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PF deverá investigar FHC para avaliar se ex-presidente cometeu crime

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FHC Mirian Dutra
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Imagem: Rodrigo Capote)

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que uma equipe do ministério fará um estudo “técnico e jurídico” para avaliar se o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo cometeu algum crime federal ao enviar dinheiro para o exterior através da empresa Brasif Importação e Exportação.

“Havendo indícios de delitos puníveis de competência federal, seguramente a Polícia Federal fará investigação através de inquérito. Isso não vale apenas para o presidente Fernando Henrique. Vale para todos os brasileiros. É impessoal”, afirmou o ministro da Justiça.

Fernando Henrique admitiu ter enviado dinheiro à jornalista, mas nega ter usado a empresa.

Mirian Dutra

Mirian Dutra resolveu falar à imprensa brasileira nesta semana depois de 30 anos. Suas declarações ecoaram em praticamente todos os veículos de comunicação do Brasil.

Ex-jornalista da TV Globo, Mirian revelou que a empresa Brasif S.A.Exportação e Importação ajudou FHC a enviar recursos ao exterior para custear gastos dela e do filho, Tomás Dutra.

Segundo Miriam, as transferências foram feitas por meio de contrato fictício de trabalho celebrado em dezembro de 2002 e com validade de quatro anos. A contratante que aparece nos registros da contratação é a empresa Eurotrade Ltd., cuja sede a Brasif mantém nas Ilhas Cayman.

Entre outras revelações, Mirian confessou ainda que realizou dois abortos custeados por FHC.

Brasif

O empresário e pecuarista Jonas Barcellos, dono do grupo Brasif, que teria bancado despesas de Mirian Dutra, ex-amante de FHC, pode ter sua influência medida pela lista de presença dos eventos que organiza em Uberaba (MG).

Na Mata Velha, uma de suas fazendas, ele reuniu, em 2013, o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (PSDB) em uma feijoada. Em 2010, juntou Dilma e José Serra (PSDB), então pré-candidatos à Presidência.

Os louros de Barcellos não estão apenas na pecuária. Por quase 30 anos, a Brasif praticamente monopolizou a exploração no Brasil de duty-frees, as lojas francas instaladas nos aeroportos para a venda produtos importados isentos de impostos. O empresário abriu sua primeira unidade em 1978, no Rio.

Jorge Bornhausen, ex-senador pelo PFL/DEM e influente nos governos Collor e FHC, foi vice-presidente da empresa Brasif nos anos 1990.

Hoje, a Brasif, que começou em 1965 como distribuidora de produtos siderúrgicos, atua em setores diversos como a venda de máquinas pesadas, biotecnologia animal e varejo de roupas íntimas.

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Você é favorável à redução do número de deputados e senadores no Brasil?

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deputados senadores diminuir número
(Imagem: Câmara dos Deputados)

A discussão sobre diminuir o número de senadores, de 81 para 54, e de deputados federais, de 513 para 385, tem ganhado força nos últimos dias. Isso porque um link, que incentiva internautas a participar de consulta pública sobre uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com esse objetivo, teve grande procura essa semana nas redes sociais.

Nesta quarta-feira (24), já foram registrados mais de 146 mil votos a favor e pouco mais de 500 manifestações contrárias (para votar, clique aqui).

A PEC 106/15, de autoria do senador Jorge Viana (PT-AC), altera os artigos 45 e 46 da Constituição Federal e estabelece que cada estado e o Distrito Federal elegerão dois e não mais três senadores, como é atualmente. A proposta não muda o tempo de mandato no Senado que continuaria de oito anos.

Na Câmara, a proposta mantém o critério de representação proporcional à população de cada unidade da federação, mas o número mínimo de deputados passaria de oito para seis e o máximo de 70 para 53.

Poucas chances

Em entrevista à Agência Brasil, Jorge Viana admitiu que as chances proposta avançar são mínimas. “Um assunto que reduz o número de membros no Congresso, certamente deve ter uma rejeição grande aqui, mas estou querendo fazer esse debate. Acho que não tem explicação um país como o Brasil ter três senadores por Estado. Os Estados Unidos, que têm uma população bem maior que a brasileira, por exemplo, têm apenas dois”, disse.

Em defesa da PEC, ele diz que a medida trará uma grande redução de gastos aos cofres públicos, além de uma eficiência maior do trabalho. Viana ressalta que caso seja aprovada, a PEC também fará alterações no número das cadeiras nas Assembleias Legislativas.

O texto da proposta diz que “nos termos dos artigos 27, Caput, e 32, Parágrafo 3º, da Constituição Federal, a representação nas Assembleias Legislativas e na Câmara Legislativa do Distrito Federal é calculada com base no número de deputados federais da respectiva unidade da federação”.

Polêmicas

Para o professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas, é uma ilusão se posicionar favoravelmente à proposta sem um debate aprofundado sobre o tema. “Essa proposta não traz ganhos, ao contrário, torna o Parlamento mais elitista, menos disposto a ouvir o cidadão, sem falar que as eleições vão ficar mais caras e mais disputadas, com predomínio do poder econômico”, disse.

Ainda segundo o professor, a proposta facilitará o predomínio dos caciques dos partidos nas vagas do Legislativo, além de estimular a compra de votos. “ O que eu defendo é a adoção do voto distrital, que aproxima o eleitor do seu representante. A questão não é o número de deputados por Estado, mas a relação entre o eleitor e o parlamentar”, afirmou.

No voto distrital, o estado é dividido em inúmeras regiões menores, chamadas de distritos eleitorais e os eleitores daquele distrito só podem votar nos candidatos daquela região, e cada distrito só elege um deputado.

Antonio Augusto de Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), tem outro ponto de vista. Mesmo acreditando que a proposta não tem nenhuma chance de avançar, para ele, só o fato da opinião pública apoiar a redução do número de parlamentares demostra uma grande insatisfação e isso, avalia, tem um efeito pedagógico no sentido de que aqueles que se elegerem vão ter cada vez mais compromisso com suas bases.

Antonio Queiroz observa ainda que a aprovação de uma proposta como essa não significaria a exclusão de forças mais populares das urnas. “Uma proposta como essa precisa vir acompanhada de outras mudanças no sistema político. Tudo vai depender da regra que for aprovada”, disse.

Para o analista político, um exemplo dessas regras que ampliariam a representatividade seria a que garante a participação feminina nas chapas. Hoje, a Lei Eleitoral fixa um mínimo de 30% de candidatos de cada sexo, mas não estabelece sanções para partidos que não cumprem o percentual. “Se no lugar de medidas como essa tivermos uma cláusula de barreira elevada e um quociente eleitoral muito alto, realmente, não teremos bons efeitos”.

