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Bolsonaro sofre derrota e Delegado Waldir segue líder do PSL na Câmara

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delegado waldir
Delegado Waldir/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro sofreu duas importantes derrotas nesta quinta-feira, em meio à crise deflagrada entre ele e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE).

A primeira derrota foi a permanência do deputado Delegado Waldir (GO) como líder do PSL na Câmara. Um dia antes, com a ajuda de Bolsonaro, aliados do Palácio do Planalto tentaram destituir Waldir do cargo e substituí-lo pelo deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Bolsonaro.

Antes de confirmar a permanência de Waldir, a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados conferiu as assinaturas das três listas protocoladas na noite de quarta-feira (16), duas delas apresentadas pela ala bolsonarista do PSL. Segundo deputados, o presidente atuou pessoalmente para influir no processo.

Na noite de quarta, a ala bolsonarista entregou uma lista com 27 assinaturas para tirar o deputado Delegado Waldir do comando da bancada. Pouco depois, a ala bivarista apresentou sua própria lista, com 31 deputados. Os aliados de Bolsonaro apresentaram outra lista, com 27 nomes.

Segundo a Secretaria-Geral, das 27 assinaturas da primeira lista, 26 conferiram. Na lista dos apoiadores de Waldir, dos 31 nomes, 29 foram confirmados. E da terceira, dos 27 nomes, 24 conferiram –a assinatura é comparada com o cartão de assinatura do deputado.

A Secretaria-Geral reportou a análise ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que a chancelou. Pelas regras, a última lista apresentada valeria. Mas, como não alcançou um nome a mais da metade dos parlamentares do partido, foi desconsiderada. Ficou valendo, então, a protocolada pelos apoiadores do Delegado Waldir, a única também com apoio de mais da metade dos deputados peselistas.

Nesta quinta, Delegado Waldir reuniu jornalistas e afirmou que os dissidentes da ala bolsonarista não serão expulsos, mas poderão sofrer sanções legais.

“Ninguém vai ser expulso. Nós vamos atender o que existe de regras na Constituição, no que existe no regimento da Câmara e dentro do regimento do PSL”, afirmou.

Em outro capítulo da guerra aberta no PSL, Bivar destituiu Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, dos comandos da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Outra aliada de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) também foi removida da presidência do PSL do Distrito Federal.

“Vagabundo”

O Delegado Waldir afirmou chegou a afirmar hoje que vai “implodir” o presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de “vagabundo”. A declaração do deputado consta de um áudio que passou a circular nesta quinta-feira (17).

“Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, não tem conversa. Eu implodo o presidente. [trecho inaudível] Acabou, acabou. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol, gritando o nome desse vagabundo”, afirma Waldir na gravação.

Mais tarde, questionado por jornalistas, Waldir disse não ter “nada” para usar contra o presidente Jair Bolsonaro. Disse também querer “pacificar” a bancada do partido.

Segundo Waldir, a declaração, dada em meio à crise que atinge o PSL, foi feita em um momento de emoção. “O que o senhor tem para implodir o presidente?”, indagou um jornalista. “Nada. É só questão de… É uma fala de emoção, né? Um momento de sentimento”, respondeu o líder.

“É uma fala num momento de emoção, né? É uma fala quando você percebe a ingratidão. Tenho que buscar as palavras. Tenho que buscar as palavras”, acrescentou.

Questionado, então, se a crise passou, Delagado Waldir respondeu: “Nós somos Bolsonaro. Nós somos que nem mulher traída. Apanha, não é? Mas mesmo assim ela volta ao aconchego”.

PSL em crise

O PSL enfrenta uma crise que envolve o comando da legenda, o Palácio do Planalto e os parlamentares no Congresso. Desde a semana passada, as alas ligadas a Bolsonaro e ao presidente do partido, Luciano Bivar, travaram uma disputa interna.

A crise começou quando o presidente da República se dirigiu a um apoiador e o pediu para “esquecer” o PSL porque Bivar está “queimado para caramba”.

A guerra interna no PSL também está diretamente relacionada ao fundo partidário. O partido vai receber cerca de R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.

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Joice chama assessor de Bolsonaro de ‘frouxo’ e diz que só respeita “viado assumido”

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Filipe Martins e Joice Hassselmann

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, atacou o assessor especial da Presidência, Filipe Martins, após ele fazer uma publicação sobre Eduardo Bolsonaro.

Martins afirmou que o Zero Três é o “líder natural” do partido e disse que a decisão foi uma “escolha”, não um “eco”. “El macho man…macho, macho man”, ironizou a parlamentar, em resposta ao assessor. Um pouco depois, Joice o chamou “frouxo”.

Joice publicou em sua conta pessoal que respeita os “viados” assumidos. “Os que se escondem no conservadorismo, fazem pinta de machões, escondidos em suas pseudos canetas e ficam mandando indiretas como se fosse ‘machos’ não merecem meu respeito”, ironizou — uma indireta a Martins.

“Frouxo é frouxo, não importa o posto que tenha”, completou a parlamentar. A resposta de Joice causou repercussões negativas com apoiadores do PSL nas redes sociais. O seu nome entrou nos trending topics do Twitter na manhã desta quinta-feira, 17.

A frase publicada por Martins (“A choice, not an echo”) é o título de um livro norte-americano de uma escritora conservadora que narra a disputa dentro do partido republicano.

Alguns seguidores do assessor ironizaram a resposta afiada da parlamentar e fizeram brincadeiras pela semelhança fonética da palavra “choice” (“escolha”) e Joice. “A Joice não é um eco”, escreveu um usuário. “A choice, not a Joice”, ironizou outro.

A discussão começou após a publicação de Martins sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O assessor especial afirmou que um requerimento para que ele se torne o “líder de fato” do partido foi assinado por 27 deputados federais.

“O PSL e a sua bancada precisam de um líder capaz de conduzi-los em consonância com os anseios populares. O PSL tem tudo para se tornar o grande partido conservador de que o Brasil tanto precisa”, escreveu Martins.

Joice destituída

Filipe Martins é aluno de Olavo de Carvalho e fiel escudeiro de Bolsonaro. Após a discussão com o rapaz, Joice Hasselmann acabou destituída do cargo de líder do governo no Congresso Nacional.

Joice caiu atirando. Em entrevista ao colunista Chico Alves, do portal UOL, a parlamentar aponta o que, segundo ela, “todo mundo sabe”, numa referência ao que chamou de “milícia virtual”.

“São pessoas interligadas em todo Brasil, algumas recebendo para isso e outras não. Muitos robôs. Já sabia e não estou nem aí para isso”, denunciou. Antes ferrenha bolsonarista, Joice não poupou críticas ao presidente. “Tem uma inteligência emocional de -20, não é nem zero”, disse.

“Toquei toda a liderança do Congresso e da Câmara, porque o líder da Câmara [Major Vitor Hugo], todo mundo sabe, coitado, é um nada. Todo mundo sabe que as derrotas que o governo teve na Câmara foi por causa desse menino. Entreguei a reforma da Previdência, o PLN que deu ao presidente Jair Bolsonaro R$ 248 bilhões e livrou o presidente do impeachment. Saio com meu dever cumprido”, completou.

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Cena da “fuga” de Eduardo Bolsonaro entra para a tragicomédia da política brasileira

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eduardo bolsonaro fuga senhora

O site Congresso em Foco registrou nesta semana uma cena que entra para a história da tragicomédia da política brasileira. Pouco antes de desistir de ocupar o cargo de embaixador do Brasil nos EUA, Eduardo Bolsonaro protagonizou uma fuga pelos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

Eduardo fez um breve comentário na Câmara sobre o Foro de São Paulo e saiu em disparada ao ser abordado por jornalistas. Durante a correria, o filho do presidente da República atravessou três anexos e esbarrou em pessoas. Um de seus seguranças deixou cair um celular no chão.

“Uma palavrinha, líder?”, chegou a pedir um repórter que corria atrás de Eduardo, sem obter resposta. O deputado só parou de correr após descer as escadas de acesso ao Anexo 4. Nas redes sociais, o episódio logo virou motivo de piadas e memes.

Internautas lembraram da cena em que uma repórter da TV Globo correu por um quadra inteira enquanto chamava sua entrevistada: “Senhora? Senhora?”. A jornalista investigava uma denúncia de que funcionários da Assembleia Legislativa goiana só apareciam para bater o ponto, sem trabalhar.

Na época, a servidora Edinair Maria dos Santos Moraes foi questionada se iria trabalhar após bater ponto na Assembléia Legislativa de Goiás. Ela respondeu: “Não, eu nunca fiz isso”. A repórter, então, interpela: “A senhora fez, nós temos gravado”. Em seguida, ela inicia sua fuga.

VÍDEO:

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Militares choram na Câmara e gritam “Bolsonaro traidor”

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reforma dos militares bolsonaro

A Comissão que votou a Reforma da Previdência dos militares na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (28) chegou a ser suspensa por conta de uma confusão envolvendo manifestantes que protestavam contra a votação.

Entre gritos de “covardes” e “traidor”, o grupo formado por soldados, praças e familiares expôs as críticas à reforma e ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

“Eu coordenei carreata para o senhor, eu gritei ‘Bolsonaro, 17’, enquanto eles estavam sob o ar condicionado e hoje o senhor trai a tropa dessa maneira. Isso é um absurdo, dando benefícios aos generais”, disse uma mulher, visivelmente indignada.

Enquanto isso, outra começou a gritar “trairagem” ao fundo. Uma terceira mulher afirmou que nem Bolsonaro, nem seus filhos, terão os votos da “família militar” outra vez.

A revolta ocorreu porque Jair Bolsomaro mobilizou deputados aliados para rejeitar um destaque que estenderia uma gratificação para todos os integrantes das Forças Armadas, e não apenas para oficiais e militares de alta patente.

No funcionalismo, os militares são os que custam mais para a Previdência, proporcionalmente. Ex-líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO) disparou: “Bolsonaro defendia soldados e cabos e agora não mais?”

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Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, confessou que foi uma opção da equipe econômica do presidente privilegiar as altas patentes. “Houve uma preocupação do governo federal de fazer algo que fosse voltado para o privilégio do mérito, da meritocracia, da permanência dos militares nas forças e para privilegiar aqueles militares que têm um desempenho melhor na carreira”.

VÍDEO:

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Da tribuna da Câmara, Eduardo Bolsonaro ameaça repetir golpe

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eduardo bolsonaro golpe

via blog do Reinaldo Azevedo

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o candidato a intelectual da família e ex-quase embaixador, discursou na Câmara nesta terça. Ameaçou as esquerdas com repressão policial e, tudo indica, com um golpe! Acusou-as de querer “repetir no Brasil o que está acontecendo no Chile”.

Não fosse a estupidez intrínseca do discurso, há uma questão factual que acena com a possibilidade de o parlamentar precisar de ajuda clínica: não há o menor sinal de que as esquerdas brasileiras estejam planejando um protesto à moda chilena. Até porque seria preciso combinar com o povo.

Para o deputado, “o Chile é a referência da América Latina com relação à economia. A maior renda per capita da América Latina, a referência em Previdência”.

É verdade. Sobretudo em Previdência. Setenta por cento dos aposentados ganham menos do que um salário mínimo. É a referência de Eduardo. Tudo indica que ele pretende acenar com esse horizonte para os aposentados brasileiros.

É o rapaz que fez questão de anunciar que votaria contra a reforma proposta pelo governo Temer porque, segundo ele, nem deficitário o sistema era.

Sugiro que o deputado vá ao Chile e tente convencer a população daquele país de que está sendo injusta com um sistema que ele, Eduardo, acha exemplar.

E o deputado ameaçou: “Não vamos deixar isso aí vir para cá. Se vier para cá, vai ter que se ver com a polícia. E, se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar”.

Hein? Protestos violentos, que desrespeitem as regras da civilidade democrática, já são reprimidos pelas polícias nos Estados sem que se faça necessária a intervenção de um Bolsonaro. Houve, por exemplo, confrontos violentos em 2013 em vários Estados.

Mais: não faltou repressão policial no Chile, não é? O pau comeu. Já são vinte os mortos. Nem por isso a população se intimidou. O presidente Sebastián Piñera teve de recuar de seu discurso beligerante e de admitir erros do governo e, mais amplamente, do, como posso dizer?, “sistema chileno”.

“A gente vai ver a história se repetir”? Que história, rapaz? A história brasileira — e, nesse caso, o deputado estaria ameaçando o país com um golpe — ou a história recente no próprio Chile, com seus 20 mortos? Em padrões brasileiros, seria como uma jornada de protestos deixar 233 vítimas fatais.

Sugiro a Eduardo que pegue seu cabo e seu jipe e vá pregar em outra freguesia. A chance de um golpe prosperar no Brasil é inferior a zero. E, acontecesse a tragédia de mais de 200 mortos em protestos contra isso ou aquilo, os Bolsonaros é que veriam a banda tocar. Seriam chutados do governo.

O discurso não passa de uma provocação tola, rasteira, primitiva. De resto, Eduardo e sua turma subestimam as esquerdas brasileiras, não é mesmo?

Por que elas iriam às ruas agora? Para dar ao mandatário o privilégio do discurso da “lei e da ordem”, ainda que promova permanentemente a desordem? É muito mais eficaz, divertido e produtivo assistir à canibalização do bolsonarismo.

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Os sintomas de um tempo

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Glenn Greenwald e Augusto Nunes (reprodução)

Luis Gustavo Reis*, Pragmatismo Político

Os jornalistas são os historiadores do imediato. Fazem, diariamente, um tipo de rascunho da história atual. Imersos no tumulto do cotidiano, submetidos às pressões do registro instantâneo dos acontecimentos- diferente de nós, historiadores- falta-lhes a compreensão dos fatos em perspectiva, o tempo adequado à reflexão.

Incumbidos de informar, incorrem frequentemente em equívocos, distorções, exageros. É até compreensível, pois quem entra sete vezes por semana na casa do leitor/telespectador não está imune a dizer besteiras. Mas tenho pra mim, porém, que pior do que tudo isso é não ter a capacidade de atazanar, incomodar. Millôr Fernandes já sentenciou: “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Leia aqui todos os textos de Luis Gustavo Reis

Digo isso, porque resolvi assistir ao kickboxer entre Augusto Nunes e Glenn Greenwald. Confesso que tenho dificuldades em ler determinados sites ou jornalistas cujo compromisso ideológico ofusca a mínima compreensão dos fatos. Lamento, caro leitor, mas isso vale para certos artigos do Glenn e do Augusto Nunes. Não os leio há tempos, é bom destacar, posso estar desatualizado.

No entanto, considero Glenn um jornalista sério, respeitável, importante. Meu incômodo com ele está em sua empreitada, por vezes, de tentar reescrever a história ancorado na cartilha de determinados dirigentes políticos. “Ganhou o Pulitzer, Luis!” – esfregarão na minha fuça alguns amigos zangados.

Pois bem, já Augusto Nunes me dá náuseas. Não é incômodo, claro que não, é repugnância mesmo. Na real, o considero um termômetro visível da febre que adoece o país. Pra mim, ele é o sintoma de algo que o ultrapassa. A prova viva de que o Brasil está na UTI, moribundo, desenganado, vegetando.

Saiba mais:
Glenn: “Nunca havia sido agredido na minha vida. Porque adultos não se comportam assim”
Carlos e Eduardo Bolsonaro celebram soco de Augusto Nunes em Glenn Greenwald

*Luis Gustavo Reis é professor e editor de livros didáticos

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Neoliberalismo, sincronicidades entre triunfos e ocasos

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Neoliberalismo sincronicidades triunfos ocasos
(Imagem: Julia Dolce | Agência Pública)

É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade”. (Francis Bacon)

Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político

Entender o neoliberalismo é uma tarefa que envolve alguma coisa de história, de economia, de política, de ideologia e de psicologia, na medida em que seu tempo histórico congrega linhas difusas que percorreram estranhos caminhos morais.

A primeira questão diz respeito à relação entre ideologia e estado. A estrutura do estado é imune às ideologias, portanto facilitam nossa compreensão sem os empanamentos que caracterizam os discursos ideológicos.

Considerando que o estado é um artifício organizacional moderno nascido em Florença no século XVI (Maquiavel: História de Florença e O Príncipe) e expandido para o mundo todo por ondas sucessivas de colonizações, reconheço quatro formas históricas determinadas: o estado monocrático, conhecido como absolutista, o aristocrático, ou estado burguês, o burocrático, ou estado totalitário e estado democrático. Cada um desses momentos representou um esforço em reduzir pessoas a um estado de submissão. Nesse sentido, o papel do estado é administrativo.

Serei breve quanto às suas características. O primeiro deles era ainda tímido e ignorante de suas funções estratégicas. consistia em, nos termos de Foucault, deixar viver e fazer morrer. Permanecia distante das pessoas e exigia que, numa guerra, lutassem por ele. A condição divina dos seus representantes não era ideologia, pois a religião era tudo que tinham. Quando cortaram a cabeça de um rei, foi como se uma carreira de dominós tivesse caído.

