dos filósofos gregos, em que a dignidade da sabedoria iguala os amantes, seja no caso da política na Roma dos césares catamitas, cuja prova amorosa pode ser transformada em exaltação e reverência, ou seja, entre os cristãos anteriores à modernidade, e mesmo posteriores, a homossexualidade é a fusão de energias como símbolo de um tempo em que o poder era muito mais uma forma de equilíbrio do que de desigualdade.
Não preciso afirmar que a homossexualidade feminina encontrou nesse passado anterior à sua redução na modernidade, livre expressão e deleite, sem que nenhuma condenação encontrasse eco na história.
Mas a conexão entre homem e mulher é a própria exaltação do amor e uma grande indiferença em relação ao poder, seja ele qual for.
Quando uma conexão afetiva livre do poder se dá, homem é mulher fundem-se de tal sorte que não se sabe mais do gênero de cada um.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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Deputados aprovam aumento de 258% no salário de Romeu Zema

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Deputados aprovam aumento salário Romeu Zema
Romeu Zema Neto

Carta capital

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou em primeiro turno, nesta terça-feira (4), o projeto de lei que reajusta em 298% o salário do governador Romeu Zema (Novo). O texto eleva os rendimentos de 10,5 mil para 41.845 reais.

Também são beneficiados pela medida o vice-governador, secretários e secretários-adjuntos da gestão estadual. 45 deputados votaram a favor da proposta, enquanto 20 se opuseram.

Agora, a matéria – aprovada na forma do substitutivo nº 1 – voltará à analise da Mesa da ALMG para, na sequência, ser novamente avaliada pelo plenário.

O texto original do PL 415/23 prevê que o aumento será escalonado e concedido durante o período de 2023 a 2025. A partir de abril deste ano, os novos valores passam a ser de 37.589,96 reais (governador), 33.830,96 (vice), 31.238,19 (secretários) e 28.114,37 (secretários-adjuntos). Os próximos reajustes ocorrerão em fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025.

Leia também: Zema e o seu DNA da extrema-direita-bolsonarista

O substitutivo nº 1 limita a remuneração extra à participação em apenas um conselho administrativo ou fiscal da administração direta ou indireta (os chamados jetons). Antes, o projeto não estabelecia limites, o que autorizava membros do alto escalão a ter várias gratificações.

Os salários do governador, do vice-governador e dos secretários estão congelados desde 2007. O argumento é de que o reajuste é necessário “para atrair e manter os mais competentes nos quadros técnicos”.

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