Tramitação

Apresentada no 16 de julho do ano passado, a proposta foi encaminhada no dia seguinte à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e, desde então, está parada aguardando designação de um relator pelo presidente do colegiado, senador José Maranhão (PMDB-PB). Diante da mobilização nas redes sociais, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vai assumir a relatoria da proposta. Randolfe sabe das dificuldades que terá, mesmo assim, demostra otimismo.

“Era difícil pensar em eleições diretas no Brasil, e isso aconteceu. Era difícil pensar no impeachment de um presidente da República, e isso também aconteceu. Quero o apoio da opinião pública para que essa proposta seja aprovada. Devo receber, na segunda-feira [22], do presidente da CCJ a relatoria, e vou apresentar meu relatório favorável à proposta ainda esta semana”, disse Randolfe.

Após a fase de análise nas Comissões do Senado e da Câmara, a PEC precisa passar por dois turnos de votação no plenário de cada uma das casas.

Consulta Pública

Segundo o chefe do serviço de apoio ao Programa E-Cidadania do Senado, Alisson Queiroz, ao contrário do que muita gente pensa, no momento, apesar das opiniões dos internautas estarem sendo registradas oficialmente, não há nenhuma consulta especial sobre a proposta. “Da mesma forma como está acontecendo com a PEC 106/15, quem quiser, também pode opinar em qualquer outra proposta que esteja em tramitação”, explicou.

Alisson disse ainda que os acessos ao portal do Senado por causa da PEC também refletiram no aumento de cliques em outras ferramentas e, por isso, a equipe do E-cidadania está mexendo no portal para facilitar a interatividade do cidadão.

Agência Brasil

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Apenas 46 parlamentares aprovaram alguma lei em 2015

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Congresso Nacional leis parlamentares aprovadas
Imagem noturna da área externa do Congresso Nacional do Brasil (Futura Press)

A revista Congresso em Foco divulgou, nesta semana, um levantamento que aponta que somente 46 parlamentares brasileiros, incluindo deputados e senadores, aprovaram alguma lei em 2015.

O número representa apenas 7% de todos os congressistas que, somados, totalizam 640. Isto é, enquanto 46 emplacaram leis no ano passado, 594 não aprovaram nada.

Desses 46, só cinco conseguiram vencer o estreito filtro legislativo mais de uma vez em. Com quatro normas cada, os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Paulo Paim (PT-RS) foram os congressistas que mais emplacaram leis no primeiro ano da atual legislatura.

O ex-líder do PT e agora novo líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), foi autor de duas, mesmo número alcançado pelos deputados Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara, e Vieira da Cunha (PDT-RS).

Outros sete senadores e 21 deputados foram autores de uma lei ou emenda constitucional. Ao todo, 12 ex-senadores, entre eles os já falecidos Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Eliseu Resende (DEM-MG), e 13 ex-deputados também tiveram leis aprovadas no primeiro ano da atual legislatura.

Luta difícil

Na Câmara desde 1987, o deputado Arnaldo Faria de Sá reconhece que aprovar uma lei de autoria própria é uma batalha até para os parlamentares mais experientes como ele, que está no oitavo mandato consecutivo.

Autor de três normas nos últimos dois anos, o petebista concorda com Crivella: o sucesso depende de acompanhamento permanente do andamento do projeto apresentado.

“Esta é uma luta difícil dentro do Congresso. O trâmite é longo, temos que trabalhar em várias comissões e ainda confirmar em plenário. A articulação acaba ajudando, mas o acompanhamento do projeto é fundamental. Até mesmo para que seja, de fato, sancionado e conseguir êxito em todo o processo”, avaliou.

Além de Arnaldo Faria de Sá, apenas Vieira da Cunha e Vicentinho (PT-SP) também emplacaram três leis entre os deputados.

Para se ter ideia, uma das leis de origem parlamentar sancionadas em 2014, por exemplo, foi apresentada ainda em 1997 pelo então senador Abdias Nascimento (PDT-RJ), uma das principais lideranças da história do movimento negro brasileiro, morto em 2011.

Em sua passagem pelo Senado, Abdias propôs mudança na Lei da Ação Civil Pública para incluir a proteção à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. A lei só foi sancionada três anos após a morte do ex-senador.

Parlamentares que emplacaram leis em 2014 e 2015

Quando considerados os anos de 2014 e 2015, e somadas as leis ordinárias ou complementares e emendas constitucionais, o número de deputados, senadores e ex-congressistas que emplacaram alguma aprovação aumenta. Veja a seguir:

SENADORES
Marcelo Crivella (PRB-RJ) 8
Paulo Paim (PT-RS) 5
Cristovam Buarque (PDT-DF) 3
Serys Slhessarenko (PT-MT) * 3
Walter Pinheiro (PT-BA) 2
Humberto Costa (PT-PE) 2
Inácio Arruda (PCdoB-CE) 1
José Serra (PSDB-SP) 1
Ricardo Ferraço (PMDB-ES) 1
Aloysio Nunes (PSDB-SP) 1
Abdias Nascimento (PDT-RJ) 1
Acir Gurgacz (PDT-RO) 1
Ademir Andrade (PSB-PA) 1
Alfredo Nascimento (PR-AM) ** 1
Aloizio Mercadante (PT-SP) 1
Alvaro Dias (PSDB-PR) 1
Ana Amélia (PP-RS) 1
Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) 1
Antonio Carlos Valadares (PSB-RJ) 1
Arthur Virgílio (PSDB-AM) 1
Benedito de Lira (PP-AL) 1
Eduardo Amorim (PSC-SE) 1
Eliseu Resende (DEM-MG) 1
Expedito Júnior (PPS-RO) 1
Francisco Dornelle (PP-RJ) 1
João Tenório (PSDB-AL) 1
João Vicente Claudino (PTB-PI) 1
José Maranhão (PMDB-PB) 1
José Sarney (PMDB-AP) 1
Lúcia Vânia (PSDB-GO) 1
Márcio Lacerda (PMDB-MT) 1
Marconi Perillo (PSDB-GO) 1
Marisa Serrano (PSDB-MS) 1
Marluce Pinto (PTB-RR) 1
Paulo Bauer (PSDB-SC) 1
Pedro Simon (PMDB-RS) 1
Renan Calheiros (PMDB-AL) 1
Roberto Cavalcanti (PRB-PB) 1
Roberto Requião (PMDB-PR) 1
Rodolpho Tourinho (DEM-BA) 1
Romeu Tuma (PTB-SP) 1
Tasso Jereissati (PSDB-CE) 1
Valdir Raupp (PMDB-RO) 1