O estado aristocrático é a resultante direta da revolução francesa e uma casta burguesa assumiu as funções do estado instaurando um modelo social cartorialista. Aqui o estado passa a assumir funções verdadeiramente administrativas, determina o fazer viver e o deixar morrer, a vida passa a ser cuidada pelo estado. Trabalho como usurpação e controle dos corpos, escolarização para preparar as gerações para as mesmas funções, ciência como suporte de ideologia que naturaliza a desigualdade fundante. Mas esses artifícios ideológicos eram ainda insipientes e o modelo era fortemente opressivo quanto a maior parte da população. Isso custaria muito caro aos administradores, pois antes que a primeira guerra mundial terminasse, revoluções explodiram por toda a Europa. Na Rússia foi a mais visível. A Alemanha, a Inglaterra, a Espanha, Portugal, França, os trabalhadores estavam em revolta e a solução foi o surgimento dos estados totalitários, cuja característica principal é o acolhimento de parte dos sublevados pela burocracia do estado. Esse foi o caso do estado rooseveltiano, o estado nazista, fascista, em que a matriz keynesiana ou o estado de beligerância mantinham a aliança entre as elites e as massas (guerra fria). Aqui a máxima do ceder os anéis para não perder os dedos fez encolher a sanha do capital e ampliar os direitos trabalhistas. O ímpeto de revolta dos trabalhadores foi contido com direitos e um estado de bem estar duradouro, mas não tanto para que não expirassem os valores do trabalho, só o suficiente para que sua submissão se tornasse natural e voluntária.

O último é o estado democrático, revelando que a trajetória da modernidade consiste em sua relação com o poder e sua paulatina distribuição, do um, para poucos, para muitos e para todos, na forma de direitos e empoderamentos.

A origem eurocêntrica desse processo é bem determinista quanto às suas expansões coloniais, embora as soluções encontradas foram não fruto de conspirações, mas de racionalidades (rede epistêmica, ideologia, visão de mundo, zeitgeist) que foram se tornando contagiosas e hegemônicas.

Estou sendo generalista e pedagógico nesse texto, pois sua função não é investigar a fundo a manifestação desse caminho, as sutilezas que as há e muito, mas tão somente indicar a sugestão insidiosa de um projeto de dominação necessário para que se possa extrair das pessoas todo o seu tempo em forma de trabalho e seus derivados.

Em 1947, Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek, ideólogos conservadores e liberais da sociedade de Mont Pelerin emitiram sinais das similaridades que marcavam os estados totalitários e do Welfare States, quando apontavam que suas políticas coletivistas cerceavam as liberdades individuais. Davam como exemplo o relatório Benveridge inglês que, com a vitória do partido trabalhista, havia imposto o mais audacioso plano de distribuição de renda até então visto, baseado no tripé da Lei da Educação, lei do Seguro Nacional e a Lei do Serviço Nacional de Saúde.

Em seu livro, O caminho da servidão (1944), Hayek afirmava que esses protocolos tornavam o trabalhador passivo, sem ambição e força para enfrentar desafios, tornando-se paulatinamente um escravo do conformismo e que isso, afinal, comprometia o próprio capitalismo.
Em 1974, as ideias de Hayek receberam o aval do Nobel, que curiosamente ele dividiu com Gunnar Myrdal, o ideólogo socialista inspirador do estado de bem-estar sueco.

A indicação do momento histórico do ressurgimento das ideias de Hayek, já tinha um componente administrativo sobre como os trabalhadores aceitariam diretrizes que atacavam diretamente o coração dos grandes estados que lhes foram gentis por décadas. Suas organizações haviam sido desmobilizadas pela estupefaciência do conforto e da generosidade estatais. A dominação é um caminho difícil, pois deve contemplar a alma e não o corpo. A isso os estados se dedicam. Suas funções e estruturas ambicionam administrar todo o corpo social para usurpar a energia vital que o trabalhador voluntariamente deve fornecer. Passam a chamar de colaborador a esse trabalhador, pois sua identidade já se conformou.

O conceito de classes imaginado por Marx tinha um componente muito específico, o antagonismo, os interesses divergentes. Foi exatamente por isso que ele o concebeu, para marcar as oposições e não as similitudes. Todavia, ao longo do século XX, essas oposições foram sendo paulatinamente desmontadas, primeiramente com o estado de bem estar social, que diminui o poder dos proprietários em favor de dirimir a revolta e o ímpeto revolucionário dos trabalhadores, depois com o american way of life, numa forma ainda prototípica da ideologia do consumismo embrionário e finalmente com os valores oferecidos com o neoliberalismo, que solapou qualquer vestígio do conflito entre as classes ao intensificar o conflito intraclasse, com a oferta dos vários empoderamentos, que estimula o ódio naqueles que estão na zona de sofrimento comum.

Assim, por 30 anos o livro de Hayek ficou adormecido, já que o Welfare State (Estado de Bem Estar Social) impulsionava o consumo com sua sacada do pleno emprego e seguridade funcional, até que em 1973 alguns economistas ingleses e norte-americanos decidem aplicar as normas da Sociedade de Mont Pelerin atualizada no Chile, sob a tutela de Pinochet. Estavam plantando as sementes da Escola de Chicago, base estratégica e teórica do chamado neoliberalismo, capitaneada pelo economista Milton Friedman.

Importante destacar que Milton Friedman (1912-2006) foi não somente um dos maiores defensores do neoliberalismo pós 1970, como foi o autor do livro Teoria da Função do Consumo (1957), impulsionador do consumismo pós segunda guerra mundial e o criador dos programas de renda mínima que deveriam acompanhar o receituário neoliberal.

Ronald Reagan, que assumiu a presidência dos EUA em 1980, implantou o modelo que ficou conhecido por lá como Reaganomics, política baseada em cortes no orçamento federal e redução de impostos para incentivar a produção e os investimentos. Logo em seguida, o congresso americano aprovou o maior corte do orçamento de sua história.

Os Estados Unidos de Reagan, a Inglaterra de Thatcher e a Alemanha de Helmut Cohn aplicaram o receituário no norte da Europa e Estados Unidos. Todos regimes reconhecidos como de direita.

Na década seguinte, a resposta europeia foi a eleição no sul de governos de esquerda, eleitos democraticamente. Todos eles aplicaram, até os inícios de 1990 o mesmo receituário: na França de Mitterrand, na Espanha de Gonzalez, em Portugal de Soares, na Itália de Craxi e na Grécia de Papandreou. Nesse caso, a presunção se conteve claramente nas questões de globalização e na arregimentação para a efetivação da zona do euro e os grandes blocos econômicos.

Leia aqui todos os textos de Eduardo Bonzatto

Tomemos o caso inglês como exemplo desse tempo. Em primeiro lugar o julgamento da senhora Thatcher pela história posterior.

Defensora da premissa de que o mercado deve servir melhor à sociedade do que o estado, sua resposta à crise dos anos 1970 foi, do ponto de vista econômico, implacável, que resultou num desemprego massivo e no aumento progressivo da desigualdade por quase vinte anos. Impunha o modelo de transição do processo de desindustrialização para uma economia financeira, elevando taxas de juros e abolindo o controle dos fluxos financeiros. Esse princípio de desregulamentações diversas é a própria essência do modelo neoliberal, pois com isso possibilitou a emergência de economias como o Brasil, a China e a Índia, antecipando a globalização como fundamento para que suas diretrizes se efetivassem.

Privatização de setores como educação, saúde, siderurgia, telefonia, gás, água, eletricidade e empresas aéreas começaram a demonstrar os protocolos necessários ao projeto. Enxugamento brutal de gastos públicos, fim das políticas de pleno emprego, controle da inflação, desregulamentação das leis trabalhistas, vão compondo o ideário neoliberal. Termos como cliente quanto competitividade entram na fala comum das gentes que levarão à entronização do desempenho como síndrome das gerações futuras do mundo todo, pois o desempenho é um estado interno de comprometimento que as organizações exigem em suas missões.

Thatcher se reelegeu por três mandatos demonstrando já um aspecto da nova política cíclica: diante da crise e seus sofrimentos, suas respostas duras foram entendidas como medidas necessárias que fortaleceram sua popularidade e que se transmutariam em populismo num futuro que ainda não podia ser entrevisto. E embora as greves tivessem naturalmente aumentado durante a implantação do programa, o novo valor do sacrifício em nome da salvação nacional serviu também para enfraquecer o poder dos sindicatos.

Rodney Barker, professor da London School of Economics, lembra que sua popularidade veio porque “ela deu a esse país uma ideia superestimada de que somos importantes. Que ainda temos de ser o que não somos, Que ainda temos de ter um exército poderoso e armas nucleares”: esse mantra será válido daqui por diante como uma autorização das macrossolidariedades nacionais. Esses valores serão fortemente incorporados no seio da nação quando for exportado para o resto do mundo, com o paradoxo de que o próprio estado-nação será pulverizado com avanços da globalização, mas isso pode ser explicado facilmente pelos valores ideológicos do consumismo, que fará bem a tradução de nacionalismo e os objetos de desejo que eram até então disponíveis apenas às classes mais elevadas, tais como automóveis, telefones móveis, educação superior privada, saúde privada, etc.

Tomo aqui o exemplo emergente inglês como um novo paradigma, pois por nossa experiência brasileira, além dos “benefícios” do consumo, agregaram-se os dispositivos de distribuição de direitos poder na forma de empoderamentos, tais como o direito do consumidor, o estatuto da criança e do adolescente, os direitos de reparo às injúrias raciais, sexistas, homoafetivas, dentre outros.

Um escritor inglês relembra o tempo que antecedeu, ainda sob a vigência do Estado de Bem Estar Social:

Naqueles anos dourados, que não foram realmente uma ilusão, antes de os ricos organizarem seu contra-ataque, a prosperidade geral havia aumentado e, por um longo tempo, deu-se o mesmo com o poder civil (os pobres estavam ficando mais ricos e os ricos não estavam tão abastados). A Grã-Bretanha dos anos 60 “balançava” no que dizia respeito à comunidade internacional e a extraordinária mescla vital de culturas havia talvez transformado o país na mais criativa força do mundo. A Irlanda, bem como a América Africana e Lancashire deram-nos Os Beatles e todos os outros músicos extraordinariamente talentosos que mudaram as aspirações e as capacidades da música popular para todo o sempre. Todas as artes floresceram.

A distribuição da riqueza resultou na disseminação de justiça social. O partido Tory de Macmillan jamais ousou desarticular os programas sociais introduzidos por seus antecessores; e, quando os trabalhistas foram reeleitos nos anos 60, a nova legislação esclarecida deu-nos, por um tempo, sistemas educacionais e de saúde de abrangência universal, acesso gratuito ao aparelho jurídico e muito mais. Embora ainda houvesse muito a ser arrumado e estivéssemos começando a entender os reveses de qualquer ortodoxia, liberal ou não, tudo nos dizia que nos acercávamos da Utopia pela via expressa. Nós estávamos começando a discutir o que faríamos com tanto lazer, riqueza e equidade.

Thatcher e Reagan representavam interesses muito diferentes dos nossos. Eles eram, de certa forma, títeres, cumprindo os ditames das grandes corporações; ambos ofereciam uma retórica de legitimidade a uma extraordinária retomada de poder pelo capital privado. Essa gente vinha planejando o golpe havia anos. Eu costumava ouvi-los quando trabalhava no centro financeiro no início dos anos 60;falavam sobre “expandir para o setor público”. Os velhos éditos da nossa lei comum – de que o que diz respeito a todos deve ser determinado por todos – eram ignorados e até mesmo ironizados. Esta poderosa minoria, dona de quase tudo, não tinha respeito por nós. As instituições públicas, projetadas para criar uma sociedade mais justa, eram seus alvos principais. Eles corromperam a retórica do debate público, afirmando que os serviços públicos não “funcionavam” – ou seja, garantiam serviços, não lucro.

Representando interesses do grande capital e pregando uma filosofia de mercado livre num mundo sem regulamentação – uma panacéia universal ainda mais insana do que o comunismo que almejava derrotar, baseada em total competição interna, transformando em pesadelo a maioria das vidas comuns –, eles nos deram um punhado de “soluções” fajutas e defasadas que tornaram seus amigos e clientes muito ricos e o resto de nós mais pobres. Transformaram em virtude a cobiça e a desarmonia. A mentira tornou-se um instrumento-padrão de convívio social no governo, nos negócios e, por fim, em toda a sociedade. Também introduziram, inevitavelmente, incertezas e misérias em nosso mundo que logo se traduziram em violência e desencanto; erodiram a qualidade de vida de milhões; e continuam a destruí-la até os dias de hoje. Foi uma mudança bastante radical – mais ainda na Grã-Bretanha, talvez, do que nos Estados Unidos – e um fardo muito pesado para o homem bem-pensante digerir.

Em face a todas estas mudanças e experiências rapidamente adquiridas, no exato momento em que deixávamos de ser uma comunidade de cidadãos e éramos encorajados a nos tornar uma confederação desunida de consumidores independentes, os artistas estavam passando por momentos difíceis. [1]

Memórias como essa são importantes, pois as gerações que nasceram sob a égide neoliberal não podem imaginar que já houve um tempo diferente em que os valores do individualismo, egoísmo, eficiência, desempenho, educação ainda não tinham se consolidado, pois isso pode nos auxiliar a perceber que as patologias que nos acometem hoje, depressão, ansiedade, vitimização, empoderamento não moviam o social.

De fato, o neoliberalismo alterou profundamente as arquiteturas sociais, políticas e econômicas de uma forma a apagar o passado ao naturalizar esses valores como sendo tipicamente humanos. Eram já os efeitos ambíguos que as poliarquias causam nas sociedades administradas. Seu conceito precisa ser explicitado, pois operam em muitos níveis da experiência cotidiana:

Poliarquia, segundo Robert Dahl é o sistema político das sociedades industriais modernas, caracterizado por uma forte descentralização dos recursos do poder e no seio do qual as decisões essenciais são tomadas a partir de uma livre negociação entre uma pluralidade de grupos, autônomos e concorrentes, mas ligados mutuamente por um acordo mínimo sobre as regras do jogo social e político. Dahl distancia-se assim da chamada escola elitista, salientando a existência de uma multiplicidade de centros de decisão e um conglomerado de elites.

No Brasil, sua manifestação coincidiu com a vigência da constituição cidadã, cuja essência era descentralizadora e poliárquica.

Em algum momento da segunda metade dos anos 1980, a chamada Escola do Rio, preparava a economia de um novo tempo de liberdades.

A Escola do Rio [2], assim chamada em razão de seus economistas pertencerem a PUC-Rio e a Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, instituições da articulação político-acadêmica que passariam a compor um todo indivisível e coerente da correção de rumos mais importante desde 1964, estabelecendo as bases do neoliberalismo já a partir de 1987 até a implementação do chamado Plano Real, durante o governo FHC (Teoria da Dependência).

Segundo essa teoria, o “processo iniciado nos anos 40/50 e sempre desenvolvido com a ideia de que o Brasil, por não ter condições de se tornar uma potência industrial, deve manter-se subordinado a um sistema maior, isto é, ao capital estrangeiro”, ou seja, de um país voltado para fora. Nesse sentido, o subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento, mas desempenha uma função específica no jogo do capitalismo global. Mas a ideologia do desenvolvimentismo tem força suficiente para unir nas mesmas promessas ditaduras e democracias.

Seria arriscado concluir, no entanto, que somente regimes autoritários puderam impor políticas neoliberais na América Latina. O caso da Bolívia, onde todos os governos eleitos depois de 1985 – seja o de Paz Zamora, seja o de Sanchez Losada – aplicaram o mesmo programa, demonstra que a ditadura em si não é uma necessidade, mesmo se medidas de repressão antipopulares foram tomadas. A experiência boliviana deu uma lição: a hiperinflação, com o efeito do empobrecimento que daí decorre cotidianamente para a grande maioria da população, pode servir para fazer “aceitar” medidas brutais de política neoliberal, preservando formas democráticas, não ditatoriais. Em 1987, um economista brasileiro, membro de uma instituição financeira internacional, admirador da experiência chilena de Pinochet, confidenciou que o problema crítico do Brasil, naquele momento sob a presidência de José Sarney, não residia em uma taxa de inflação demasiado elevada, como difundiam os funcionários do Banco Mundial. Ele assegurava que a taxa de inflação era baixa demais e dizia abertamente: “Esperemos que as barreiras se rompam”. Por quê? Sua resposta era simples: “No Brasil, temos necessidade de uma hiperinflação para criar as condições que levem a população a aceitar um tratamento deflacionário drástico, necessário para este país”. A hiperinflação começou no Brasil e as condições foram reunidas para iniciar um programa neoliberal, sem instrumentos ditatoriais… [3]

Esse conluio aconteceu nas dependências da Fundação Getúlio Vargas em meados de 1987, onde se reuniram consultores do FMI e do Banco Mundial, representantes do Consenso de Washington, assessores do governo e economistas da própria Fundação GV e da PUC-Rio.

As razões dessa estratégia para implementação do neoliberalismo no Brasil são facilmente entendidas se levarmos em conta que o momento era de uma pretensa democracia, em tudo “fruto” da luta renhida da sociedade brasileira para esse momento. Certamente pareceria muito problemático a imposição de um modelo econômico tão desleal e injusto: a população tinha que estar madura para não somente aceitá-lo, mas principalmente para solicitá-lo. Fernando Henrique Cardoso, o salvador da pátria, será eleito justamente sobre esta base ideológica. Outros salvadores da pátria lhe seguirão os passos, daí a configuração de populistas em todo espectro ideológico.

Importante destacar que dentre os economistas e assessores que participaram da reunião acima descrita estava o então jovem mestre em economia pela fundação Getúlio Vargas, Joaquim Levy, figura central nos desdobramentos do neoliberalismo no Brasil. Naquele dia, o jovem ambicioso e discreto não podia imaginar que teria pra si o papel de eminência parda, da voz sigilosa por trás do trono, zanzando de um governo a outro impunemente, construindo a história.

Uma éminence grise é um poderoso assessor ou conselheiro que atua “nos bastidores” ou na qualidade não-pública ou não-oficial. Esta frase referia-se originalmente a François Leclerc du Tremblay, o “braço direito” do cardeal Richelieu. Leclerc era um frade capuchinho que ficou famoso por seus trajes bege. Nos sistemas produtores de significados há sempre um elo condutor, basta procurar.

Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, no período (1990-2001), aponta os efeitos da modernização tecnológica prometida pela ideologia do desenvolvimentismo que oculta os protocolos neoliberais.

Desde então, a lucratividade dos bancos jamais decresceu, os sindicatos foram reduzidos a pó e o chamado exército industrial de reserva foi estruturalmente pulverizado numa dança que envolve tecnologia, reengenharia, terceirização, empreendedorismo, mudança do foco da indústria para os serviços, em que o trabalhador se torna muito vulnerável.

A chamada abertura econômica iniciada por volta de 1990, com toda a estratégia de privatizações e importações, erradicou algo próximo de 11 milhões de empregos só nas cidades. Em números absolutos, ou seja, sem considerarmos a variação populacional, em 1990, 59,42 milhões de pessoas estavam empregadas, enquanto, em 2001 esse número era de 64,42 milhões[4]. Outras 11 milhões de vagas de trabalho foram erradicadas do campo com a emergência do agronegócio até o ano de 2008 e o agronegócio continua sua trajetória devastadora. E aqui estamos falando de desemprego estrutural, ou seja, a vaga de trabalho evaporou-se. Se considerarmos 1.8 milhão de pessoas que entram no mercado de trabalho a cada ano teremos uma visão do dramático custo social de nossa modernização [5].

Desse modo, os 13 milhões de empregos que o governo Lula alega ter criado em seus dois mandatos, não são suficientes sequer para acolher os quase 2 milhões de jovens que todo ano chegam às portas do mundo do trabalho. Sem esquecer, claro, que de todas as vagas de trabalho abertas todo o ano, três meses depois, 30% desses empregados já estão novamente nas ruas; é o ciclo vertiginoso do emprego/desemprego que torna as estatísticas uma faca de dois gumes.

Acrescente-se a isso que, por exemplo, das mais de dezesseis milhões de contratações apontadas no ano de 2010, houve mais de quinze milhões de demissões, fruto de uma rotatividade impressionante.

Não resta ao trabalhador senão seguir a rota da precarização em forma de terceirização, empreendedorismo, informalidade, até que o atual tripé macroeconômico do trabalho no Brasil, na forma de uber, camelô e bolo de pote se torne normal. E mesmo profissões antes reconhecidas como de ascensão social se proletarizam. O que importa é consumir.

Depois do 11 de setembro de 2001, o presidente Bush foi à televisão recomendar que os americanos continuassem consumindo. Depois da crise de 2008, o presidente Lula foi à televisão recomendar que os brasileiros continuassem consumindo.

Tornava virtuoso o ciclo de saturação econômica pautado no consumo: mais crédito, mais consumo, mais desenvolvimento econômico, desemprego estrutural. Mas esse é um ciclo enganador e bastante provisório que, no entanto, tem um capital político grandioso.

Isso levou ao que o filósofo coreano Byung-Chul Han denomina de auto exploração de si mesmo. Segundo ele, passamos do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito” e se você fracassa a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout. Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”.

Desde sua implantação no Brasil, os protocolos neoliberais foram seguidos à risca, independente dos governos de plantão, se gentis ou não com os trabalhadores: Disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, juros de mercado elevados, câmbio de mercado, abertura comercial, desindustrialização, investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições, propriedade intelectual para evitar piratarias de toda sorte, privatização ou concessão de serviços públicos, desregulamentação das leis econômicas e trabalhistas, programa de renda mínima.

Em particular, isso vale para a reivindicação de renda mínima ou de dinheiro para subsistência. Em vez de ligar lutas sociais concretas defensivas contra determinadas medidas do regime de apartheid com um programa geral contra o trabalho, essa reivindicação pretende construir uma falsa universalidade de crítica social, que se mantém em todos os aspectos abstrata, desamparada e imanente ao sistema. A concorrência social de crise não pode ser superada assim. De uma maneira ignorante, continua-se a pressupor o funcionamento eterno da sociedade global do trabalho; pois de onde deveria vir o dinheiro para financiar a renda mínima garantida pelo Estado senão dos processos de valorização bem-sucedidos? Quem conta com este “dividendo social” (o termo já explica tudo) precisa apostar, ao mesmo tempo, e disfarçadamente, na posição privilegiada de “seu próprio país” na concorrência global, pois só a vitória na guerra global dos mercados poderia garantir provisoriamente o alimento de alguns milhões de “supérfluos” na mesa capitalista – obviamente excluindo todas as pessoas sem carteira de identidade nacional.

Os reformistas amadores da reivindicação de renda mínima ignoram a constituição capitalista da forma-dinheiro em todos os aspectos. No fundo, entre os sujeitos do trabalho e os sujeitos do consumo de mercadorias capitalistas, eles apenas querem salvar estes últimos. Em vez de pôr em questão o modo de vida capitalista em geral, o mundo continuaria, apesar da crise do trabalho, a ser enterrado debaixo de uma avalanche de latas fedorentas, de horrorosos blocos de concreto e do lixo de mercadorias inferiores, para que aos homens restasse a última e triste liberdade que eles ainda podem imaginar: a liberdade de escolha ante as prateleiras do supermercado.

Mas mesmo essa perspectiva triste e limitada é totalmente ilusória. Seus protagonistas esquerdistas e analfabetos teóricos esqueceram que o consumo capitalista de mercadorias nunca serve simplesmente para a satisfação de necessidades, mas tem sempre apenas uma função no movimento de valorização. Quando a força de trabalho não pode mais ser vendida, mesmo as necessidades mais elementares são consideradas pretensões luxuosas e desavergonhadas, que deveriam ser reduzidas ao mínimo. E, justamente por isso, o programa de renda mínima funciona como veículo, isto é, como instrumento da redução de custos estatais e como versão miserável da transferência de riqueza social, que substitui os seguros sociais em colapso. Nesse sentido, o guru do neoliberalismo, Milton Friedman, originalmente desenvolveu a concepção da renda mínima antes que a esquerda desarmada a descobrisse como a pretensa âncora de salvação. E com esse conteúdo ela será realidade – ou não. [6]

Talvez devêssemos acrescentar mais alguns itens nesse receituário: uma forma específica de educação para os países em desenvolvimento. O tratado de Jontiem, na Tailândia, no início dos anos 1990, obrigou seus signatários ao cumprimento de metas educacionais que ainda estão em vigência em nosso país (plano decenal de educação e sua extensão). O aporte de tecnologias que desempenham altos índices de desemprego. A mudança de uma centralidade da indústria para o comércio.

Para ressaltar a continuidade dos protocolos nos governos sociais, basta lembrar que um nome se manteve sempre ligado às suas determinações, Joaquim Levy, importante membro da oligarquia financeira brasileira, presidente do Bradesco Asset Management de 2010 a 2014, doutorou-se na Universidade de Chicago e foi aluno de Milton Friedman, estrategista econômico de Fernando Henrique Cardoso durante seus mandatos, e antes disso esteve soprando aos ouvidos do então presidente Collor de Melo as vantagens da desburocratização e as evidências de que o automóvel brasileiro era uma carroça, argumentos para a abertura devassada das fronteiras alfandegárias e ao maior projeto de desindustrialização da história do capitalismo, defensor e conselheiro da política de uma economia de confiança da classe capitalista que marcou os mandatos de Lula, fruto de sua aliança, ainda durante a campanha eleitoral de 2001, em que Lula, para tranquilizar os banqueiros, assinou o acordo econômico com o FMI que garantia um excedente orçamentário de 3%.

A adoção por Lula de políticas orçamentais conservadoras foi acompanhada pelas suas políticas de austeridade, redução de salários de funcionários públicos e de pensões, bem como de proporcionar apenas aumentos marginais no salário mínimo. Acima de tudo, Lula apoiou todas as privatizações corruptas que tiveram lugar sob o anterior regime Cardoso. No fim do primeiro ano de Lula no governo, em 2003, Wall Street louvou-o como o “Homem do ano” pelas suas “políticas pragmáticas” e a sua desmobilização e desradicalização dos principais sindicatos e movimentos sociais. Em Janeiro de 2003, o presidente Lula da Silva nomeou Levy como secretário do Tesouro, uma posição que ele manteve até 2006 – o mais socialmente regressivo período da presidência Lula da Silva. Este período também coincidiu com uma série de escândalos de corrupção enormemente lucrativos, de muitos milhares de milhões de dólares, envolvendo dúzias de altos responsáveis do PT no regime Lula que recebiam comissões clandestinas das principais companhias de construção. (James Petras)

Finalmente Joaquim Levy seria premiado publicamente ao ser escolhido por Dilma Rousseff para o cargo de ministro das Finanças em 2014 para impor sua “terapia de choque”, estabelecendo a passagem para os governos ditos “de direita” que herdariam o butim da nação moribunda para continuarem com os mesmos protocolos, em que foi até há pouco presidente do BNDES.

Mas em sua carta de demissão ao presidente Bolsonaro em 16 de junho de 2019, garantiu que a linhagem continua: agradeceu especialmente aos funcionários do BNDES, “que têm colaborado com energia e seriedade para transformar o banco, possibilitando que ele responda plenamente aos novos desafios do financiamento do desenvolvimento, atendendo às muitas necessidades da nossa população e confirmando sua vocação e longa tradição de excelência e responsabilidade”.

Os protocolos seguem, em linhas gerais, a globalização econômica que visa o que é conhecido como o modelo da taça de champanhe, em que os 20% mais ricos dividem 82% da renda mundial, enquanto os 80% disputam o resto. No entanto, os mais pobres, a grande base da taça, disputam apenas 1,4% da mesma renda. No meio, afunila-se rapidamente o restante.

Manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser meta suprema de qualquer governo. Para isso, seria necessário uma disciplina orçamentária, com a contenção com os gastos com bem-estar e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército industrial de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para incentivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Dessa forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas então às voltas com uma estagflação, resultado direto dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, a intervenção anticíclica e a redistribuição social, as quais haviam tão descontroladamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais houvessem sido restituídos. [7]

Os teóricos que responsabilizam os governos atuais, chamemos de populistas de direita, pelos danos advindos da aceitação dos protocolos neoliberais o fazem simplesmente pautados num apego ideológico que só pode ser classificado de oportunista, pois desde seu surgimento, o modelo atual não encontrou nenhuma resistência, seja à direita ou à esquerda, se analisarmos as estruturas do estado democrático.

Diante de tamanha iniquidade, não devemos nos surpreender com a busca massiva por salvação que tem lotado todas as vertentes religiosas atuais.

Lembremos duas questões fundamentais para a compreensão do atual apego às ideologias e da ocultação das estruturas compreensivas que os modelos de estado revelam.

Importante salientar que a função da ideologia, qualquer que seja ela, é naturalizar a desigualdade, mas o recrudescimento dos discursos ideológicos de esquerda/direita permite dissimular as causas geradas e os efeitos danosos que a análise efetuada pelo modelo de estado é capaz de revelar:

Os conceitos de esquerda e direita estão ultrapassados?

Não, desde que sejam compreendidos no marco da democracia. No sistema democrático, há uma tensão permanente entre liberdade e igualdade. A primeira está associada à direita democrática, para a qual existe um conjunto indissociável de liberdades: a de expressão e organização, a econômica e a de pluralidade de opiniões. Já o conceito de igualdade está associado à esquerda democrática, que defende a necessidade de restringir um pouco a liberdade econômica para que as desigualdades não cresçam muito. As democracias maduras oscilam entre a direita e a esquerda, em busca ora de mais liberdade, ora de mais igualdade. Essa é a história das eleições na Europa e nos Estados Unidos no último meio século. Acredito que a história do Brasil também será essa. Trata-se de algo muito diferente dos conceitos de esquerda e direita não-democráticas, estes, sim, ultrapassados.

Em certos círculos, dizer que algo é “de direita” serve para desqualificar desde filmes até valores morais. Qual é a explicação para esse uso do termo “direita”?

A palavra “direita” esteve associada no século XX ao fascismo e ao nazismo. Tais regimes foram condenados de maneira absoluta pela população mundial. Em países da América Latina, em particular, a direita foi ligada a regimes militares. Por isso, no Brasil, a expressão “direita” ainda é usada, embora cada vez com menor frequência, como sinônimo de tudo o que deve ser rejeitado. Já o termo “esquerda” costuma ser relacionado a uma ideia de transformação humanista do mundo, imaginada a partir da Revolução Francesa e das lutas sociais do século XIX. [8]

Se em 2008, a pergunta fazia sentido, pois tais dicotomias haviam sido diluídas depois do fim da guerra fria; em 2013 foram ressuscitadas pelo seu sentido pior durante a revolta do vinagre, para se contrapor à ideia de que a direita se constitui de valores ruins e fascistas manifestaram uma esquerda de valores humanitários e naturalmente bons. Nisso, a estratégia foi bem sucedida em dividir um movimento emergente e extremamente perigoso, inaugurando um novo ciclo de ódio por meio de ideologias rasas e obscurantistas. A velha lógica do dividir para anular e esvaziar a potência.

As aspirações por igualdade resultaram em desejo de consumo e empoderamento e as por liberdade, no pensamento dicotômico que marca o absolutismo liberal (farinha pouca meu pirão primeiro) das novas gerações. E no entanto, e novamente é Byung-Chul Han quem nos fala, “quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”.

Tais diretrizes ocultam um estado que se naturaliza pelo fracasso das relações coletivas em nome desse comportamento liberal de seus membros. Nesse mesmo sentido, as políticas de identidade só reforçam aspectos liberais revestidos das sensibilidades da esquerda que, segundo Mujica, é uma posição filosófica perante a vida, onde a solidariedade prevalece sobre o egoísmo. Achille Mbembe, filósofo camaronês, reconhece a função dessas ideologias na frase reveladora: “As desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo. Mas, longe de alimentar um ciclo renovado de lutas de classe, os conflitos sociais tomarão cada vez mais a forma de racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais.

Penso que cabe aqui uma reflexão. Se a liberdade é nossa capacidade de escolher uma vida digna e boa pra se viver, e leia-se como vida digna uma existência sem a indignidade da desigualdade, então era preciso garantir que quando chegássemos à tão sonhada democracia, não fôssemos livres e aceitássemos a desigualdade como saudável, natural e inevitável, cumprindo assim a máxima de Lampedusa de que é preciso mudar pra que tudo permaneça como está.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e permacultor.

Citações:

[1] Michael Moorcock in: As aventuras de Luther Arkwright, Vol. 2. São Paulo, Via Lettera, 2001, p.4-5

[2] Araújo, André. A Escola do Rio. São Paulo, Ed. Alfa Omega, 1998.

[3] Anderson, Perry. Histórias e lições do neoliberalismo. In: Houtart, F. & Polet, F. O outro Davos, mundialização de resistências e de lutas. São Paulo, Cortez, 2002, p.30.

[4] A mesma pesquisa revela que foi o setor agropecuário aquele que mais perdeu postos de trabalho e que ainda detêm 26% de todo o pessoal ocupado, enquanto em países desenvolvidos esse percentual não passa de 6%. Daí infere-se que o número de postos de trabalho nesse setor ainda deverá ser em muito enxugado.

[5] Jornal Folha de S.Paulo, 18/01/04, p.B 1.

[6] Grupo Krisis. Manifesto contra o trabalho. São Paulo, Conrad, 2003, p.84-6.

[7] Anderson, Perry. Balanço do neoliberalismo.

[8] Revista Veja, 5 de novembro de 2008, p.19-20.

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Aliança pelo Brasil e o Antifascismo

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Vitor Ahagon*, Pragmatismo Político

No dia 21 de novembro de 2019, foi fundado em Brasília um novo partido, o Aliança pelo Brasil (APB). A criação deste partido teve à frente o “clã” Bolsonaro, marcando uma nova etapa do Bolsonarismo. As origens desta ideologia começou há algum tempo, na qual podemos remontar os primeiros mandados de Jair Bolsonaro como vereador do Rio de Janeiro e depois como Deputado Federal. Concorrendo as eleições, cresceu de maneira exponencial e com a eleição de Bozo à presidência e, agora, com a fundação do APB, o Bolsonarismo finalmente se institucionaliza.

O programa do APB é composto por sete páginas, utiliza palavras simples e diretas, parte de uma perspectiva histórica revisionista rasa que envergonharia até mesmo o mais conservador dos historiadores, e é dividido em apenas cinco pontos: 1. Respeito a Deus e a Religião; 2. Respeito à memória, à identidade e à cultura do povo brasileiro; 3. Defesa da vida, da legítima defesa, da família e da infância; 4. Garantia da ordem, da representação política e da segurança; 5. Defesa do livre mercado, da propriedade privada e do trabalho. Ou seja, o programa do APB é expressão da superficialidade e tosquice do “clã” Bolsonaro e do próprio Bolsonarismo.

Mas se levarmos o programa do partido a sério – como penso que devemos fazer –, podemos entender qual é o lugar da simplicidade e tosquice do projeto Bolsonarista. Num sentido estético, o texto do programa, com apenas sete páginas, torna-se mais acessível a um público que não têm o tempo de ler grandes textos e como é escrito de maneira simples expondo suas ideias de forma direta, não requer tanta atenção do leitor, sendo facilmente assimilável. Podemos ler o programa de cabo a rabo durante o trajeto ao trabalho no ônibus ou metrô e ainda sobra um tempo para entrarmos no instagram, facebook ou twitter e, quem sabe, até compartilhá-lo nestas redes.