* Ex-senadora filiada atualmente ao PRB
** Ex-senador, é deputado federal

DEPUTADOS
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) 3
Vicentinho (PT-SP) 3
Vieira da Cunha (PDT-RS) 3
Ana Arraes (PSB-PE) 2
Arlindo Chinaglia (PT-SP) 2
Celso Russomanno (PP-SP) 2
Daniel Almeida (PCdoB-BA) 2
Eduardo Barbosa (PSDB-MG) 2
Gilmar Machado (PT-MG) 2
Leonardo Picciani (PMDB-RJ) 2
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) 2
Mendonça Filho (DEM-PE) 2
Milton Monti (PR-SP) 2
Nelson Bornier (PMDB-RJ) 2
Onofre Santo Agostini (PSD-SC) 2
Ronaldo Benedet (PMDB-SC) 2
Valtenir Pereira (PSB-MT) 2
Aelton Freitas (PR-MG) 1
Alex Canziani (PSDB-PR) 1
Alex Manente (PPS-SP) 1
Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) 1
Antônio Roberto (PV-MG) 1
Armando Vergílio (PMN-GO) 1
Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA) 1
Beto Albuquerque (PSB-RS) 1
Carlos Bezerra (PMDB-MT) 1
Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE) 1
Cida Diogo (PT-RJ) 1
Dalva Figueiredo (PT-AP) 1
Danilo Forte (PMDB-CE) 1
Deley (PSC-RJ) 1
Dr. Grilo (PSL-MG) 1
Eduardo Gomes (PSDB-TO) 1
Efraim Filho (DEM-PB) 1
Eleuses Paiva (DEM-SP) 1
Fábio Faria (PSD-RN) 1
Felipe Bornier (PHS-RJ) 1
Fernando Marroni (PT-RS) 1
Gorete Pereira (PR-CE) 1
Goulart (PSD-SP) 1
Hugo Motta (PMDB-PB) 1
Ilário Marques (PT-CE) 1
Ivan Valente (Psol-SP) 1
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) 1
Jerônimo Goergen (PP-RS) 1
José Airton Cirilo (PT-CE) 1
Laercio Oliveira (PR-SE) 1
Lincoln Portela (PR-MG) 1
Luis Carlos Heinze (PP-RS) 1
Mara Gabrilli (PSDB-SP) 1
Márcio Marinho (PRB-BA) 1
Margarida Salomão (PT-MG) 1
Marinha Raupp (PMDB-RO) 1
Mauro Benevides (PMDB-CE) 1
Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) 1
Nair Xavier Lobo (PMDB-GO) 1
Neilton Mulim (PR-RJ) 1
Nelson Marquezelli (PTB-SP) 1
Nilda Gondim (PMDB-PB) 1
Paulo Piau (PMDB-MG) 1
Paulo Rocha (PT-PA) 1
Pepe Vargas (PT-RS) 1
Rafael Guerra (PSDB-MG) 1
Rebecca Garcia (PP-AM) 1
Reginaldo Lopes (PT-MG) 1
Rômulo Gouveia (PSDB-PB) 1
Rosangela Gomes (PRB-RJ) 1
Rose de Freitas (PMDB-ES) * 1
Rubens Bueno (PPS-PR) 1
Sandro Mabel (PR-GO) 1
Sebastião Bala Rocha (PDT-AP) 1
Silvio Torres (PSDB-SP) 1
Simão Sessim (PP-RJ) 1
Sueli Vidigal (PDT-ES) 1
Valdemar Costa Neto (PR-SP) 1
Vaz de Lima (PSDB-SP) 1
Walter Feldman (PSDB-SP) 1
William Woo (PV-SP) 1

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A capacidade de manipulação dos poderosos

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A capacidade de manipulação dos ricos e poderosos é imensa. Contam, para isso, não só com seus enormes recursos financeiros como ,com o fundamental apoio da chamada grande imprensa, que, como é natural, é comandada por ricos e poderosos. Ou seja, estão todos no mesmo barco.

Essa capacidade de manipulação faz com que os segmentos mais pobres da sociedade e as classes médias encampem, como suas, teses que na verdade contrariam seus interesses e só beneficiam ricos e poderosos. É como se o barco dos que têm muito, e que são poucos, navegasse rebocando o barco dos que têm pouco, e que são muitos. Todos na mesma onda.

Um bom exemplo dessa capacidade de manipulação e cooptação dos que têm menos pelos que têm muito é a tão falada carga tributária brasileira. Os ricos e poderosos disseminam uma gigantesca operação de manipulação de informações para confundir as pessoas e fazer com que todos acreditem na mentira que é a “enorme carga tributária brasileira”.

Claro que ninguém gosta de pagar impostos. Isso é um dado histórico, basta nos lembrarmos de Tiradentes e dos revoltosos de Minas Gerais, entre outros. Mas, diferentemente do que alardeiam os ricos e poderosos, o problema não é o tamanho da carga tributária brasileira. O problema é a injustiça do sistema tributário brasileiro, em que os mais pobres e as classes médias pagam muito mais impostos do que esses ricos e poderosos que fazem tanto barulho.

O sistema tributário brasileiro é injusto socialmente, beneficia os mais ricos e prejudica os mais pobres. Essa é a questão central. Pobres pagam muito mais impostos, pois as decisões sobre tributos são tomadas por governantes e tecnocratas ansiosos por agradar aos ricos e poderosos (e que volta e meia trabalham para eles) e pelos representantes que esses ricos e poderosos têm no Congresso Nacional — e que impedem e boicotam qualquer reforma desse sistema tributário que venha a implantar a justiça social no pagamento dos impostos.

A favor dos manipuladores há outro fator: a incapacidade de sucessivos governos, nas três esferas da Federação, de aplicar bem e corretamente os recursos arrecadados com os impostos. É natural, diante da precariedade total dos serviços públicos e dos reiterados casos de desvios de dinheiro público, que as pessoas, independentemente de classe social, rebelem-se contra qualquer aumento de imposto ou da carga tributária.

Os manipuladores impedem que as informações corretas sejam disseminadas e que haja um debate sério e qualificado sobre a questão tributária. Fazem isso para defender seus interesses e continuar pagando impostos irrisórios e sonegando à vontade e impunemente.

Não dizem os manipuladores, por exemplo, que estudos do Fundo Monetário Internacional e da Heritage Foundation, citados por Grazielle Custódio David, especialista em Orçamento Público e assessora do Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos – mostram que entre as 20 maiores economias do mundo, o Brasil tem a quinta mais baixa carga tributária. A carga tributária brasileira não é alta como pintam: os problemas são que recai sobre os mais pobres e isenta os ricos, e os impostos arrecadados são mal aplicados e desviados.

Grazielle, em matéria de Joana Rozowykwiat publicada no portal Vermelho, mostra que os impostos indiretos, sobre consumo de produtos e serviços, recaem mais sobre os que ganham menos. No Brasil, 51,28% dos impostos vêm do consumo. Os salários contribuem com 24,08% dos impostos, a renda com 18,1% e a propriedade com apenas 3,93%. A média internacional de imposto sobre propriedade é de 8% a 12%. Impostos sobre consumo, quando aumentam, se refletem no aumento dos preços. Empresários jamais aceitam reduzir suas margens de lucro.