Outro elemento que faz do programa ser facilmente assimilável ao grande público é a maneira como analisa a realidade política, econômica e cultural brasileira. Dividindo a população entre “os bons e os maus”, o Bolsonarismo utiliza-se do maniqueísmo que habitualmente estamos acostumados a interpretar pessoas, situações, ações e a própria realidade. Alçando-se, obviamente, na posição dos “bons”, os Bolsonaristas relegam a todas as pessoas que não partilham de sua perspectiva à condição de “maus”, e como negamos a possibilidade da existência do mal em nós mesmos, somos envolvidos de forma quase que espontânea à sua narrativa.

Mas se queremos nos opor ao Bolsonarismo, não podemos nos filiar à maneira como analisa as relações interpessoais, políticas, econômicas, sociais e culturais. Portanto, devemos nos abster do maniqueísmo e buscar outras ferramentas que possam nos ajudar a analisá-lo para combatê-lo. Felizmente, a história dos movimentos de resistência ao fascismo nos relegaram lições que podemos nos ater.

Uma dessas lições seria a de interpretar os movimentos de extrema-direita através de uma análise dialética e/ou antinômica. Portanto, o bem e o mal do maniqueísmo dá espaço às contradições dos processos históricos, projetos políticos e de todas as relações sociais. Neste sentido, o conjunto dos elementos apresentados como “bons” pelo Bolsonarismo, são na realidade um projeto de poder que tenta se impor à toda a sociedade e que produz o seu contrário. Tais elementos, têm suas raízes nas práticas e na cultura conservadora brasileira e suas oposições são expressas nas lutas sociais que foram encampadas pelos movimentos de resistência.

Então, quando o APB nos fala que a relação entre Nação e Cristo é intrínseca, fundamental e inseparável, mobiliza um sentimento fundamentalista religioso e nacionalista que nos atravessa profundamente, negando a importância das religiões de matriz afrodescendentes para a constituição cultural da sociedade brasileira. Quando se compromete à restauração da língua portuguesa como pilar de sustentação da nação, rechaça todos os povos indígenas e outros que buscam resgatar suas línguas tradicionais e que constituem suas identidades culturais. Quando apresenta a questão do aborto como uma traição social somado ao combate à erotização da infância e a ideologia de gênero, demoniza o movimento feminista e LGBTQI+ que lutam por pautas que visam combater o patriarcado e a heteronormatividade a mais de um século. Quando defende o direito de possuir e portar armas para a sua defesa e de seus bens, incita o belicismo próprio a uma cultura militarizada. E, finalmente, quando diz garantir segurança jurídica ao empreendedor, gerador de empregos, declara guerra à classe trabalhadora.

Afortunadamente, quando observamos a história das lutas sociais no Brasil, não vemos a imagem criada pelo APB de um povo lúdico, paciente e cordial, muito pelo contrário. No que se refere ao fundamentalismo religioso, desde o período do Império houve no Brasil um movimento de resistência anticlerical que questionou a relação promíscua entre política e religião. Tal movimento ganhou radicalidade ao longo de sua existência, na qual podemos observar suas estratégias de luta e organização melhor definidas no jornal A Lanterna, dirigido pelos anarquistas Benjamin Mota de 1901 a 1904 e por Edgard Leuenroth de 1904 a 1935, com alguns intervalos de publicação.

Leia aqui todos os textos de Vitor Ahagon

No que diz respeito ao nacionalismo e a defesa da propriedade privada, os movimentos e partidos socialistas, comunistas e anarquistas pregam a solidariedade internacional da classe trabalhadora frente à exploração e opressão internacional do capitalismo. Inclusive, foi justamente na Associação Internacional dos Trabalhadores que estas ideologias foram desenvolvidas a partir da reflexão de que a emancipação da classe trabalhadora só seria possível mediante a internacionalização da luta ou guerra de classes tendo em vista o horizonte da Revolução Social mundial. As correntes do socialismo nacionalista, estão em contradição direta à história do movimento socialista internacional revolucionário, o que produz contradições que só fazem perpetuar o conservadorismo e reacionarismo, como é o caso do stalinismo.

Contra o belicismo de uma cultura militarizada proposta pelo APB, a história das lutas sociais no mundo nos dão lições importantes, pois foi através da luta antimilitarista que a classe trabalhadora se organizou internacionalmente contra a primeira e a segunda guerras mundiais, negando o serviço militar obrigatório pela objeção de consciência e realizando manifestações massivas contra a guerra. Podemos citar também, a experiência dos Panteras Negras que realizavam a autodefesa de seus territórios e comunidade contra a violência policial em várias partes dos Estado Unidos dos anos 1960 e 1970, e no Brasil, existiram diversos grupos de guerrilha de autodefesa da classe trabalhadora e camponesa contra a Ditadura Civil-Militar.

No que se refere a luta contra o patriarcado, o movimento feminista e LGBTQI+ nos fornecem lições tanto no que diz respeito às táticas e estratégias quanto na produção teórica e organizativa para todos os movimentos de resistência. É o caso, por exemplo, das produções teóricas de Angela Davis, Judith Butler, Emma Goldman, Maria Lacerda de Moura, as mulheres curdas e muitas outras ao refletirem uma nova epistemologia, como é o caso da interseccionalidade entre classe, raça, sexualidade e gênero e da Jinealogia (ciência feminista curda). Mas também a nível organizativo, na medida em que refletem sobre a própria estrutura de poder no interior das organizações socialistas, comunistas e anarquistas, no qual podemos citar as experiências das Mujeres Libres na Espanha e sua atuação na anarcossindicalista Confederación Nancional del Trabajo e do Confederalismo Democrático, YPJ e o protagonismo das mulheres na Revolução Curda.

Por fim, um último traço do Bolsonarismo e as experiências históricas das lutas sociais no Brasil e no Mundo, é o Colonialismo e as lutas anticoloniais e decoloniais. Fora as experiências já citadas dos Panteras Negras que combatiam o racismo nos EUA e o Confederalismo Democrático no norte da Síria, podemos também ter como horizonte de experiência de luta, o movimento indígena no Brasil, que está em resistência desde o momento em que o branco pisou o pé por estas terras e disse “é meu”. Duas referências do movimento são Ailton Krenak, que recentemente lançou o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, e o Yanomami Davi Kopenawa, que no dia 4 de dezembro de 2019 ganhou o prêmio Right Livelihood, mais conhecido como “Nobel Alternativo”, por sua longa trajetória de luta em defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. Acerca da resistência indígena em outras partes do mundo, vimos qual é o peso do movimento nas recentes mobilizações em toda a América Latina. No entanto, no meu ponto de vista, dos movimentos indígenas o mais criativos e que tem a minha grande admiração são os neozapatistas do sul do México na região de Chiapas. Este movimento tem suas origens por volta da metade dos anos 1980 e que em detrimento da ALCA no dia primeiro de janeiro de 1994, se insurge contra o neoliberalismo. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) é o braço militar sem ser militarizado do movimento zapatista e que consegue garantir, até hoje, a construção de uma forma de organização autônoma ao Estado e ao capitalismo neoliberal a partir do que eles chamaram caracoles. Uma experiência revolucionária em andamento e que devemos estudar com maior atenção e respeito.

Portanto, todo conjunto de elementos que o Bolsonarismo carrega em si e que foi institucionalizado por Bolsonaro na fundação do APB, fundamenta o que podemos chamar de um Neofascismo brasileiro. Em oposição ao Bolsonarismo, a história das lutas sociais no Brasil e no mundo, nos relegam análises, perspectivas, estratégias, táticas e formas de organização muito eficientes para combate-lo. Contra o fundamentalismo religioso, o anticlericalismo. Contra o nacionalismo, o internacionalismo. Contra o patriarcado, o feminismo e a questão de gênero. Contra o militarismo, o antimilitarismo e a autodefesa. Contra o colonialismo, a luta do movimento indígena e negro anticoloniais e decoloniais. Contra a defesa da propriedade privada, a Guerra de Classes.

*Vitor Ahagon é professor de história e membro da Biblioteca Terra Livre

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Damares Alves demonstra força entre os mais pobres e preocupa a esquerda

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Damares Alves demonstra força pobres preocupa esquerda
Damares Regina Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (Imagem: Marcos Corrêa | PR)

Felipe Betim, ElPaís

Quarta-feira, dez horas da noite. Sob o olhar atento de seguranças, centenas de pessoas deixam o faraônico Templo de Salomão após mais um culto. Marcos Paulo, de 26 anos, está passando as férias com a família em São Paulo e não queria deixar de conhecer a sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus. “Sou cristão há menos de seis meses. Entrei na igreja através da minha família, porque percebi a mudança na vida dela. Eu estava num caminho meio perdido, não estava feliz”, conta o rapaz, oriundo do Mato Grosso do Sul e formado em Direito.

Ainda estou desempregado e estudando para concurso, mas Deus tem agido na minha vida”, completa. Por causa de seu contato com a Igreja Evangélica, conta que vem acompanhando o trabalho da pastora Damares Alves, atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Governo Jair Bolsonaro. “Sou a favor de suas declarações, até porque ela é uma pessoa cristã, uma mulher de Deus, com uma visão do seio familiar. Ela tem tudo para fazer o país caminhar”, argumenta.

Na mesma linha opina Giovana Oliveira, de 27 anos. Ainda que ache que Damares soa às vezes “um pouco brusca demais”, acredita que seu trabalho tem tudo para dar certo, sobretudo se o Governo passe os recursos necessários para abrir “espaços de apoio” para as pessoas. Ela esclarece que não se trata de clínicas médicas, mas sim de lugares onde a pastores evangélicos possam oferecer algum tipo de apoio psicológico ou acolhimento para aqueles que precisam. “Por exemplo, se uma mulher está se separando, ela não vai poder se apoiar no marido. Se alguém está com depressão, com problemas com álcool ou drogas, ela precisa de ajuda… E quem dá esse apoio é a Igreja”, explica.

Damares, “mãe, pastora evangélica, educadora e advogada”, como se apresenta para seus mais de 680.000 seguidores do Twitter, assumiu seu cargo no ano passado dizendo que “o país é laico, mas esta ministra é terrivelmente evangélica”. Desde então vem ocupando o noticiário com declarações que atraem ultraje e aplausos e acenando com a aplicação de políticas conservadoras. A mais recente está relacionada a uma campanha voltada para jovens pregando a abstinência sexual. É com essa abordagem que ela pretende enfrentar problemas importantes, como a gravidez na infância e o aumento das doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens.

O argumento que eu estou buscando é: uma menina de 12 anos não está pronta para ser possuída. Se vocês me provarem, cientificamente, que o canal de vagina de uma menina de 12 anos está pronto para ser possuído todo dia por um homem, eu paro agora de falar”, argumentou ao jornal Folha de S. Paulo neste domingo.

Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, publicada também neste domingo, voltou a defender a política governamental: “Eu pergunto: que dano eu vou trazer para uma criança ao dizer para ela: ‘espera mais um ano’, ‘espera um pouquinho’?. Não vamos eliminar os outros métodos preventivos. Vamos continuar falando da camisinha; vamos continuar falando da pílula; vamos continuar falando dos outros métodos. O que a gente quer, aqui na lista de métodos (contraceptivos), é apresentar mais um. O não ficar agora. Esperar um pouco mais.”

As declarações de Damares dizendo não se opor a métodos contraceptivos se contradizem com a nota técnica preparada por sua pasta para orientar a campanha, a ser operacionalizada em conjunto com o Ministério da Sáude. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a pasta sustenta em documento obtido pelo jornal que ensinar métodos contraceptivos para esse público “normaliza o sexo adolescente”. O texto diz ainda que a prática do sexo na pré-adolescência leva a “comportamentos antissociais ou delinquentes” e “afastamento dos pais, escola e fé”.

Para Valéria Vilhena, fundadora do grupo Evangélicas pela Igualdade de Gênero, alguns dos argumentos públicos de Damares ecoam e são de senso comum. Mas as soluções que propõe estão, em sua visão, mas relacionadas com a agenda conservadora de setores majoritários da Igreja Evangélica do que com as práticas recomendadas por especialistas na matéria. “Olhando assim, quem é contrário a uma fala dessa? Ninguém. E é muito simples, dialoga muito bem com pessoas pouco escolarizadas, exatamente porque está fora do contexto”, explica.

Damares não leva em consideração dados e estudos que mostram que a maioria dos estupros ocorrem em meninas de até 13 anos. Quando falamos de gravidez precoce, não estamos falando de meninas que ainda são imaturas e que resolveram fazer sexo de maneira irresponsável. Estamos falando de meninas vulneráveis que sofrem abusos”, acrescenta. Vilhena opina que Damares é “uma figura perigosa” justamente porque “trata com deboche temas sérios“.

O resultado das declarações, ideias e políticas de Damares ainda não são mensuráveis, mas vem agradando parte significativa do eleitorado. É o que diz a mais recente pesquisa Datafolha, de dezembro, na qual Damares é aprovada por 54% do total de evangélicos do país ―eles representam hoje pouco mais de 30% da população brasileira, atrás apenas dos católicos, que ainda são 50% do total. A pesquisa vai além e mostra a pastora evangélica como uma ministra bastante popular, atrás apenas do ex-juiz Sergio Moro, que ocupa da pasta da Justiça, e à frente de Paulo Guedes, ministro da Economia.

Conhecida por 55% da população, ela marcou 43% de ótimo bom, 27% regular e 26% ruim/péssima. “Ela é muito forte no Governo e dificilmente cairia. Mesmo que não seja um ícone, reconhecida por toda a população, sua trajetória evangélica traz sensação de reconhecimento”, explica Jacqueline Teixeira, doutora em antropologia social, professora e pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo (USP).

Mais: à diferença dos demais ministros, e guardadas as margens de erro diferenciadas de cada recorte, sua popularidade se distribui mais equilibradamente. Também é forte nos setores populares onde o lulismo é tradicionalmente mais relevante após a passagem do PT pelo Governo. Damares possui o apoio de 39% daqueles que tem renda familiar mensal de mais que dez salários mínimos, 43% de dois a dez salários e 42% entre aqueles com menos de dois salários mínimos. Para efeito de comparação, Sergio Moro, que possui 53% de aprovação na média geral, sobe a 73% na faixa de renda de mais de 10 salários mínimos e desce a 46% na fatia mais pobre. A ministra também pontua bem entre todas as faixas etárias e até entre aqueles que simpatizam com o Partido dos Trabalhadores (PT): 29% dos eleitores petistas também aprovam a ministra.

Nem todo mundo que vota no PT é do PT. São pessoas que gostam do PT, que reconhecem e se identificam com o PT e o que foi feito, mas… A gente não pode dizer que é de direita, mas essa coisa do costume é algo muito forte. As pessoas ficam cegas diante disso”, explica a deputada federal Benedita da Silva, do PT carioca e frequentadora da Assembleia de Deus.

Para Benedita, que atua como coordenadora nacional do núcleo evangélico do partido, Damares “se coloca no lugar da família ideal, da família perfeita, que o Governo fala que está ameaçada pela esquerda”. Um tema sensível tendo em vista que a população brasileira é, de forma geral, conservadora, ainda segundo a parlamentar.

Em defesa da mulher e da família

A antropóloga Jacqueline Teixeira, que mergulhou em projetos relacionados com questões de gênero e direitos reprodutivos dentro da Igreja Universal, e que agora vem se debruçando sobre a gestão de Damares, destaca a trajetória de vida e política da atual ministra. Ao contrário de outras membros do Governo, ela possui experiência no legislativo e na máquina pública. Foi secretária de assistência social de São Carlos, no interior de São Paulo, e durante os últimos 20 anos foi assessora parlamentar de deputados da bancada evangélica. Fundou a Anajure, associação de juristas cristãos com forte influência em Brasília, e envolveu-se diretamente em discussões sobre violência contra a criança e contra mulher ―sobretudo após a aprovação da lei Maria da Penha, a qual apoiou. Por outro lado, colocou-se como ferrenha militante anti-aborto e ajudou a difundir a ideia de que a educação sob o PT ensinava a chamada “ideologia de gênero”.

Em suma, Damares, de 55 anos, sempre foi o canal direto entre projetos produzidos no seio da Igreja e as pautas que circulavam no Parlamento. “Além de tudo, ela é mulher e filha de um pastor da Igreja missionário. Viveu em oito Estados do Brasil, o que também ajuda a produzir essa sensação de capilarização, de ressonância“, explica a professora da USP. “Tudo isso ajuda a configurar essa aliança da atual gestão com os evangélicos e a conferir certa confiança desses setores populares com relação ao Governo”, acrescenta. “Mas essa aliança ainda é instável”.

Além de ser uma das duas mulheres a ocupar o primeiro escalão do Governo Bolsonaro, Damares é um dos membros mais estridentes dessa gestão. “Muitas pessoas tem dito que ela é louca, mas temos que tomar cuidado. Nesse exercício de transformar políticas de igreja em políticas públicas, ela consegue se comunicar com segmentos da população”, argumenta Teixeira. O ElPaís solicitou uma entrevista com a ministra, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Damares é um ponto fora da curva, mesmo dentro da bancada evangélica na Câmara. O grupo é formado majoritariamente por homens brancos conservadores e ricos, enquanto que a população protestante no Brasil é formada majoritariamente por mulheres pobres e negras. Pesquisadores vêm apontando que os evangélicos estão longe de ser um grupo homogêneo, com pensamento único ―o fato de Damares ser cristã e possuir uma trajetória política de décadas dificilmente explica por completo sua popularidade.

De alguma forma, a ministra reflete as contradições e anseios desse contingente. Além de ser mulher, como a maior parte do país, foi vítima de violência sexual e doméstica quando criança. Não foge de abordar temas caros para setores progressistas, como o racismo e a causa indígena. Ao mesmo tempo que propõe a campanha pela abstinência sexual, irritando até pastores como Silas Malafaia, cita dados da Unicef sobre gravidez precoce ou estatísticas que mostram epidemias de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. E não diz ser contrária a que a educação sexual seja abordada nas escolas ―ainda que, na prática, especialistas digam que o atual governo vem freando avanços nessa área, quando, por exemplo, expõe veto a material que trate de diversidade sexual e de gênero.

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Querendo ou não, ela sempre trabalhou em assessorias voltadas para determinados direitos civis, diferentemente de outros membros do Governo. Então ela vai sempre ter uma posição minimamente mais humanizada ou moderadamente mais progressista que os demais, porque ela constituiu sua própria trajetória nessas discussões sobre direitos civis e humanos”, explica Teixeira.

Além disso, Damares não raro diz ser uma mulher “empoderada”, passando a ideia de que enfrentou vários obstáculos e venceu todos eles antes de ocupar um cargo no primeiro escalão do Governo. “Essa dinâmica do empoderamento não está só com o feminismo e a esquerda. As igrejas, mesmo tendo que lidar com noção de submissão, precisa dar sentido, ressignificar essa palavra, mesmo você sendo uma mulher evangélica”, acrescenta a antropóloga.

Essa mesma mulher forte e empoderada é também a “mãe Damares” que reforça os valores da família tradicional diante de um mundo em constante mudança. Um medo dos recentes avanços que está relacionado, segundo a professora da USP, com as teologias “muito apocalípticas” que circulam e que “de alguma maneira estão remetendo a uma ideia final e de pensar em mecanismos de salvação, de políticas mais radicais”. Mas sua mensagem é também de cuidado e de acolhimento diante das dores cotidianas.

Na última campanha para a prefeitura do Rio, Marcelo Crivella [bispo licenciado da Igreja Universal e atual prefeito da capital fluminense] falava que iria ‘cuidar das pessoas’, enquanto Marcelo Freixo dizia que não iria cuidar, mas sim ‘trabalhar junto’. Mas as pessoas já trabalham demais, sofrem demais. Elas querem cuidado mesmo”, explica o professor e historiador João Bigon, evangélico da Igreja Batista e coordenador do Movimento Negro Evangélico no Rio de Janeiro.

Morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, além de mestrando em relações étnico-raciais, Bigon explica que a defesa dos valores familiares nem sempre está relacionado com uma ideologia conservadora. “As pessoas que moram em favelas e periferias muitas vezes só têm isso, a família. Para elas, a defesa da família muitas vezes não é uma questão ideológica, mas sim uma lógica de proteção”, argumenta. Ele conta que muitas mulheres buscam igrejas justamente em contexto de fragilidade familiar: por exemplo, quando está sofrendo violência doméstica e teme denunciar para a polícia, quando o marido está abusando do álcool, o filho está na vida do crime… “E a mulher busca no sagrado um reforço para unir uma família. Ela luta o tempo todo pra trazer esse filho ‘desgarrado de valores cristãos’ e a igreja muitas vezes consegue resgatá-lo. Ela diz que é pecado beber, usar droga, cria uma mentalidade que faz com que se afaste disso tudo”, explica Bigon.

Teixeira segue na mesma linha: “A defesa da família está focada no único lugar possível existência. Ela simboliza uma espécie de segurança dentro de territórios pós-coloniais como o nosso, permeados pela sensação de violência, vulnerabilidade e instabilidade”.

Por sua vez, o antropólogo Lucas Bulgarelli usou o Twitter para lançar pistas dos motivos pelos quais o discurso sobre abstinência pode se mostrar atrativo até para pais que não se consideram conservadores. “A ideologia de gênero tem sido uma das ferramentas mais bem sucedidas da direita no Brasil. Ao disputar o sexo e o gênero no campo da política, oferece uma compreensão de mundo bastante útil para quem questiona se está sendo um bom pai ou mãe. Porque [isso] localiza as dificuldades sobre o sexo e a sexualidade como um elemento externo ao núcleo familiar e contrário a seus valores. Um mal, portanto, que vem de fora para dentro por contaminação, podendo, por consequência, ser combatido”, escreveu Bulgarelli.

Vinculado também a movimentos sociais progressistas, Bigon lembra de alguns debates que vivenciou com não-evangélicos. Como quando um vídeo que viralizou nas redes mostrava uma Damares relatando ter visto Jesus em um pé de goiaba no momento em que se pensava em se matar. “Aquilo virou meme, muitos riram e inclusive passaram a duvidar de sua sanidade mental”, recorda. “E eu disse: não podemos tratar dessa forma uma experiência que foi só dela, porque essa experiência, por mais absurdo que pareça, vai de encontro ao coração de muitos brasileiros que vão dizer que já aconteceu algo parecido. É a experiencia de fé do indivíduo e com o que ele acredita”, prossegue.

Incômodo progressista

Nas eleições de 2006 e 2010, a maior parte da população protestante votou nos candidatos do PT ―que mantinha uma aliança pragmática com lideranças evangélicas― nas eleições presidenciais. Algo que mudou sensivelmente nas eleições de 2014, quando a maioria apoiou o tucano Aécio Neves. Mas a distância aumentou radicalmente em 2018, quando cerca de 70% dos eleitores evangélicos apoiaram Bolsonaro. Em entrevistas recentes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem defendendo que seu partido se empenhe em reconquistar essa importante fatia do eleitorado.

Eu assisti, na cadeia, a muito culto, muita gente rezando. E eles estão entrando na periferia, porque o povo, quando está desempregado e necessitado, a fé dele aumenta”, afirmou o petista ao portal UOL neste domingo. “Acho que o papel do Estado é ser laico, não ter uma posição religiosa. Mas o que o PT tem que entender é que essas pessoas estão na periferia, oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual, uma saída que mistura a fé, com o desemprego, com a economia”, complementou. “As pessoas estão ilhadas na periferia, sem receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante que está na periferia. De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica, que também tem uma atuação forte ainda”.

A deputada petista Benedita da Silva faz uma autocrítica ao admitir que em determinados aspectos o PT deixou de dialogar diretamente com os evangélicos. Ela argumenta, no entanto, que o caminho para reverter isso não passa por usar o púlpito para fazer política. “O PT tem um projeto de inclusão social. Temos que falar sobre emprego, violência, políticas públicas“, opina.

Também destaca que a disputa não deve se dar com a religião em si, mas com instituições religiosas que possuem um projeto de poder. “Temos que deixar claro que a fé é algo de cada um e que será sempre respeitada“. Questionada sobre como a esquerda vai abraçar as pautas feminista e LGBT ao mesmo tempo que dialoga com evangélicos conservadores, insiste em dizer que “a base da discussão e da formação política não deve estar voltada para a questão da fé, mas para os direitos individuais e coletivos, para a prática do dia a dia e não para a teoria”.

Isso significa, por exemplo, deixar claro que “ninguém vai obrigar um pastor a realizar em sua igreja um casamento homoafetivo”, um tema que “deve ser tratado no âmbito civil, não da fé”, segundo explica Valéria Vilhena, do Evangélicas pela Igualdade de Gênero. “Não podemos deixar toda essa comunidade fora do diálogo, nos fechar e achar que são todos ignorantes, desprezando a capacidade de pensarem e também de saírem do senso comum”, opina.

Em outras palavras, explica a antropóloga Jacqueline Teixeira, “é preciso não demonizar a pessoa evangélica“. “Precisamos dar nome aos problemas, e o problema é o Silas Malafaia, é Bolsonaro… Mas uma pessoa que decide professar uma fé evangélica não é alguém que podemos necessariamente colocar 100% na direita conservadora ou como apoiadora do nazismo, porque elas são permeadas por muitas outras camadas e pertencimentos religiosos e políticos”, explica. “E se a maioria é formada por mulheres negras, a quem é que estamos nominando quando dizemos que evangélico é isso ou aquilo?”, questiona.

E conclui: “Precisamos ter uma postura que dê espaço para entender um pouco como essas pessoas estão pensando em relação à política sem necessariamente elegê-las como inimigos. Elas existem, mas existe um contingente imenso que está vivenciando isso sem necessariamente optar por um lado ou outro. Essas pessoas fazem uma leitura da política que não necessariamente é a do pastor. Elas também têm discernimento, e a partir disso precisamos pensar em pedagogias de diálogo e de troca de conhecimento”.

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A foto que desmonta a versão oficial da morte de Adriano da Nóbrega

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sítio adriano da nóbrega
A casa no sítio, na localidade de Palmeira, município de Esplanada (BA), onde Adriano da Nóbrega foi morto (Divulgação)

Marcelo Auler, em seu blog

Uma simples fotografia do sítio, localizado no início da rodovia estadual BA-233, no povoado de Palmeira, município de Esplanada (BA), a 170 quilômetros de Salvador demonstra, no mínimo, a incompetência – para não se falar em má fé – da polícia da Bahia. Estado que há muito é governado por petistas.

No interior desta casa, na manhã do domingo (09/02), sozinho, estava o mais procurado criminoso do Rio de Janeiro, o ex-capitão da PM-RJ, Adriano Nóbrega. Um verdadeiro arquivo do submundo do crime carioca. E testemunha das ligações da família Bolsonaro com este submundo. Do lado de fora havia entre oito e dez policiais, número que varia com a origem da notícia. Apesar disso, o foragido não conseguiu ser pego com vida. O arquivo foi apagado. Tal e qual o próprio Adriano previu dias antes.

Com essa simples fotografia cai por terra todo o argumento verbalizado pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, o delegado da Polícia Federal, Maurício Barbosa. Segundo ele, “tentamos, mais uma vez, trazer aqui a pessoa presa, mas a escolha, infelizmente, não foi da nossa equipe, foi de quem efetuou a resistência e quis confrontar com nossos policiais”.

Jamais se conseguirá saber ao certo se houve ou não a tentativa relatada pelo secretário. Nem o grau de resistência do ex-capitão do BOPE do Rio e chefe da milícia na capital fluminense. Mesmo que os fatos tenham ocorridos como descritos, o resultado apresentado mostra o despreparo da polícia baiana. Sua incompetência. O que, aliás, acaba por alimentar as suspeitas de uma ação premeditada, com os resultados desejados.

Afinal, a mesma fotografia da casa isolada na área rural reforça aquilo que o sociólogo e estudioso das milícias, José Cláudio Souza Alves, destacou em entrevista a Fernanda Mena – Sociólogo e estudioso das milícias José Cláudio Souza Alves questiona a ação policial -, na Folha de S.Paulo, na segunda-feira (10/02): “Estamos falando de um quadro simplificado: um cerco a uma casa no campo. Investiram recursos públicos para desembocar naquilo que é o oposto do desejável. É inacreditável.”

Pouco importa quantas armas Adriano dispunha quando foi cercado pelos policiais. Nem o fato de ser exímio atirador. Aliás, por outro relato da Folha de S.Paulo, na casa encontraram a marca de apenas um tiro na parede. Detalhe que permite se levantar suspeitas sobre a troca de tiros que alegaram ter ocorrido.

Da mesma forma que a quantidade de sangue que ficou no chão permite se suspeitar que o miliciano morreu no local. Levá-lo, para um hospital – onde ele chegou morto – permite a suspeita que desfizeram o local do crime para evitar perícia. Uma prática comum quando policiais querem esconder execuções. Tal como mostramos na postagem Ex-capitão Adriano, “arquivo morto” que perseguirá os Bolsonaros.

Outro detalhe chama a atenção, até mesmo de leigos. Adriano estava cercado e sozinho. Sem comparsas por perto. E cercado permaneceria. Bastava que assim o quisessem. Pelo tempo necessário. Poderiam até lhe cortar água, luz e alimentos.

Também não vem ao caso se eram oito ou dez soldados do lado de fora. Ainda que fossem poucos, bastava chamar por reforço.

Tampouco deveria interessar a pressa na operação de resgate do preso. Afinal, há mais de ano ele era foragido e, pela primeira vez tinham condições reais de capturá-lo vivo.

Operação de estupidez e ignorância

A regra em casos como este tem sido de se vencer pelo cansaço. Por uma negociação, para ele se entregar. Oferecendo-lhe garantias de que não seria torturado, como certamente cansou de fazer com seus inimigos e adversários. Mas preferiram invadir o imóvel, contrariando o bom senso em operações como esta:

“Uma operação de cerco lida mais com espera, controle e dissuasão do que com um confronto direto”, afirmou, na entrevista à Folha, Alves, que é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro “Dos Barões ao Extermínio – Uma História da Violência na Baixada Fluminense” (APPH, 2003).

Na mesma entrevista, ele lembrou: “Estamos falando de um quadro simplificado: um cerco a uma casa no campo. Investiram recursos públicos para desembocar naquilo que é o oposto do desejável. Não dá para falar em operação policial de inteligência, mas sim de estupidez e de ignorância.”

Para fazer o cerco e persuadir o foragido, porém, seria preciso ter o desejo de pegá-lo com vida. Isso parece não ter sido o objetivo daquela operação policial.

Afinal, com ele vivo, seriam grandes as possibilidades de se tentar extrair as informações que possuía. Informações de valor inestimável nas apurações dos crimes em que se envolveu. Porém, certamente, bastante comprometedoras para muitos.

Como os membros da família Bolsonaro, dos quais o miliciano, se não era próximo, tinha ao menos boas relações a ponto de merecer inúmeras homenagens e dedicações.

Uma relação muito bem desenhada pelo deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), em um gráfico que relembra o famigerado powerpoint da turma da Lava Jato, quando atacaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tal relação é que faz todo mundo concluir que a “queima de arquivo” promovida pela polícia baiana – do governo petista, recorde-se – beneficiará em muito o clã Bolsonaro. Em especial o hoje senador Flavio, que quando deputado estadual no Rio, empregou a hoje viúva de Adriano – Daniele – e a mãe do miliciano – Raimunda.

Duas servidoras que, por tudo que já se sabe, eram fantasmas. Recebiam sem comparecer ao prédio do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio. Provavelmente são daquelas servidoras do gabinete do então deputado que nem crachá tinham confeccionado. Não precisavam. Não tinham que trabalhar. Apenas repartir o que recebiam com o também amigo em comum dos Bolsonaros e de Adriano, Fabrício Queiróz. No famoso esquema da “rachadinha” que o Ministério Público do Estado do Rio anda a investigar.

A “queima de arquivo”, além de calar de vez Adriano, terá ainda seu efeito colateral. Imporá o medo aos demais envolvidos no esquema da “rachadinha”. A começar pela viúva e pela mãe do miliciano morto no domingo. Apesar da suposta raiva pela perda do ente querido que as duas devem estar vivenciando e do sentimento de vingança que podem estar nutrindo, elas saberão com quem não devem mexer. Ela e os outros ex-funcionários do gabinete de Flávio, na Alerj, cujos salários também foram divididos.

Portanto, a operação policial que o professor Alves classificou como “de estupidez e de ignorância” prestou um total desserviço à apuração do esquema da “rachadinha” envolvendo Flávio Bolsonaro.

Sem falar que, com a eliminação de Adriano, talvez informações importantes sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes podem estar sendo enterradas com ele. Mesmo sem que tivesse participado daquele crime, certamente ele teria o que informar a respeito.

Ao mesmo tempo, porém, a família Bolsonaro e o amigo Queiróz devem estar bastante agradecidos. Eles sabem que serão cobrados sempre das ligações com Adriano. Mas poderão ser cobranças sem provas. Sem testemunhos. Pois o principal deles foi queimado. Outros foram e estão amedrontados.

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PIB: Primeiro ano de Bolsonaro é pior do que os dois anos de Michel Temer

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O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em 2019, abaixo dos dois anos anteriores (1,3%), informou o IBGE na manhã desta quarta-feira (4). A agropecuária e o setor de serviços tiveram alta de 1,3%, enquanto a indústria avançou apenas 0,5%.

Com PIB de R$ 7,257 trilhões, o valor per capita subiu só 0,3% em termos reais, calculado em R$ 34.533. Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do instituto, Rebeca Palis, o PIB está no mesmo patamar do terceiro trimestre de 2013 — primeiro governo Dilma Rousseff.

O resultado já era esperado, depois de um último trimestre decepcionante, e reflete um cenário de incerteza e de sucessivos anúncios frustrados de “retomada” da economia.

A produção industrial seguiu patinando, por exemplo, e o mercado de trabalho não viu crescer a taxa de desemprego nos últimos meses, mas o emprego que se cria é, basicamente, informal. Os resultados mostram esse quadro de estagnação: a variação acumulada em quatro trimestres, em comparação com os quatro anteriores, mantêm sucessiva variação em torno de 1%.

O comércio teve crescimento em 2019, mas em ritmo menor. E no setor externo os resultados também não foram bons. E as previsões para este ano não são animadoras: analistas já começam a revisar suas projeções para baixo, e vários acreditam que o PIB de 2020 não chegará a 2%.

Ainda em relação ao comércio exterior, na divulgação de hoje o IBGE informou que as exportações caíram 2,5% no ano passado. Já as importações cresceram 1,1%.

O consumo das famílias subiu 1,8%, enquanto o do governo caiu 0,4%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um indicador de investimento, teve resultado positivo (2,2%), o segundo seguido. A taxa de investimento avançou ligeiramente (de 15,2% para 15,4% do PIB) e a taxa de poupança recuou (de 12,4% para 12,2%). A taxa de investimento já chegou a alcançar 20,9% em 2013.

Na indústria, o IBGE destaca o desempenho do setor de eletricidade, gás, água e esgoto, com alta de 1,9%. Do lado negativo, o setor extrativo caiu 1,1%.

“A maior contribuição para o avanço do PIB vem do consumo das famílias, que cresceu 1,8%. Pelo lado da oferta, o destaque foi o setor de serviços, que representa dois terços da economia”, destaca Rebeca Palis.