No Brasil, os assalariados têm seus impostos descontados na fonte. Já os empresários que recebem lucros e dividendos não pagam imposto de renda desde 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Nos Estados Unidos, lucros e dividendos são taxados em 21,2%, na França em 38,5%. A maior alíquota de imposto de renda no Brasil, para os que ganham mais, é de 27,5%. Nos Estados Unidos, é de 39,6%, na Alemanha é de 45% e na Suécia é de 56,7%.

No Congresso, os ricos e poderosos asseguram suas vantagens. Recentemente o governo propôs um aumento de 30% no imposto de renda sobre ganhos de capital. O senador tucano Tasso Jereissati, que é empresário, baixou para 22,5% e ainda aumentou o piso de R$ 20 milhões para R$ 30 milhões. Legislou em causa própria e a imprensa apresentou o resultado como “derrota do governo”, omitindo o sentido real da proposta e da derrota.

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A sonegação de impostos no Brasil é avaliada, por Grazielle, em R$ 500 bilhões. A sonegação é um jogo financeiro do empresariado, que não paga os impostos, aplica o dinheiro que deveria ter ido para os cofres públicos e depois se beneficia dos programas de refinanciamento de dívidas, com longo prazo para pagamento e perdão de juros. Um grande negócio, não permitido às pessoas físicas. E o Congresso Nacional tem evitado que sonegadores sejam punidos. Quando pagam ou renegociam as dívidas, são perdoados.

Sem arrecadar, o Estado não tem como funcionar adequadamente, aqui ou em qualquer país. Sem impostos, um país não tem recursos para prestar serviços à população. E quem mais precisa desses serviços são os mais pobres, que mais dependem do Estado, porque precisam de benefícios sociais, educação e saúde públicas, segurança e transporte. Os ricos e poderosos que se voltam contra a justiça tributária e não querem pagar impostos não precisam desses serviços.

A manipulação desses ricos e poderosos se volta agora contra a CPMF. Na verdade, o que eles mais temem é que com a CPMF fica muito mais difícil sonegar impostos. E aí entra também a questão política: são contra a CPMF os que ainda apostam no agravamento da crise econômica para desgastar e, se possível, derrubar o governo.

O povo tem razão de cobrar a correta aplicação dos impostos e não querer que mais um seja criado. Mas, em vez de se aliar as ricos e poderosos, o que deve fazer é lutar por uma reforma tributária que leve quem tem mais a pagar mais impostos, e quem tem menos a pagar menos ou não pagar impostos. E que, de quebra, simplifique e desburocratize o sistema, reduzindo os custos do Estado e das empresas para cobrar e pagar impostos.

O governo federal deveria estar fazendo este debate, e enfrentá-lo com coragem. Só defender a CPMF, diante da enorme capacidade de manipulação de ricos e poderosos, aliada à estratégia de desgaste político, é muito pouco.

Hélio Doyle, Brasil 247

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A esquerda e a direita ainda sobrevivem e se diferenciam

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esquerda direita sobrevivem ideologia brasil

Leandro Fortes*, via Facebook

Qual a diferença entre esquerda e direita?”

Eu já ouvi essa pergunta de muitas formas, em muitas ocasiões, muito embora essa indagação seja feita, quase sempre, pelo mesmo perfil de gente: pessoas de direita com convicções bastante arraigadas nas zonas mais sombrias dessa parte do espectro ideológico.

A pergunta em si, não o questionamento acadêmico, costuma ser usada para induzir agressividade ao debate político. Não é feita para ser respondida, é mais um insulto do que uma questão. É como se o interlocutor lhe perguntasse: “Quem é tão estúpido para ainda se preocupar com isso?”

A esquerda, claro.

Um dos clichês preferidos da direita é o de apelar para o Muro de Berlim, supostamente uma prova física, material e documentada de que esquerda e direita teriam deixado de existir.

Trata-se de um silogismo simplório: se a linha de ferro e concreto que dividia o socialismo real do capitalismo ocidental ruiu, ruíram também os conceitos de esquerda e direita.

Acontece que uma das pistas para se descobrir se uma pessoa é de esquerda diz respeito, justamente, à capacidade de ela conseguir enxergar além do óbvio e de aceitar a complexidade da vida. O que é exatamente o oposto da lógica racional das pessoas ideologicamente conservadoras.

Imaginar que um conceito civilizatório como o socialismo possa ser pulverizado por um momento histórico é, no fim das contas, desconhecer – ou desprezar – a História em si.

Os regimes socialistas autoritários que se organizaram como Estados opressores abandonaram o pensamento de esquerda, que é, como toda ideologia, uma ideia à procura de um espaço físico. É, por isso mesmo, também uma busca pelo poder.

Em um país conflagrado politicamente, como o Brasil desses dias, a atual argumentação anticomunista é, na verdade, antiesquerdista. Ela foi quase que totalmente moldada a partir de velhas cartilhas da Guerra Fria com conceitos forçosamente adaptados ao antipetismo e, em grau avançado, ao bolivarianismo – uma ideia que não só ocupou um espaço físico (a Venezuela) como se transformou numa curiosa ideologia local adorada e combatida, a depender do que se enxerga nela.

Ao neoanticomunismo criado para combater a recente guinada da América Latina à esquerda uniu-se o fenômeno da internet, no todo, e das redes sociais, no particular. Foi dessa circunstância que nasceu essa militância feroz de Facebook, onde analfabetos políticos conseguiram se reunir em bando para produzir clichês fascistas em série.

Há, contudo, um grupo distinto da direita, formada por intelectuais, artistas e cidadãos de boa escolaridade, que naturalmente sabe dos efeitos maléficos desse movimento anticomunista anacrônico e absurdo. E, ainda assim, nada fazem para neutralizá-lo, quando não o adequam ao próprio discurso para dele se utilizar como arma política.

Guardadas as proporções, é como a piada pronta do deputado Paulinho da Força, do Solidariedade, ao se solidarizar com Eduardo Cunha, mesmo sabendo de tudo, por acreditar nesta adesão como iminente catalisadora do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Como na política, há também desfaçatez na ideologia.

O pensamento de esquerda é transversal e, ainda que muitas estultices sejam vendidas como verdade pela mídia, não é sequer homogêneo no antagonismo ao capitalismo. Até porque o conceito de socialdemocracia, resumido no Estado de bem-estar social, é uma experiência de esquerda, bolada para, justamente, estabelecer parâmetros de comportamento mais solidário e justo dentro do capitalismo.