Reações

O crescimento pífio do PIB no primeiro ano de governo Bolsonaro rendeu uma série de memes nas redes sociais. A título de comparação, a ex-presidente Dilma Rousseff foi infernizada pela imprensa por entregar um PIB de 2,7%.

O pibinho de Bolsonaro

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Filósofo Daniel Innerarity defende um ‘reset’ radical da política

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Filósofo Daniel Innerarity reset radical política
Daniel Innerarity Grau
(Imagem: Juantxo Egaña | Wikimedia)

Miquel Alberol, ElPaís

O filósofo Daniel Innerarity Grau (Bilbao, 60 anos) é um dos grandes pensadores do mundo de acordo com a revista Le Nouvel Observateur. Sua solvência no âmbito do pensamento é provada em uma dezena de ensaios como La sociedad invisible (A Sociedade Invisível), Los tiempos de la indignación (Os Tempos da Indignação), Un mundo de todos y de nadie (Um Mundo de todos e de Ninguém) e La democracia del conocimiento (A Democracia do Conhecimento).

Agora, o professor de Filosofia Política e Social da Universidade do País Basco acaba de publicar Una teoría de la democracia compleja. Gobernar en el siglo XXI (Uma Teoria da Democracia Complexa. Governar no Século XXI, ainda inédito no Brasil), cuja primeira edição se esgotou em dois dias na Espanha, em que esboça a necessidade de transformar o sistema para sua sobrevivência.

Seu livro apresenta um plano de choque à democracia. Propõe uma democracia mais sustentada na biologia do que na física.

O paradigma das instituições modernas da democracia é a relação entre forças físicas tal como foram definidas por Newton e Laplace. Jefferson, por exemplo, gostava muito de física. Quando se analisa uma ideia tão fundamental ao sistema político como o checks and balances, pesos e contrapesos, é um universo de inércias e gravidade. A pergunta que abre o livro é se a reflexão política fez a passagem que as ciências da natureza realizaram, que desde então passaram por Einstein, Heisenberg, os avanços da neurociência, a teoria da emergência, das causalidades não lineares… Minha resposta é não. Ainda estamos pensando na política em um universo newtoniano.

No que a democracia ficou defasada?

Em quase tudo. Com exceção do núcleo de valores, de princípios normativos para os quais nunca encontraremos um substituto útil: a ideia de autogoverno, de igualdade, de representação, de deliberação, de justiça… Essas ideias não sofrerão grandes evoluções, a não ser que precisem se concretizar em contextos diferentes. Mas o restante das ideias… Nosso conceito de soberanias, territorialidade, autarquia, de poder, sofreram uma transformação que contrasta muito com a evolução feita pelos que se dedicam a pensar nessas coisas e os que exercem a política prática.

A questão, portanto, não são ajustes, e sim redefinir o sistema.

Projetamos um sistema para sociedades que cumpriam condições como simplicidade, autarquia, abrangência e instrumentos tecnológicos de pouquíssima sofisticação. E em 300 anos teremos um mundo interdependente, espaços abertos, soberanias compartilhadas em muitas regiões do mundo (ou pelo menos relações poliárquicas), uma sociedade muito mais plural, mais granular, mais diversificada… Já não funciona que os que estavam no Governo supostamente concentravam o maior nível de conhecimento frente a uma massa que sabia pouco. Hoje os Executivos precisam governar com subsistemas muito inteligentes. Isso significa um reset radical da política. Não estamos diante da típica reforma administrativa, sequer constitucional.

Essa redefinição é urgente?

Devemos realizar já certas revisões de nossos conceitos e o quanto antes, melhor. Para muitas coisas já chegamos tarde. Por exemplo a crise climática. Para a robotização, em parte, também. Mas esse é um processo que também tem um longo percurso. Deveríamos conseguir que as instituições políticas de vários formatos incorporem em seu estilo de governo dimensões cognitivas e reflexivas. Estamos passando de uma época em que as instituições estavam acostumadas a dar ordens a um mundo em que se deve dedicar o maior tempo possível a aprender.

Como fazer essa passagem ao “governo dos sistemas inteligentes” sem danificar seus princípios?

É o grande desafio. A direita costuma ter uma linguagem de adaptação: é preciso se adaptar às mudanças sem se preocupar muito pelos critérios de legitimidade que podemos estar carregando em certas adaptações. Em certa parte da esquerda, o que temos é um discurso de impugnação, da desordem do mundo, das injustiças e uma atitude receosa em relação às tecnologias e à globalização. Entre essas duas concepções equivocadas da vontade política (adaptação e repúdio) se abre todo um campo que deveria ser presidido por como conseguir realizar (não adaptar) os ideais irrenunciáveis da democracia em contextos e situações que vão mudando com o passar do tempo.

Sabemos como?

Não seria honesto apresentar meu livro como uma solução a todas essas questões. Meu livro pretende ser uma caixa de ferramentas para começar com essa tarefa. Não sei como construir o mecanismo, mas proporciono alguns instrumentos que podem ajudar muita gente, porque precisamos fazer isso entre todos: governantes que abandonem esse foco obsessivo no curto prazo e na escaramuça imediata, mas também a população, os veículos de comunicação…

O senhor considera que a principal ameaça da democracia é a simplicidade. Não é um contrassenso?

Simplicidade, no sentido da simplificação. Em uma versão dupla. Em primeiro lugar, há várias disfuncionalidades na política porque há um contraste entre os conceitos que recebemos e as realidades com as quais estamos lidando. Essa simplificação, conceitos políticos que levam em consideração a riqueza da sociedade e dos novos entornos, é a primeira. Mas há outro tipo de simplificação, mais de ordem prática, que tem a ver justamente com esse mundo da complexidade, cheio de incertezas em que estamos navegando como podemos, em que, pelo menos a curto prazo, os simplificadores têm todas as chances de ganhar. Quem oferece um consolo passageiro, um esclarecimento enganoso do panorama é recompensado em termos políticos.

Como Donald Trump e Boris Johnson?

Por exemplo. Quem fala de construir um muro para delimitar um espaço, todo mundo entende isso. Quem fala de recuperar um controle que havíamos perdido, mais da metade dos eleitores britânicos entende isso.

A democracia se torna complexa e a política se simplifica.

Ou, pelo menos, a política não tem o nível de complexidade adequado à sociedade que deve gerir. É o famoso princípio de Ashby de que não podemos desenvolver um sistema inteligente se não desenvolvermos um nível semelhante de complexidade. E se ele não existe, o que se deve fazer é transacionar e estabelecer uma relação mais horizontal. Quando o regulador é mais inteligente do que o regulado, a relação pode ser vertical e funciona bem; quando estão igualados, na verdade desequilibrados no sentido contrário, o que se deve fazer é obter informação, acertar com o regulado um certo tipo de troca entre informação e legitimidade.

O senhor fala de proteger a democracia de si mesma, ou seja, da imaturidade, fraqueza, incerteza e impaciência da população.

A soberania popular, para que não aja irreflexivamente, seja mais deliberativa e produza melhores resultados, precisa estar bem-organizada. O soberano tem a última palavra, mas também sabemos que se equivoca muitas vezes. Pensamos que a democracia é soberania popular e nos damos conta de que a autolimitação da soberania popular faz parte da soberania popular. De fato, todos nós o fazemos. Estamos colocando limitações no plano pessoal e coletivo para justamente ter uma maior liberdade.

A democracia é até um instrumento útil para os que pretendem atacá-la.

Não podemos proteger a democracia ao extremo de não correr alguns riscos. É um sistema aberto, em que há liberdade de expressão, em que qualquer um pode entrar (o direito de sufrágio passivo está aberto a todo mundo),… E mais, quando se horizontalizou muito e existem cada vez menos guardiões da porta: os jornais já não têm a verticalidade que tinham, os partidos não são organizações férreas, os próprios agentes políticos estão submetidos ao monitoramento de todos os pontos de vista… A democracia, por sua própria definição, será sempre um sistema de governo frágil e vulnerável. E precisamos aprender a gerir essa vulnerabilidade.

A perda de confiança nas instituições e intermediadores é uma causa ou um efeito do que acontece à democracia?

Todas as instituições que estabeleciam uma intermediação entre o público e o interesse geral foram desafiadas pela sedução do imediatismo. Já existem muitas utopias que colocam que o melhor esquema de agregação das microvontades é criar um dispositivo que sem nenhuma deliberação reunisse nossos desejos. Diante disso, defendo que uma política de mediações bem configurada pode ser mais igualitária do que a pura espontaneidade da agregação de vontades individuais através de telas de computador. A justificativa da mediação política é corrigir os vieses que estão na sociedade e nos sistemas informatizados: a defesa dos interesses que não podem se fazer valer em uma sociedade entendida como o choque e o combate espontâneo das forças em jogo, onde costumam ganhar, que casualidade, os que têm outro tipo de poder.

O senhor afirma que a categorização esquerda-direita também responde a uma simplificação da complexidade ideológica.

O que não significa que não possamos continuar utilizando-a e que não entendamos todos perfeitamente o que queremos dizer quando nos referimos à esquerda e à direita. Primeiro, precisamos pensá-la com um pouco menos de profundidade. Segundo, não se pode entender como a clássica contraposição Estado-mercado, da qual viemos. E terceiro, terá que conviver com outros eixos de confronto porque não são os únicos que funcionam na sociedade.

Dizer que a direita e a esquerda já não existem costuma ser um argumento de direita?

Uma pessoa que o diz costuma refutar a politização das coisas. E a despolitização das coisas costuma beneficiar os que já têm poder.

O independentismo é uma solução simples em meio a esse mare-magnum de complexidade?

É uma opção pessoal cuja plausibilidade aumenta na medida em que o sistema político é incapaz de canalizar com uma lógica democrática, deliberativa, de negociação, reivindicações fortes de identidade plurinacional.

A questão da Catalunha é um problema complexo abordado com muita simplicidade?

Sem dúvida. Falei com muitos líderes políticos sobre a Catalunha imaginando qual seria uma solução razoável praticável para o conflito catalão. Do ponto de vista teórico não há grandes dificuldades. Bastaria pensar de que modo a democracia se realiza em um sistema político composto, como o que temos. Pensar que a unidade de que se fala na Constituição é compatível com uma redistribuição diferente do poder. Idealizar mecanismos de reciprocidade, em virtude dos quais a cessão de uma parte seja compensada com a cessão de outra, e gerar um marco de confiança para uma negociação. O grande problema é quem o faz: quem tem liderança suficiente nos dois mundos, em um momento em que, além disso, os tea partys são numerosos, para explicar aos próprios que existem coisas melhores do que uma vitória. Por exemplo, um grande acordo.

As tensões territoriais estão na Catalunha, mas também em León e em Teruel. O Estado-nação está desmoronando?

No livro o que apresento é que temos que conceber os espaços políticos de uma maneira mais poliárquica. No conflito catalão há uma pressão porque não existe nenhuma assimetria em relação a outras comunidades autônomas, algo tremendamente disfuncional, porque não haverá uma solução na Catalunha se não existir uma especificidade reconhecida constitucionalmente. Depois vêm os casos como Teruel Existe e a Espanha Esvaziada. E Madri, como grande centro de sucção de recursos e com certas formas de competitividade de outros centros alternativos, como Barcelona, Valência, Sevilha e Bilbao. Estamos realmente diante de uma definição do espaço no qual queremos viver e isso, em si mesmo, não me parece um problema. Vê-lo com uma certa displicência, como se fosse uma espécie de retorno do tribalismo e de rebelião das províncias, me parece que reflete uma maneira muito elitista e muito madrilenha de ver as coisas. Isso dito por uma pessoa que gosta muito e sente-se muito bem em Madri.

Há uma disputa entre a cidade-Estado e a nação-Estado?

Sem dúvida. Madri é um exemplo de um centro em uma sociedade que já não pode se organizar a partir de um centro. A única maneira de se reorganizar a partir de um centro é fazê-lo de maneira tremendamente disfuncional e tremendamente desigual.

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Aos que virão depois de nós

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(Pawel Kuczynski)

Luís Felipe Machado de Genaro*, Pragmatismo Político

Eu queria ser um sábio. Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria: Manter-se afastado dos problemas do mundo E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra; Seguir seu caminho sem violência, Pagar o mal com o bem, Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los. Sabedoria é isso! Mas eu não consigo agir assim. É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

(Bertolt Brecht)

Hannah Arendt foi uma grande filósofa do século XX, apesar das inúmeras críticas – algumas muito recentes, inclusive – de movimentos libertários e progressistas a respeito de seus trabalhos e pensamento. Sua produção intelectual a marcou como uma das maiores questionadoras do século passado.

Afinal, o mal, ou aquilo que conhecemos filosoficamente como maldade (tendo em vista os pressupostos da filosofia ocidental) seria assim tão banal? Apenas Adolf Hitler, em seu púlpito maior, com o braço levantado e entre verborragias e trejeitos toscos seria o único “maldoso” daquele momento histórico tão peculiar? Ou a maldade era, simplesmente, “banal”? Não estaria ela “naturalizada” no operador de máquinas que transportou via trilhos de trem centenas de milhares para os campos de concentração, ou naquele soldado raso junto ao médico responsável, que fechava as trancas das fornalhas e das câmaras de gás?

Distantes de debater conceitos e indagações filosóficas tão acaloradas, me pego relendo “Homens em tempos sombrios”, de Arendt, (apesar de mulheres de peso, como Rosa Luxemburgo constarem em seus capítulos), e, frente ao momento vivido, não pude deixar de constatar: vivemos hoje, entre diferenças e semelhanças, em um período, ele também, sombrio.

Hannah Arendt escreve: “Os tempos sombrios, no sentido mais amplo que aqui proponho, não são em si idênticos às monstruosidades desse século [XX], que de fato constituem uma horrível novidade. Os tempos sombrios, pelo contrário, não só não são novos, como não constituem uma raridade na história”. De fato, a filósofa estava certa.

Umberto Eco, outro intelectual de peso, este mais progressista que a antecessora que mencionei, esgarçou estes tempos sombrios de forma aterrorizantemente atual – não no mês passado, em uma conferência de algum partido comunista ou socialdemocrata europeu – mas na Universidade de Columbia, em 25 de abril de 1995. Lembremos, novamente, Hannah Arendt: “os tempos sombrios não são novidade na história”. Em sua palestra sobre o “fascismo eterno”, o filósofo italiano cita os pilares básicos em que se assenta o Ur-fascismo, como denominou este mal tão banalizado no Brasil e no mundo.

Leia aqui todos os textos de Luís Felipe Machado de Genaro

1) Não pode existir um avanço do saber (cortes ou “reformulações” de bolsas de estudos em Universidades públicas não são mais novidade); 2) o irracionalismo (a proporção de inexplicáveis barbaridades anticientíficas que se escuta e lê recentemente também marcam o nosso tempo. Terraplanistas e idiotas antivacinas brotam diariamente); 3) deste irracionalismo nasce o ódio ao intelectual, pensadores e ao conhecimento em si. “A cultura passa a ser suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas”, diz Eco; 4) Não se aceita a crítica, seja ela jornalística ou intelectual (o ataque aos jornalistas com “bananas” e “palhaçadas”, para citar o mínimo, estão aí); 5) A diversidade é vista como um entrave ao poder (homossexuais, indígenas, sem-teto, negros periféricos são vistos como “intrusos”, “inimigos”); 6) Diante de uma crise econômica como a que vivemos, o fascismo escolhe grupos sociais subalternos como bode expiatório (se forem oriundos de outros países então, pior ainda. A xenofobia contra bolivianos, haitianos e venezuelanos sangram os jornais diariamente); 7) O nacionalismo e o apego aos símbolos patrióticos – todos inventados e construídos historicamente, mas isso pouco importa – também tornam-se pilares inconteste destes tempos; 8) Finalmente, e para não me alongar, pois os pilares são muitos, a aspiração à morte e o temor ao sexo.

Umberto Eco desenha Jair Messias Bolsonaro magistralmente: “Como o sexo também é um jogo difícil de jogar, o herói fascista joga com as armas, que são seu Ersatz erótico fálico: seus jogos de guerra se devem a uma invidia pênis permanente”.

Em sua pequena obra, Eco continua sua palestra como se estivesse na Universidade de São Paulo em fevereiro de 2020. Se não vivemos em tempos sombrios e perigosos, perco meu tempo redigindo tais palavras.

E o perigo está à espreita, porém, cada vez mais próximo. O autoritarismo bolsonarista caminha velozmente. As mulheres e o movimento feminista brasileiro e latino-americano no último oito de março mostraram a sua força na luta contra o fascismo e os tempos sombrios. Mas é preciso ir além.

Deixemos de nos autocensurar. Nos organizemos politicamente e acusemos a censura, o golpismo, a ofensiva reacionária e o militarismo tenebrosos que nos avizinham. Que a agonia e o medo não nos consumam como vêm fazendo até o momento. É tempo de unir, de fato e concretamente, partidos, movimentos, coletivos, sindicatos e universidades – todas as forças progressistas e libertárias – contra o barbarismo irracional que nos acomete.

*Luís Felipe Machado de Genaro é historiador, mestre em história pela UFPR e docente das Faculdades Integradas de Itararé (FAFIT)

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A morte de Gustavo Bebianno e as técnicas de assassinato simulado em ataque cardíaco

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gustavo bebianno morte assassinato bolsonaro
Gustavo Bebianno foi advogado e coordenador da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. No governo, se tornou o secretário-geral da Presidência da República

Luis Nassif, GGN

Vamos por partes.

É cedo para qualquer conclusão sobre a morte do advogado Gustavo Bebianno. Ressalve-se o fato de que o filho estava com Bebianno na hora de sua morte, o que reforçaria a ideia de causa natural. No entanto:

1. Adriano da Nóbrega e Gustavo Bebbiano eram testemunhas centrais, capazes de produzir um terremoto político no país, em função das informações que detinham sobre a família Bolsonaro.