Ser de esquerda, portanto, é uma opção política ligada ao humanismo, à condição humana que nos obriga a conviver socialmente e, portanto, a decidir em grupo.

Mas não deixa de ter um problema da aplicação prática, e não apenas por conta da oposição de direita, mas por ser uma opção, ainda, revolucionária, sobretudo do ponto de vista dos costumes.

Não por acaso, tem sido a religião a histérica voz da direita contra a esquerda nos parlamentos, terceirizada para defender exatamente aquilo que deveria condenar: a desigualdade e a exploração humana.

A consequência visível dessa terceirização é o fenômeno tão brasileiro dos pobres de direita. Pessoas que, em nome da fé, desprezam o único modelo político com chances de trazer algum alento social para si e ao País.

E elegem seus algozes.

Leia também:
Bolivarianismo: mitos e verdades
Por que a direita conclama a morte das ideologias?

No Brasil, a nova esquerda produziu, entre outras maquinações, o movimento dos blogs, a partir de 2008, quando o pensamento de esquerda pôde se disseminar além da mídia, onde era confinado a currais específicos, quando não escondido no porão.

Movimento que evidenciou a existência inalterada, sim, da luta entre esquerda e direita, esta transposta diariamente às redes sociais e às ruas.

Não há porque temê-la, e menos razões ainda para ignorá-la.

Minha satisfação é saber que, enquanto a direita se mantém atrelada ao discurso do ódio, na idolatria ao individual e à competição, a esquerda mantém-se presa a seus sonhos de sempre.

Estou do lado certo.

*Leandro Boavista Fortes é jornalista, professor e escritor brasileiro.

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Deputado que sonha em ‘abortar bandidos do útero’é único a defender Cunha

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eduardo cunha laerte bessa corrupção deputados
Deputado Laerte Bessa pulando a mesa em cerimônia de filiação do PSC no DF (reprodução)

Ex-delegado de polícia, o deputado federal Laerte Bessa (PR-DF) foi uma voz solitária no plenário da Câmara dos Deputados na noite desta quarta-feira (2), horas após a maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) decidir por acatar parcialmente a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), tornando-o réu na ação penal que o investiga na Operação Lava Jato.

Conhecido mais pelo seu comportamento intempestivo do que por seus projetos, Bessa – que já declarou ser favorável ao aborto de bebês com “tendências criminosas” – foi a única voz na Câmara a defender Cunha.

Os colegas estão prejulgando Vossa Excelência. Tá cheio de juiz aqui. Nós temos que respeitar o seu direito à defesa”, afirmou o deputado, que já havia defendido o presidente da Câmara em outras ocasiões.

Já os demais parlamentares de diversos partidos tiveram uma outra interpretação após a decisão do STF. “Isso não é mais possível, é muito constrangedor vir aqui dizer isso na frente do presidente da Casa (…). Não há outro caminho. Pedimos a sua renúncia, para que a Câmara possa respirar e fazer com que o processo interno siga democraticamente. É gravíssimo. Mudou tudo a partir de hoje”, disse o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR).

Até mesmo o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA) – que no passado já havia defendido Cunha – pediu o afastamento de Cunha. “Não resta outra alternativa senão o afastamento. Em benefício da democracia, da economia, afirmo q solicito de maneira clara que o presidente Eduardo Cunha renuncie. Será um gesto de grande importância para a nação e poderá impulsionar o afastamento da presidente Dilma Rousseff”.

Velhos rivais de Cunha também não perderam a oportunidade de criticar o parlamentar. “Eduardo Cunha não nos representa, não pode presidir a Câmara dos Deputados. Presidir a Câmara nessas condições (como réu no STF) é uma vergonha”, disse o deputado Chico Alencar (PSol-RJ). “(É) um dos políticos mais corruptos da história do País”, avaliou Henrique Fontana (PT-RS). A cada fala contra ele, Cunha procurou ‘ignorar’ os parlamentares e suas críticas.

Fora do Congresso, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, defendeu o afastamento imediato de Cunha.

Até quando o deputado Eduardo Cunha continuará na Presidência da Câmara? A votação no STF (…) reforça a necessidade de o deputado se afastar imediatamente da Presidência da Câmara. O afastamento é necessário para que o deputado não tenha meios de atrapalhar as investigações, no âmbito da Justiça e também dentro do Legislativo, e para que a autoridade da Câmara não continue a ser prejudicada”.

Planalto mantém a cautela

O governo da presidente Dilma Rousseff comemorou a primeira parte do julgamento do Supremo, mas ainda há apreensão no ambiente. Auxiliares de Dilma temem a vingança de Cunha, que já pôs em marcha uma pauta-bomba para aumentar gastos do governo num momento em que as finanças estão anêmicas e o ajuste fiscal é prioridade para acertar contas.

No Planalto, o comentário era que, com Cunha inaugurando o banco dos réus da Lava Jato, o Supremo terá de decidir o mais rápido possível por seu afastamento do comando da Câmara, porque, se demorar ou não for este o veredicto, Dilma terá muitos problemas.

Embora o calvário de Cunha enfraqueça muito o processo de impeachment contra a presidente, o governo avalia que enfrentará retaliações a curto prazo, e prefere manter cautela. Para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, não há vinculação direta entre o impeachment e a situação de Cunha.

Nós estamos trabalhando para melhorar a economia e a política, isso sim”, afirmou.

Depois de muitas negociações, o Planalto conseguiu adiar a votação do projeto do deputado Esperidião Amin (PP-SC) que altera a metodologia de cálculo da dívida dos Estados com a União. A proposta integra a pauta-bomba e, se for aprovada, o governo pode ter uma perda de R$ 300 bilhões.

Dilma sabe que, em ano de eleições municipais e fraturas na base aliada, todos querem aumentar despesas. Diante desse quadro, o diagnóstico reservado do governo é que ter um presidente da Câmara processado por corrupção, mas ainda no comando da Casa, é um perigo para a presidente.

Agência Estado e Huffpost Brasil — Thiago Araújo

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A desilusão com a política, com a mídia e com a Justiça

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por Florestan Fernandes Jr.

Passei 3 dias em silêncio refletindo sobre os acontecimentos no Brasil. O que vou dizer não vai agradar muitos dos meus amigos, mas é o meu sentimento.

Alguns políticos que marcaram minha geração e alimentaram meus melhores sonhos se distanciaram de alguns princípios. De Fernando Henrique a Lula de Covas a Zé Dirceu. É triste constatar hoje as escorregadas, pra dizer o mínimo, que muitos desses ícones da política deram depois que chegaram ao poder.

Não é ilegal receber dinheiro de empreiteiras e bancos para financiar institutos privados como fizeram o sociólogo e o operário. Mas, para mim, é antiético. Como é antiético um juiz aceitar prêmios de órgãos de comunicação em plena operação que mexe com interesses financeiros e políticos dessas empresas.

Complicado entender os princípios que norteiam uma ex-empregada domestica e defensora dos seringueiros fazendo campanha tendo à tiracolo um grande grupo empresarial e um poderoso banco privado. E como explicar a metamorfose que transformou o Geraldinho, um jovem deputado boa praça, no imperador de um estado que governa com mão de ferro protegido por parte da justiça e da imprensa? Qual o real compromisso de partidos que fazem das obras públicas uma negociata por dinheiro para campanhas milionárias ou para o enriquecimento ilícito?

Nesse ponto, nenhuma das grandes legendas é melhor que a outra. Todas têm um rastro de pólvora ligado aos caixas dois de empreiteiras, bancos e multinacionais. Os casos vão da Petrobras passando pela Cemig em Minas, Metrô de São Paulo e desaguando na merenda escolar roubada de nossas crianças.

No barraco pelo poder, todo o podre da nossa “Velha Nova República” veio à tona e o mau cheiro se espalhou rapidamente. Amantes que receberam dinheiro de contas em paraíso fiscal, empresários de comunicação que sonegam impostos e constroem mansões em áreas de reserva ambiental, aeroportos construídos em fazenda de governadores, agentes da PF que vendem informações sigilosas, contas secretas do presidente da Câmara dos Deputados, triplex na praia e apartamento em bairro chique de Paris.

Para temperar a podridão, os vazamentos seletivos que manipulam a opinião pública e comprometem totalmente a Lava Jato. Uma operação que desde seu início vem sendo usada politicamente e que apresentou na última sexta-feira um espetáculo lamentável. A condução coercitiva, além de ilegal, fez do ex-presidente Lula um “preso por algumas horas”. Deveríamos bater panelas pelo todo da obra.

Nossos representantes chegaram ao fundo do poço e estão levando com eles nossos empregos, nossa autoestima e, se a irresponsabilidade continuar, a nossa democracia.

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“Petralhas”, “tucanalhas” e o filme de terror maniqueísta

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Leonardo Sakamoto*

Elogiou uma ação do governo federal? Petralha.

Comentou que uma política de São Paulo era boa? Tucanalha.

Criticou a gestão FHC? Petralha.

Avaliou mal a gestão Lula? Tucanalha.

Reclamou da falta de apuração do Trensalão em São Paulo? Petralha.

Demandou a continuidade da Lava Jato? Tucanalha.

Foi à rua protestar contra Alckmin ou Beto Richa? Petralha

Foi à rua protestar contra Haddad ou Dilma? Tucanalha.

É a favor do Mais Médicos? Petralha.

Analisou negativamente obras para a Olimpíada? Tucanalha.

Reclamou de polarização violenta? É xingado por todos os lados.

É de esquerda? Tem que fazer voto de pobreza.

É de direita? Chicoteia os empregados.

Criticou uma política de Israel? É antissemita ou pró-Hamas.

Criticou uma ação do Hamas? É pró-Israel ou islamofóbico.

Defendeu sem-teto? Se não levar para casa, é hipócrita.

Torceu o nariz para o machismo? É bicha.

Fumou maconha? É um vagabundo inútil.

Não acredita em Deus? É do mal.

Criticou a violência policial? Quer policiais mortos.

Foi contra linchamento? É a favor de bandido.

Dançou animada na balada? Tá pedindo homem.

Vestiu saia curta na rua? Tá pedindo homem.

Sozinha no Carnaval? Tá pedindo homem.

É mulher e sorriu? Tá pedindo homem.

Reclamou da concentração de verba pública para uma TV? Não pode ver novela.

É índio? Tem que andar nu e não ter carro.

Leia aqui outros textos de Leonardo Sakamoto

Não está conosco? Então, está contra nós.

Não é patriota? Pois é um inimigo do povo brasileiro.

Não ama o Brasil? Então, deixe-o.

(Versão revista, ampliada e atualizada diante da insanidade vigente.)

*Leonardo Sakamoto é professor, jornalista e doutor em Ciência Política

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Ricardo Noblat e Merval Pereira chamam militares para “colocar ordem no país”

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Merval Pereira Noblat ditadura
Merval Pereira e Ricardo Noblat

A Rede Globo, que ajudou a implantar uma ditadura militar no Brasil e dela se beneficiou amplamente, construindo de mãos dadas com os generais o maior monopólio de comunicação do mundo, volta a flertar com os quartéis.

O grupo midiático usou dois de seus principais colunistas, Merval Pereira e Ricardo Noblat, para disseminar a tese de que os militares estariam prontos para colocar ordem na casa – assim como em 1964.

“Já há algum tempo, diante do agravamento da crise político-econômica, militares de alta patente estão conversando com lideranças civis de diversos setores da sociedade, e agora consideram que está na hora de o mundo político encontrar saídas constitucionais para o impasse em que estamos metidos, com o Congresso, que é o único caminho para uma solução em moldes democráticos, paralisado diante de sua própria crise”.

Merval diz ainda que “alguma coisa terá que ser feita, e rápido”

“A crise ganhou um novo componente. Ele veste farda e tem porte de arma. Sua entrada em cena, ontem, foi o fato mais importante do dia em que o país quase parou, surpreso com o que acontecia em São Paulo. Os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída”, escreveu Noblat, que defendeu ainda que, no passado, a corrupção era mais ‘sadia’.

VEJA TAMBÉM: Globo pede desculpas e diz que errou por apoiar a ditadura militar

“Precisamos voltar a níveis passados de incompetência e corrupção. Eram mais sadios”, afirmou.

Grotesco

O jornalista Mário Magalhães, do UOL, chama de “grotesco e perigoso” o retorno das vivandeiras, pedindo intervenção militar, em pleno 2016.

“Agora, elas chegaram ao jornalismo. Ou melhor, regressaram, décadas mais tarde”, diz ele em seu blog, em referência aos colunistas do Globo Merval Pereira e Ricardo Noblat, que no fim de semana clamaram pelas Forças Armadas.

Leia a seguir a íntegra do texto de Mário Magalhães:

O mundo gira, a lusitana roda, e as vivandeiras continuam na ativa. Pelo menos no Brasil.

Eu as supunhas extintas, como contei no ano passado, em post reproduzido abaixo.

Agora, elas chegaram ao jornalismo. Ou melhor, regressaram, décadas mais tarde.

Como no século XX, ninguém diz que quer intervenção militar para rasgar a Constituição.

As vivandeiras falam em proteger a ordem constitucional. Mas, cá entre nós, pode chamar de golpismo.

A essa altura do século 21, as vivandeiras são grotescas.

Podem ser também perigosas.

*

Tudo é história: vivandeiras

Um bom método para avaliar se o Brasil melhorou ou piorou, e levantar um pouco o astral, é catar palavras que caíram em desuso.