2. Adriano foi executado no interior da Bahia, em uma operação mal explicada até agora.

SAIBA MAIS: Imagens de Adriano morto confirmam tese de ‘queima de arquivo’

3. Bebianno morreu esta noite, vítima de infarto.

Em conversas com jornalistas, no final da entrevista ao Roda Viva, Bebianno evitou responder algumas perguntas, alegando receio de sofrer algum atentado.

O know how da CIA

No dia 14 de novembro de 1975, o New York Times publicou reportagem vinculando a CIA a assassinatos cometidos dentro dos Estados Unidos. A técnica utilizada era da simulação de ataque cardíaco.

As investigações foram conduzidas pelo Comitê de Inteligência do Senado, investigando um assassinato ocorrido em Nova Orlens no final dos anos 50, ou início dos anos 60.

As investigações estavam sob comando do respeitado senador Frank Church, democrata de Idaho e uma das vozes mais influentes da política americana dos anos 70.

Pela descrição da vítima, tratava-se de alguém que havia trabalhado na agência em Washington e Las Vegas. O funcionário morreu em um hotel local, onde ele e a família estavam hospedados.

A CIA tentou qualifica-lo apenas como um “oficial de suprimentos”. Mas a comissão apurou que ele havia participado da invasão da Normandia e chefiado operações de combate realizadas pela CIA em Taiwan.

O relatório do Senado juntou 400 páginas com evidências de tentativas da CIA em atentar contra a vida de lideranças estrangeiras, principalmente Fidel Castro. O caso McNamara foi o primeiro que revelaria “como a agência lida com pessoas que tentam chantageá-la”.

O relatório de Frank Church se tornou um marco na tentativa do Congresso de controlar os poderes da CIA, que se transformara em opder autônomo dentro dos EUA.

Um dos capítulos do relatório era sobre os diversos instrumentos de assassinato da CIA.

Foi convocado o então diretor da CIA, William Colby que, pressionado, acabou trazendo uma das últimas armas desenvolvidas: uma pistola desenvolvida especificamente para assassinar seres humanos de forma silenciosa.

Aqui, o senador Church mostra a arma.

Depois de aposentado, Colby escreveu um livro sobre a CIA, revelando seus segredos mais sombrios. Colby era de formação católica e achava que a CIA só iria se salvar se confessasse todos seus pecados, conforme seu necrológio.

No dia 27 de abril de 1996 foi encontrado afogado em um afluente do rio Potomac.

A morte dividiu a própria família. Em 2011, um de seus filhos, Carl Colby, produziu um documnentário, “O homem que ninguém sabia”, mostrando o pai cheio de culpa por suas ações na guerra do Vietnã e cuja vida adabou quando deixou a CIA em 1975. Sugeria que teria se suicidado. O laudo policial não permitia ir nessa direção. O filho mais velho, Jonhathan Colby discordou do irmão.

A indústria do crime

É possível que tenha sido vítima de um AVC ou um ataque cardíaco e tenha se afogado. Para nosso caso interessa saber que, desde 1974, já se sabia de armas que permitiam assassinar pessoas e simular ataques cardíacos. É evidente que essa tecnologia não ficou, desde aquela época, restrita à CIA.

Conforme vimos mostrando em várias reportagens, Bolsonaro é apoiado pelo que existe de mais barra-pesada na indústria da contravenção internacional e nas organizações criminosas internas.

É cedo para avançar em qualquer conclusão. E há circunstâncias que reforçam a ideia de morte natural. Em todo caso, a morte de Bebianno é um capítulo a mais na tenebrosa história do país rumo à era do crime institucionalizado.

Aqui, o relatório Frank Church na íntegra.

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Gustavo Bebianno morreu no mesmo dia que Marielle Franco. É o imponderável?

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gustavo bebianno marielle franco

Moisés Mendes, em seu blog

É impossível prever, mesmo como brincadeira de bêbados, o que o mundo dos Bolsonaros – o pai, os filhos, os milicianos, os amigos e os ex-amigos – pode produzir de esdrúxulo ou assombroso nos próximos dias.

O imponderável, no mundo dos Bolsonaros, não é apenas imponderável. Morrem mais ex-aliados no mundo dos Bolsonaros do que portadores do coronavírus em todo o Brasil.

Os Bolsonaros são hospedeiros da desesperança e da morte. Esta semana, conseguiram a façanha da suspeita de que teriam contaminado Trump. A comitiva dos Bolsonaros saiu na capa do New York Times como uma ameaça contagiosa ao homem mais poderoso do mundo.

E ainda foram acusados de transmitir notícia falsa a uma emissora da direita. Um Bolsonaro é capaz de ser entrevistado por uma emissora de TV americana para dizer que não disse o que a emissora garante que ele disse horas antes. E a emissora sacaneada por Eduardo Bolsonaro é a poderosa Fox, amiga deles.

No Brasil, o imponderável nos apresenta Bolsonaro num dia desqualificando o coronavírus, e no outro dia seu secretário de Comunicação adoece. E no dia seguinte o próprio Bolsonaro aparece com máscara por causa de um possível contágio pelo coronavírus.

De Miami, o prefeito da cidade manda dizer que foi contaminado pela peste depois de encontro com a comitiva de Bolsonaro que esteve na Flórida. Os Bolsonaros já estão consagrados como espalhadores de doença.

Mas Bolsonaro já não é visto como presidente. Nem pelos que votaram nele. Os que o apoiam sabem que continua cumprindo a missão de ser o antiPT, o anticomunista, antigay, mas não comanda nem lidera nada. O mercado financeiro também sabe.

Bolsonaro virou um traste do fascismo sob a proteção de um grupo de militares. Ninguém quer saber o que Bolsonaro pensa do desastre da economia, da queima de reservas, da explosão do dólar, do desemprego e do fato de que Rodrigo Maia é que governa.

Racionalmente, não importa o que Bolsonaro pensa de qualquer assunto, muito menos do coronavírus. O que interessa é ver sua performance, como curiosidade, e tirar algum proveito do grotesco do fato produzido.

Mas o imponderável pode fazer com que a semana que vem não seja dos Bolsonaros, mas de Paulo Guedes. A estranha morte de Gustavo Bebianno já fechou a quota de Bolsonaro pelos próximos dias.

Pode ser a vez de Guedes. Nunca, desde que assumiu, a aparência de Guedes foi tão depressiva. Guedes já não tem mais do que dizer, porque já pediu o AI-5, já falou mal das domésticas e já comemorou o aumento do PIB de 1,1%. Agora, diz que o Brasil tem “dinâmica econômica”.

Se alguém ligar a TV neste momento, Guedes estará repetindo que o Brasil tem dinâmica econômica. Que a prosperidade muitas vezes é impalpável.

Poderá ser dele o próximo imponderável. Não será mais, por um bom tempo, de Damares, de Araújo ou de Weintraub. Há muito tempo não é de Carluxo, com seu repertório infantil e manjado.

Se o imponderável do mundo dos Bolsonaros matou Gustavo Bebianno na mesma data do assassinato de Marielle, o que o pode estar preparando para mostrar ainda antes da Páscoa? É a vez de Paulo Guedes.

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Renuncie, Presidente!

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Luis Gustavo Reis*,Pragmatismo Político

No Brasil, é desolador o ofício de historiador. Praticamente impossível o de crítico. Sofrido o de jornalista. Agoniante o de médico, quando o hospital se transforma na antessala do inferno, dentro da mais absoluta normalidade e legalidade. Perdemos a maior das nossas inocências, a de que somos todos humanos.

Os sucessivos governos nos detestam. Cidadanias são mutiladas à luz do dia, sem freios ou constrangimentos. Há centenas de anos, recursos estatais são gastos com pobres, miseráveis, velhos, jovens e crianças para que tenham o que merecem: a interrupção da vida como prêmio.

Leia aqui todos os textos de Luis Gustavo Reis

O Estado brasileiro já foi gestado por imperador, general, médico, sociólogo, metalúrgico, economista, professor e agora por um ex-capitão do exército. Todos esses mandatários – à direita ou à esquerda, no centro ou nos extremos – sempre foram tão autoritários e arrogantes quanto os seus piores adversários.

Na terça (24/03), o atual presidente decidiu atiçar o coliseu virtual e jogar gasolina na polarização ideológica que incendeia o Brasil, tão nociva quanto a pandemia viral. Em qualquer país minimamente descente, o emissário estaria atrás das grades. No Brasil, porém, foi catapultado a categoria de “mito”.

Bolsonaro merece repúdio e impugnação; seus pistoleiros digitais, muito deles nossos amigos e familiares, só pena.

Se o lema é “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, precavendo o país de mais um degrau do inferno, sugere-se:

Renuncie, presidente!

*Luis Gustavo Reis é professor e editor.

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Apresentador do SBT sugere “campo de concentração” para infectados com coronavírus

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apresentador sbt campo de concentração

O vídeo de um apresentador do SBT provocou revolta na manhã desta quarta-feira (8) porque o homem sugere que infectados por coronavírus no Brasil sejam colocados em um “campo de concentração”.

Marcão do Povo, que comanda o programa ‘Primeiro Impacto’, comentava sobre as recentes notícias envolvendo a pandemia de covid-19 e se posicionou a respeito das medidas que o Brasil está adotando.

“Na China, na cidade de Wuhan, as pessoas que estavam com sintomas e assintomáticas, que estavam com coronavírus, foram levadas para esta cidade. Montaram vários hospitais e essas pessoas foram tratadas naquele local. Não seria interessante também, presidente [Bolsonaro], montar um local… O exército, a marinha, a aeronáutica, montar um local onde todas as pessoas que tivessem os sintomas, que tivessem o coronavírus, fossem levadas para esse local?”, começou ele.

“Não seria interessante pegar o exército, a aeronáutica, a marinha e montar um campo de concentração, de cuidados, com os equipamentos mais sofisticados, com os melhores profissionais e colocar essas pessoas com problemas, com sintomas?”, questionou o apresentador bolsonarista.

Marcão explicou, após sugerir o campo de concentração para as vítimas de Covid-19, que esta, em sua opinião, seria uma boa medida em termos econômicos. “Acaba com esse negócio de ter que espalhar dinheiro para os estados. Tem estado que não teve nada, um caso lá, e nem sequer foi comprovado e o estado decretou calamidade. Tocantins teve um caso, não teve uma morte. O estado tem necessidade de decretar calamidade?”, esbravejou.

Na realidade, há 19 casos confirmados no Tocantins.

No final do ano passado, Marcão do Povo também causou polêmica ao ridicularizar um homem que cometeu suicídio. Relembre aqui.

VÍDEOS:

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Cientistas descartam hipótese de que Covid-19 foi criado em laboratório

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coronavírus laboratório
(Laboratório de Wuhan/AFP)

Na última semana, os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disseminaram nas redes sociais uma entrevista do virologista francês Luc Montagnier, vencedor em 2008 do Prêmio Nobel de Medicina.

Luc Montagnier divulgou uma hipótese sobre a origem do coronavírus que despertou polêmica. De acordo com ele, o SARS-CoV-2 seria um vírus manipulado, que foi acidentalmente liberado de um laboratório chinês, em Wuhan, quando cientistas buscavam uma vacina contra a Aids.

“O vírus não apareceu em um mercado público de Wuhan. Essa é apenas uma história da Carochinha, mas não é real. O vírus saiu de um laboratório de Wuhan. É o trabalho de um aprendiz de feiticeiro”, declarou.

Segundo ele, uma sequência do HIV foi inserida no genoma do novo coronavírus na tentativa de fazer uma vacina contra o HIV. Ele citou um artigo controverso de um grupo de pesquisadores da Índia. Mais tarde, o artigo foi removido do ar após ser desmascarado.

Depois que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina, o professor Luc Montagnier foi acusado de “desvios científicos”. Em 2009, ele apresentou teorias controversas sobre a origem do HIV e sua transmissão. Em 2017, 100 acadêmicos denunciaram suas posições anti-vacinas e pediram ao Colégio de Médicos que a sancionasse.

Colega rebate

Cientistas de diferentes lugares afirmam que as hipóteses de Luc Montagnier são equivocadas e rasas. “Ele não é o único a falar isso, outros pesquisadores já cometeram o mesmo erro. É muito simples. O genoma do novo coronavírus é particularmente rico em duas bases em seu genoma, e o HIV é rico em uma delas. Olhando a sequência genética, pode-se chegar à conclusão de que há similaridades — dentro da hipótese de que o novo coranavírus teria sido ‘manipulado’ em laboratório durante testes de uma vacina contra o HIV”, diz Simon Wain Hobson, virologista molecular do Instituto Pasteur.

“Mas eles não compararam o genoma do novo coronavírus com outros genomas, como o humano, que também possuem partes dessa sequência. Esse é um erro fácil de ser cometido, e que eu percebo desde o início da minha carreira, nos anos 1980. Assim, as conclusões de Montaigner estão erradas”, afirma Hobson.

O que diz a Ciência

Um estudo publicado na revista Nature, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo, descartou a hipótese de o Covid-19 ser um vírus criado em laboratório.

A tese maluca de que o coronavírus é parte de um plano da China para dominar o mundo não é só difundida apenas por Olavo de Carvalho. A questão chegou a ser alimentada pelo próprio Donald Trump.

Acontece que pandemias não são exatamente novidades na história da humanidade. Elas ocorrem desde que começamos a viver em altas densidades populacionais, bem antes de qualquer avanço na biologia, e sempre foram ligadas à nossa proximidade com animais.

Qualquer outra hipótese deve ser considerada com muita cautela e submetida a muito escrutínio. E nos vários novos estudos desde o sequenciamento do SARS-CoV-2 foi justamente isso que aconteceu (veja aqui uma descrição completa do genoma do vírus).

Quaisquer alterações artificiais em pontos específicos do novo coronavírus deixariam marcas em seu RNA bem diferentes das alterações meio que aleatórias causadas pela evolução natural.

No caso do coronavírus, a proteína mais óbvia a ser modificada é a que dá ao vírus o aspecto de coroa (em latim: “corona”, daí o nome). Essa proteína, chamada “Spike”, projeta-se do exterior da cápsula do vírus e reconhece uma outra proteína na superfície das células humanas, a ACE2, envolvida na regulação da pressão sanguínea. Uma vez ligado à ACE2, o vírus adentra a célula humana.

O equívoco da Índia

Um estudo de 2015 feito em colaboração com o Instituto de Virologia de Wuhan, inclusive, já havia mostrado que uma nova versão da proteína Spike que circulava em coronavírus de morcegos, quando transplantada a um coronavírus inofensivo, conseguia fazê-lo invadir células humanas.

No final de janeiro, um grupo da Índia postou no bioRxiv um artigo controverso. O bioRxiv é uma plataforma que permite aos pesquisadores publicarem seus estudos rapidamente, antes de passarem pelo processo de revisão habitual, o que é especialmente importante quando não há tempo a perder, como agora.

Esse estudo, feito às pressas, encontrou quatro trechos “mal explicados” no RNA codificando a proteína Spike do novo coronavírus, que os autores acharam parecidos com trechos do HIV. O estudo sugeria que a presença desses trechos “provavelmente não era fortuita”, e criou um alvoroço imediato na comunidade científica.

No mesmo dia, vários especialistas analisaram o assunto mais profundamente. Descobriram que os trechos de RNA mal explicados na verdade apareciam em vários outros coronavírus. Apenas um desses trechos era realmente mais parecido com um trecho do HIV, mas era tão curto que essa semelhança era estatisticamente insignificante. Era como encontrar a mesma palavra em dois livros diferentes.

A reação da comunidade foi tão rápida que o artigo foi retirado antes mesmo do caso chegar na grande mídia. A partir daí, o bioRxiv começou a incluir uma grande tarja amarela nos artigos sobre o coronavírus, explicitando que ainda não são revisados e devem ser lidos com cuidado.

A origem

Depois disso, outros grupos se empenharam em resolver de vez a questão. Um grupo do Scripps Institute publicou um artigo analisando mais detalhadamente as possibilidades da origem do vírus. Já de cara, era evidente que o vírus não tinha sido projetado em laboratório. O vírus tem muitas características novas, nunca vistas em outros coronavírus, e muitas delas inexplicáveis. Um vírus projetado se pareceria mais com vírus já conhecidos.

Descobriram que a proteína Spike do SARS-CoV-2 realmente possui adaptações que permitem uma maior afinidade às células humanas. Porém, para sua surpresa, se deram conta que os melhores modelos disponíveis não conseguiriam prever o sucesso dessas adaptações, que fazem o vírus se ligar de uma maneira diferente do vírus do SARS original. Portanto, um bioengenheiro tentando projetar um novo coronavírus nunca escolheria essa nova conformação.

Além disso, a estrutura geral do SARS-CoV-2 é muito parecida com a de coronavírus inofensivos encontrados em morcegos e pangolins. Novamente, um bioengenheiro mal intencionado escolheria para seu projeto um vírus sabidamente capaz de infectar seres humanos. Além disso, um vírus descoberto em pangolins mais recentemente, depois do início da epidemia, contém as novas adaptações que aumentam a afinidade a células humanas. Portanto, podemos concluir com confiança que o novo vírus realmente se originou na natureza.

com informações da imprensa internacional e do portal tilt

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Dirceu propõe pacto nacional entre esquerdas e direita liberal para impedir golpe de Bolsonaro

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jair bolsonaro golpe
Presidente Jair Bolsonaro discursa em ato pró-intervenção militar (Imagem: Gabriela Bilo)

por José Dirceu

Jair Bolsonaro passou de todo os limites – cruzou a linha da legalidade ao participar de ato político pregando a volta do AI-5 da ditadura. Ele cometeu aberta e conscientemente crime de responsabilidade. Se não for detido, caminhará para o golpe.