Muitos jovens nunca ouviram falar em “anjinhos”. Não que eles não mais existam. Mas é cada vez mais difícil encontrá-los, graças à decadência da mortalidade infantil.

Anjinhos são bebês ou crianças mortos. Quase sempre por doenças associadas à desnutrição, ou à fome, para falar em bom português. Eram comuns nos cenários nordestinos.

Quantos brasileiros sem cabelos brancos sabem o que é “empastelamento”?

Houve uma época, no trepidante século XX, em que as autoridades empastelavam jornais. Isto é, fechavam na marra publicações que não acolhiam as ideias do poder.

E “vivandeira”, alguém ainda liga o nome à pessoa?

Na origem, como ensina o verbete do “Houaiss” reproduzido no alto, era a “mulher que acompanha uma tropa, vendendo ou levando mantimentos e bebidas”.

Mais tarde, ganhou outra conotação, a de quem incentiva a desinteligência entre militares. E atiça a sua intervenção ilegal e ilegítima na ordem constitucional, derrubando e promovendo governos.

As vivandeiras grassaram no país da década de 1920 à de 1980.

Eu as supunha extintas, como a varíola.

Lembrei-me delas por causa do assanhamento de um pessoal que anda provocando as Forças Armadas a fazerem o que, salve, salve, elas têm reiterado que não farão. Quer dizer, não pretendem estuprar a democracia.

Para frustração das, como é mesmo?… vivandeiras.

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Miguel Nicolelis vai denunciar no exterior tentativa de golpe no Brasil

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Considerado um dos vinte maiores cientistas do mundo no começo da década passada pela revista “Scientific American“, Miguel Nicolelis usou sua conta pessoal no Twitter para afirmar que irá denunciar, no exterior, a tentativa de golpe em curso no Brasil.

“Sábado estarei palestrando na Harvard. Na quinta na Yale e na semana próxima na Georgetown Uni. Em todas irei denunciar a tentativa de golpe no Brasil”, disse.

Primeiro cientista a receber no mesmo ano dois prêmios dos Institutos Nacionais de Saúde estadunidenses e o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science, Nicolelis relembrou o período da ditadura e citou a Folha de S.Paulo (FSP) — veículo de comunicação que apoiou o regime — para criticar o que considera ser uma violação ao Estado de Direito no Brasil.

“Cresci durante a ditadura. Estado de Direito é nossa única defesa contra a barbárie. Brasil não pode voltar às trevas!. A FSP se isola como o único veículo de mídia apoiando o pedido do MP-SP. Quem tem o golpe no DNA nunca perde a chance de expressá-lo”, escreveu.

Em 2011, Nicolelis foi nomeado pelo papa para a Pontifícia Academia das Ciências, a mais antiga academia de ciências do mundo.

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Sergio Moro e as perguntas que não querem calar

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Sérgio Moro confraterniza com o tucano João Dória Jr., acusado de compra de votos na própria prévia interna organizada pelo PSDB para escolha do candidato à prefeitura de São Paulo (reprodução)

Guilherme Boulos*

O espetáculo da condução coercitiva do ex-presidente Lula na semana passada expôs a nu as motivações políticas do juiz federal Sergio Moro. Criticada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e por juristas de todos os matizes (incluindo um ex-ministro de FHC), a operação não tem outra explicação que não o linchamento público de Lula.

O argumento de que a medida extrema foi para a proteção do ex-presidente não convence nem as carolas do Country Club de Maringá, frequentado pelo juiz. O ministro Marco Aurélio Mello, que não é exatamente um petista, afirmou que “não gostaria de ser ‘protegido’ dessa maneira”.

A Lava Jato ganhou popularidade por ter pegado peixes graúdos do empresariado. Os donos do Brasil foram em cana e não saíram no mesmo dia. Assim, Moro elevou-se com a fama de justiceiro, o Falcone das Araucárias. No entanto, com o passar do tempo, a Lava Jato e seu principal condutor foram revelando vícios comprometedores.

O primeiro foi o dos pesos da balança. A décima quarta fase da operação, quando foram presos Marcelo Odebrecht [presidente da Odebrecht] e Otávio Marques de Azevedo [presidente da Andrade Gutierrez], recebeu o nome de “Erga Omnes”, em latim “Vale para todos”. Vale mesmo?

Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) foi citado em mais de uma delação – numa delas como detentor de um terço das propinas de Furnas e… nada. A campanha tucana foi beneficiária de doações das mesmas empresas que financiaram Dilma, por vezes com valores iguais ou maiores. Mas num caso as doações foram criminosas e noutro não? O Instituto FHC recebeu contribuições de várias das empresas investigadas, tal como o Instituto Lula. Mas não consta ter havido busca e apreensão por lá.

Visivelmente a Lava Jato escolheu alvos e excluiu outros. Optou por atacar Lula e o PT e por preservar o PSDB. Além disso, há os incríveis vazamentos das operações e de depoimentos sob “sigilo”. O editor da revista “Época” – do Grupo Globo – anunciou a operação no Twitter com horas de antecedência. Há algo de podre aí. Resta saber o que une Moro, Globo e a PF numa sintonia tão fina…

Por muito menos, o ministro Gilmar Mendes falou em “estado policial” e Paulo Lacerda foi defenestrado da direção da PF em 2007. Aliás, não deixa de ser curioso o silêncio de Gilmar, tão preocupado com as garantias constitucionais, em relação aos procedimentos “heterodoxos” do juiz Moro e da Lava Jato.

Abuso das prisões preventivas, negociações pouco claras em relação às delações premiadas e agora a condução coercitiva (condução compulsória por agentes policiais) sem intimação prévia. Para atingir seus propósitos, Moro abre precedentes perigosos. Com a mente messiânica de um justiceiro, parece estabelecer para si o objetivo de “moralização” do país. Há, porém, sérios motivos para se desconfiar do que ele entende por isso.

Num evento com empresários no ano passado, Moro disse que “a iniciativa privada tem melhores condições de liderar um movimento contra a corrupção”. Hein? A mesma iniciativa privada que sonega R$ 500 bilhões de impostos todos os anos e tem 30% do PIB em paraísos fiscais? Aquela que desviou no esquema do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) mais de três vezes o valor das propinas da Petrobras? Ora, dizer um disparate desses revela ou ingenuidade ou cinismo.

Moro é também admirador confesso da Operação Mãos Limpas, conduzida pela procuradoria de Milão nos anos 1990. A Mãos Limpas prendeu 2.993 pessoas durante quatro anos e investigou 872 empresários, 438 parlamentares e 4 primeiros-ministros. Liquidou com os quatro maiores partidos políticos do país.