Com quem e como formar uma nova maioria no país para derrotar o governo genocida de Bolsonaro e as forças que o apoiam é a esfinge que temos que enfrentar com urgência. Com que instrumentos travar esta batalha, paralelamente à luta contra a pandemia do coronavírus que ameaça a vida dos brasileiros em especial do povo trabalhador e dos pobres e já fez centenas de mortos em nosso país?

A primeira pergunta é quem quer derrotar Bolsonaro? Além das esquerdas, derrotadas nas eleições presidenciais viciadas de 2018 — com o impedimento a Lula de ser candidato e o turbinamento de fake news impulsionadas pelo capital empresarial —, a oposição a Bolsonaro é engrossada, hoje, pela direita liberal, que apoiou o capitão e o projeto econômico ultra-liberal de seu ministro da economia, mas distanciou-se dele frente ao seu autoritarismo, seus ataques à democracia e às instituições, seu fundamentalismo e obscurantismo.

A segunda pergunta é derrotar Bolsonaro para que? Para restabelecer a democracia e garantir o funcionamento das instituições que a sustentam e tirar o país da crise e da regressão social e cultural que enfrenta. Ou também para alterar o modelo econômico neoliberal que dilapida as riquezas do país, põe no chão sua soberania, tira o sangue dos trabalhadores e só faz concentrar a renda na mão dos mais ricos?

A terceira pergunta é se as esquerdas teriam que se conformar em apenas assegurar a democracia para por fim ao obscurantismo participando de uma coalizão para salvar o país com a direita liberal, as entidades democráticas da sociedade civil e de trabalhadores, de estudantes, de movimentos sociais e comunitários? Ou têm a obrigação e o direito de exigir o restabelecimento dos direitos políticos de Lula e a ampliação do estado de bem estar social para o povo e da soberania nacional, esta expressa em um projeto de desenvolvimento nacional? Como compatibilizar estas demandas com a coalização com a direita liberal que quer Bolsonaro fora do poder mas apoia o projeto ultra-liberal de Guedes e do rentismo do capital financeiro?

Coalizão nacional contra Bolsonaro

Tenho claro que é papel das esquerdas participar da coalização nacional pela defesa da democracia e derrota do obscurantismo, pelo Fora Bolsonaro gritado pelas janelas no país e nas redes contra sua política genocida contra o isolamento social que só agrava o ritmo da contaminação pelo coronavírus, conta que já está sendo paga pelo povo pobre do país — em São Paulo, cidade mais rica do país e epicentro da pandemia no Brasil as mortes e os casos de contaminação já se concentram nas periferias lideradas pelas mulheres na faixa de 30 a 39 anos.

Mas como sabemos historicamente que a direita liberal brasileira quer mudar para nada mudar, recusa-se a uma reforma social e política, persiste numa transição por cima e acordada com os militares e o capital econômico e financeiro, as esquerdas precisam participar da coalização nacional contra Bolsonaro apoiadas em um programa de governo para fazer frente à crise nacional e à pandemia. Programa este que tem ter como prioridade a saúde pública e a renda dos trabalhadores e a reorganização da economia via reformas estruturais como a bancária-financeira e a tributária para enfrentar a recessão mundial agora agravada pela pandemia.

Esta também não será uma tarefa fácil pois as esquerdas seguem divididas. Haverá nas esquerdas uma direção capaz de liderar sua unidade e construir uma alternativa a Bolsonaro e à direita liberal em meio à luta de classes e social, no olho do furacão da crise institucional e de uma crise humanitária, preservando a defesa da saúde e da vida do nosso povo?

O papel do PT

Cabe ao PT, como força ainda majoritária nas oposições, e ao ex-presidente Lula a liderança dessa luta. As decisões não são fáceis, pois, em sua última reunião, o Diretório Nacional do partido optou por não aprovar o Fora Bolsonaro para concentrar as energias na luta contra a pandemia e na defesa de condições de sobrevivência para os trabalhadores e pequenas e médias empresas, de preservação dos empregos e de apoio e solidariedade ao povo pobre. E no documento firmado por Fernando Haddad, Ciro Gomes, Boulos e Dino, também assinado pela presidente do PT, pedindo a renúncia de Bolsonaro, o impeachment sequer foi proposto.

As esquerdas têm que se decidir se pretendem acumular forças em que direção: visando as eleições presidenciais de 2022, priorizando neste momento a luta contra a pandemia, ou o afastamento de curto prazo de Bolsonaro.

Partidos como o PCdoB já se decidiram pela defesa de uma coalizão nacional para afastar o presidente da República, pelo risco que representa à democracia e à vida dos brasileiros com sua defesa intransigente do fim do isolamento social e da volta ao trabalho, como se isso fosse reativar a economia.

Não podemos desprezar que Bolsonaro, apesar da perda de apoio entre os partidos de centro-direita, na sociedade civil e mesmo entre grandes empresários, ainda conta com forte base social, fundamentalista e politizada. Além das minorias agrupadas em torno de milícias, baixas patentes das Forças Armadas e um contigente expressivo das Polícias Militares. Não há vazio de poder no Brasil. Há um poder que se divide, se fraciona, perde legitimidade, mas ainda tem o respaldo das Forças Armadas expresso pelos generais-ministros instalados no Planalto e pelo grande número de militares lotados em órgãos de governo. A forte presença militar na disputa política e no exercício do poder no Brasil de Bolsonaro, o que é uma violação flagrante da Constituição e do Estado de Direito, coloca para as esquerdas a gravidade e o risco de uma ruptura institucional ou simplesmente de uma tutela militar aberta.

Mas, também, temos que considerar que a correlação de forças, hoje ainda favorável a Bolsonaro, pode se alterar. Ele perde legitimidade junto a parcela expressiva da população pelo seu comportamento frente à pandemia, junto ao Congresso, ao STF, a governadores que antes o apoiavam, tem o repúdio das entidades da sociedade civil e a oposição de parte da mídia comercial conservadora.

A hora é agora

Agora, Bolsonaro demite seu ministro da Saúde contra tudo e todos, ataca frontalmente o presidente da Câmara dos Deputados, os governadores de Sào Paulo, Rio e Goiás os acusando de conspirar contra seu mandato. Passa de todos limites e cruza a linha da legalidade ao participar de ato politico pregando a volta do AI-5 da ditadura. Bolsonaro comete abertamente e conscientemente crime de responsabilidade. Testa mais do que a oposição as instituições; se não for detido, caminhará para o golpe.

Já estava evidente que enfrentaria Maia e os governadores, um caminho sem volta, onde não podia ser derrotado. Vai além e afronta a Constituição de 1988, já deslegitimada pelo golpe contra Dilma e desmonte promovido pelas reformas ultra-liberais. Bolsonaro se adianta e ele mesmo coloca na ordem do dia a questão do poder via uma ditadura. Independente de nossa vontade, o país caminha para uma ruptura democrática por meio de um golpe do presidente ou da submissão das instituições à sua vontade.

Para as esquerdas não há outro caminho. É preciso propor o impedimento de Bolsonaro e lutar por ele. Não se trata só de uma ameaça à democracia, mas do inicio de um golpe de estado, que precisa e pode ser derrotado. Esta é a hora. O país precisa de eleições gerais e de uma nova Constituição que deve vir pela soberania popular.

Nossa tarefa é lutar e dar à transição de governo ou à ruptura, se vier a acontecer, uma direção popular e democrática que restaure não apenas o pacto político democrático rasgado pelo golpe de 2016, mas conduza a uma revolução social que o Brasil reclama e a pandemia expôs a olho nú: o abismo que separa a maioria do povo de suas elites. Somos um país rico e desenvolvido com uma desigualdade econômica e social vergonhosa e uma concentração de renda e riqueza escandalosa. O bem estar do povo trabalhador e a soberania do Brasil são nossas estrelas guias neste apagão civilizatório da humanidade que fez emergir a necessidade da retomada da revolução inacabada brasileira. Retomando o fio da nossa história e a herança que recebemos das lutas democráticas e socialistas da classe trabalhadora, do sacrifício de gerações de lutadores sociais que deram a vida em defesa da democracia e do povo brasileiro.

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Nenhuma pátria me pariu

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Nenhuma pátria amada me pariu bolsonaro governo

Anderson Pires*

Hoje, após ler um texto do Pedro Cardoso, voltei a pensar sobre o conceito de pátria, que se tornou algo venerado e motivo das mais diversas ações de proteção ao capital.

Em um texto que escrevi em 2016, disse que não há nada que justifique fronteiras a não ser proteger interesses comerciais. Na época, citei um exemplo banal de como era absurdo para se transitar com uma bicicleta pelo mundo, ter que andar com um documento que provasse o pagamento de impostos ou, caso contrário, ter o meu brinquedo apreendido.

A pátria, no meu entendimento, sempre foi um instrumento de proteção à propriedade, ao lucro e à exploração reservada a determinados países, não sendo, portanto, um valor para alguém se orgulhar.

Com a pandemia do coronavírus, esse conceito voltou a ser utilizado das formas mais absurdas possíveis. No Brasil, vemos supostos patriotas ajoelhados na frente dos quarteis, vestidos de verde e amarelo, orando para que os militares revivam o AI-5 e instalem novamente a ditadura, como se isso fosse um ato de salvação. A cena é de uma tristeza patética. Quando vi pela primeira vez, pensei: será que estão esperando que Deus saia do quartel empunhando um fuzil, vestindo a camisa da Seleção Brasileira e instale a ditadura?

Na essência de toda aquela cena, o grande motivador era somente a necessidade que alguns têm de fortalecer a lógica de que o mundo não vive de outra forma que não seja com a manutenção das atividades que garantem o capital inalterado e protegido. No entanto, não têm discernimento para pensar que a grande maioria dos que ali estão, em nada teria uma melhoria efetiva nas suas vidas se o que estão pleiteando fosse implantado. Agem como kamikazes, que morrem pela pátria, acreditando que estão defendendo a eles mesmos, quando na verdade são parte útil e substituível do capitalismo. Produzem, consomem, circulam, mas não detêm os meios de produção.

Esse é o exemplo brasileiro, talvez o mais esdrúxulo, levando em consideração a relevância que um país como o Brasil tem no mundo. Não estamos nos referindo a uma republiqueta decorrente da divisão da antiga União Soviética. Falamos de um dos maiores países do mundo, talvez o maior produtor de alimentos do planeta, com dimensões continentais. 

Mas essa discussão sobre o lado avesso do patriotismo, também tem me feito pensar como o mundo sairá dessa pandemia.

Escuto muita gente dizer que acredita em mudanças comportamentais profundas, que a dimensão da crise fará as pessoas repensarem a vida, a forma de viver, as relações e que será feita uma revisão no processo de exploração e na desigualdade social em que vivemos. Alguns dizem que o corona igualou a todos, mostrou que nem com dinheiro se está imune aos efeitos do vírus. É verdade. O vírus atinge a todos, até aos “atletas”, mas novamente essa visão é conveniente, na medida em que mascara realidades. É inegável que os mais vulneráveis sofrem numa proporção muito maior. Ou alguém imagina que o nível de acesso a saúde e até a um funeral decente é o mesmo, independente da condição social de cada um? Óbvio que não.

O que se viu nas ruas do Equador, com famílias queimando seus mortos no meio da rua, por mais grave que seja a situação em Nova York, ninguém verá algo parecido na Quinta Avenida. Não estão todos no mesmo barco, como se tem afirmado.

Leia também: Egosfera: o ego é o único adversário a ser vencido

Diante dos exemplos que tenho visto, não tem como acreditar que o mundo sairá melhor depois do Covid. Por mais que tenhamos pessoas dando o melhor de si para combater a pandemia, artistas se solidarizando, gente anônima mobilizando ajuda das mais diversas formas, a grande maioria está assistindo ao que se vive, sem questionar os extremos da desumanidade que acontecem a todo tempo, por vezes praticadas dentro de suas casas.

Como pode num momento de caos global, existir uma corrida para compra de equipamentos hospitalares de proteção à vida? A lógica do mercado mais uma vez se impõe, e ninguém questiona o absurdo que é a especulação continuar existindo da forma mais cruel. Países ricos confiscando respiradores, governos fazendo lobby para desviarem compras feitas por países mais pobres para países mais ricos. Uma verdadeira indústria do coronavírus foi estabelecida no mundo e não existe qualquer tentativa entre os principais líderes mundiais para que essa disputa seja cessada e se pense no planeta como um só, sem pátria, global como é.

Leia aqui todos os textos de Anderson Pires

Num momento como esse o papel da ONU, do G8 ou do G20 se mostra inexistente. Numa perspectiva de transformação do mundo em algo melhor pós-covid, teria que existir um grande pacto de unidade, em que o combate fosse global e as fronteiras fossem extintas. Bolsas de todo mundo deveriam ser paralisadas, para assim os movimentos especulativos serem contidos. O estoque e a produção de equipamentos, medicamentos, material de proteção e alimentos deveria ser unificado e toda e qualquer barreira alfandegária derrubada.

A junção desses esforços poderia gerar um efeito global de solidariedade, na qual o combate à pandemia seria uma ação em constante movimento pelo mundo.

Por que os médicos e profissionais da China que já estão imunes não podem atuar em Nova York como forma de resguardar e diminuir a carga dos profissionais de lá? Por que os hospitais que foram construídos em tempo recorde, não podem ser desmontados e levados para outros países de forma solidária? Por que o Maranhão precisa fazer uma operação para driblar governos, inclusive o do próprio país, para não ter os respiradores que comprou confiscados? (equivocadamente alguns fazem propaganda dessa ação de desespero como uma política de sucesso).

Isso tudo existe, porque a lógica da disputa, da exploração desmedida continua sendo fortalecida. Quando se verificam situações como essas, não tem como acreditar que o mundo sairá melhor. No final, os sobreviventes são também competidores. Competir é intrínseco à lógica das nossas relações. O pós-corona, lamentavelmente, não será regido pelos pequenos exemplos de empatia e solidariedade que vemos serem divulgados na internet e nos telejornais. Quem viver, verá.

O mundo continuará sendo o do exemplo chinês de busca incessante por produzir e dominar mercados. Será o mundo da disputa política desonesta de um Trump que especula que a pandemia teria sido algo proposital criado pelos chineses. Continuaremos tendo o Brasil de Bolsonaro, com patriotas pregando o autoritarismo como caminho para purificação da nação. A Europa permanecerá omissa e ainda mais hipócrita. Afinal, deixou evidente que a unidade que prega, se resume a interesses de mercado, basta verificar que o cada um por si foi a regra entre os países do bloco.

Por fim meus amigos, na perspectiva de um mundo ainda mais desigual, onde as diferenças tendem a se aprofundar, sem que ninguém faça nada no sentido de quebrar essa lógica, só me resta torcer pra fazer parte da nação de Pedro Cardoso, que conclamou alguns dos nossos melhores e mais sensíveis nomes que habitaram o Brasil a serem os verdadeiros representantes da sua nação. Gente capaz de entender que verde e amarelo, não se configura na exclusão de cores, de raças, etnias e gêneros. Nem que o mundo só pode existir em decorrência da divisão sempre desigual.

Segue abaixo texto de Pedro Cardoso:

 

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Não existe Brasil. Existe um amontoado de gente jogado no mesmo pedaço de chão, convivendo forçosamente, obrigados a se dizer pertencer a mesma nação. O Brasil é falso como a letra do seu hino, que, aliás, é feia e mal escrita. O Brasil nunca foi gigante porque ele nem sequer existe. Nenhuma nação surge de 350 anos de escravidão. Eu me recuso a compartilhar nacionalidade, e o consequente patriotismo, com pessoas que fazem baderna em tempos de necessário isolamento social. Qdo um infectado entra num hospital ele expõe a risco médicas, enfermeiras e todos que forem cuidar dele. Fazer o impossível para não se infectar é uma obrigação para com os outros. Na minha opinião, quem se oferece ao vírus em aglomerações voluntariosas não deveria receber tratamento caso adoeça. Se o vírus é uma invenção, como dizem, que se curem sozinhos; e não venham arriscar a vida de quem, com sacrifício, está dedicado a salvar vidas. Eu não pertenço a mesma nação que essas pessoas. Sou juridicamente brasileiro. 220 milhões de pessoas o são. Mas é mera formalidade. Não posso pertencer a um país que não existe. O que existe são grupos identificados por igualdade pretendida. Grupos de militares, de comerciantes, de artistas sertanejos, de latifundiários, de fundamentalistas de falsas religiões e por ai vai. Cada grupo chama a si mesmo de Brasil como se todos os nascidos nesses limites geográficos fossem iguais a eles. Não somos. Eu não faço buzinaço em porta de hospitais nem clamo por ditadura militar. Não pertenço a nação de quem o faz. É com pesar que sou obrigado a compartilhar com gente assim o mesmo espaço geográfico. O País que eu nasci é o do sonho de Criolo, Mano Braun, Ruth de Souza, Pixinguinha, Chico Mendes, Leonardo Boff, Chico Buarque, Caetano Veloso, Fernanda Montengro, Amir Haddad, D. Ivone Lara, Catulo da Paixão Cearense, Dolores Duran e tantos a quem posso chamar de irmãos. Os outros, esse grupo abjeto de pessoas incivilizadas, sádicos agressores de indefessos, ocuparam a terra do país imaginado pela arte produzida pela minha gente. Roubaram até as cores da bandeira. Verde e Amarelo se tornou uma combinação repulsiva. Bandeira feita mortalha.

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*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.

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