O resultado de tudo isso não foi a “moralização” da Itália. Foi a ascensão de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro, estabelecendo um reinado corrupto e depravado que durou 12 anos. A Mãos Limpas não acabou com a corrupção porque nenhum justiçamento acaba. É evidente que as investigações sobre corrupção são importantes e devem ser aprofundadas, mas sem as arbitrariedades, achincalhamentos e a seletividade de nenhum justiceiro de toga.

Enfrentar a corrupção no Brasil implica enfrentar um sistema político em que os interesses públicos e privados historicamente se amalgamam. Mas isso não está pautado no horizonte do juiz Sergio Moro. Para ele, trata-se de prender Lula e contribuir com a derrubada do governo petista. Definitivamente não parece ingenuidade.

*Guilherme Boulos é filosofo pela USP e integrante da coordenação nacional do MTST

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Discutir política é diferente de discutir futebol

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Saullo Diniz*, Pragmatismo Político

Eu sou Vasco. Sim, eu Saullo Diniz sou Vasco. Meu irmão, meu pai, todas as 5 irmãs de meu pai, o pai de meu pai (meu avô) e etc. Posso dizer que 80% da minha família por parte de pai é Vasco também. É uma coisa de família, não seguir essa linha é quase uma frustração.

Esse é apenas o meu exemplo, provavelmente o leitor conhece casos muito parecidos.

Por conta disso, aprendi desde pequeno a discutir futebol tendo o meu time como a grande – e maior – referência. Nunca posso aceitar uma crítica (“zoação”) de um torcedor rival. Mesmo depois de uma goleada inaceitável, inexplicável, eu vou ter aquele argumento na ponta da língua. Não importa há quanto tempo não ganhamos nada relevante, o que importa mesmo é que em 1970 nós fomos campeões daquele campeonato que eu nem lembro o nome e é ele que vou usar pra defender meu time. Se falarem mal do meu atacante, é lógico que minha resposta será uma crítica ao atacante adversário (independente da história e do momento atual dos dois). Não importa, pra mim o meu time sempre será o melhor (mesmo não sendo).

Pra mim não importa, o Vasco vai ser sempre melhor que o Flamengo, e não tem Mundial que fale mais alto que os atuais jogos de invencibilidade. Pra mim, Roberto Dinamite – mesmo não sendo – vai ser sempre melhor que o Zico. Eu sempre vou falar dos gols do Edmundo (e eles do gol de falta do Pet). Não importa como, apenas quero vencer a “disputa”. Não é racional, é passional. É tudo uma grande brincadeira. Não sei se isso é ruim pra um torcedor, só sei que o período entre dezembro e janeiro que não têm jogos não é chato simplesmente por não ter jogos, mas por não ter a “zoação” que os jogos proporcionam.“Cá” entre nós, grande parte da beleza do futebol está exatamente nessa brincadeira, nessa divertida rotina futebolística.

O problema é quando trazemos isso pra política. Recentemente li na internet a seguinte frase “O brasileiro não está politizado, ele apenas trouxe a discussão de times para a política” (não era exatamente essa a afirmação, não lembro perfeitamente, mas a síntese é essa). Estamos tratando a questão política como uma discussão de futebol, do meu time contra o teu. O problema é que, como mostrei acima, a discussão de times (quase) sempre não trabalha com a lógica, é apenas uma brincadeira passional. Trouxemos isso pra política, ou seja, não estamos usando a racionalidade na discussão – quero dizer que não estamos discutindo os ganhos sociais e políticos das políticas (e dos próprios políticos) – apenas discutimos defendendo até o fim o nosso time colocando-o melhor em tudo que o adversário.

Se falam que a Dilma fez algo, imediatamente o contra-argumento será apontar alguma acusação sobre o Aécio. Se a crítica for contra o FHC, automaticamente textos e textos falando do quão corrupto (dizem que) foi o governo Lula. Uma pessoa que critica o Bolsonaro ou a ditadura se torna automaticamente um apoiador de toda a corrupção do PT. Qualquer notícia referente ao PT será respondida com ataques ao PSDB e vice-versa. Não há lógica, não há avaliação dos ganhos (ou proposta de ganhos) em cada momento, não há discussão sobre acertos e erros, avanços e retrocessos, apenas é um time contra o outro. A minha cegueira contra a tua.

E assim nos mantemos parados, presos a essa dualidade entre corruptos de um lado e corruptos de outro. Não há proposta, não há alternativa, não há avanços. O que importa é que o nosso time ganhe o campeonato, ops, a eleição.

*Saullo Diniz é graduando em Geografia pela UFRJ e colunista em Pragmatismo Político

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Escritores e intelectuais assinam manifesto pela democracia

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escritores manifesto pela democracia chico buarque

Chico Buarque é um dos signatários do abaixo-assinado “Escritores e profissionais do livro pela democracia”, publicado na noite desta segunda-feira (21). Além dele, de acordo com os organizadores, o documento já conta com outras 1.256 adesões.

A manifestação surgiu no Facebook, no último sábado, e tomou proporção maior do que a esperada pelos idealizadores. Um deles, o escritor e jornalista Marcelo Moutinho, comemorou a divulgação na rede social.

“São ficcionistas, poetas, editores, ensaístas, livreiros, revisores, capistas, designers, diagramadores, bibliotecários, contadores de história, que, preocupados com flagrantes ameaças às conquistas democráticas e ao Estado de Direito, decidiram se manifestar em conjunto”, explicou, antes de revelar outros signatários.

“Subscrevem o documento, entre outros, Chico Buarque, Antonio Candido, Milton Hatoum, Slavoj Zizek, Leonardo Padura, Lira Neto, Raduan Nassar, Bernardo Carvalho, Laerte, Humberto Werneck, Aldir Blanc, Rubens Figueiredo e Davi Arrigucci Jr, além de muitos amigos queridos, parceiros de literatura – e de vida”.

Confira o documento na íntegra

“Nós, abaixo assinados, que escrevemos, produzimos, publicamos e fazemos circular o livro no Brasil, vimos nos manifestar pela defesa dos valores democráticos e pelo exercício pleno da democracia em nosso país, de acordo com as normas constitucionais vigentes, no momento ameaçadas.

Não podemos imaginar a livre circulação de ideias em outra ordem que não seja a da diversidade democrática, gozada de forma crescente nas últimas décadas pela sociedade brasileira, que é cada vez mais leitora e tem cada vez mais acesso à educação.

Ainda podemos nos recordar facilmente dos tempos obscuros da censura às ideias e aos livros nos 21 anos do regime ditatorial iniciado em 1964.

A necessária investigação de toda denúncia de corrupção, envolvendo a quem quer que seja, deve obedecer às premissas da legalidade e do Estado democrático de direito.

O retrocesso e a perda dos valores democráticos não interessam à maioria do povo brasileiro, no qual nos incluímos como profissionais dedicados aos livros e à leitura.

Ao percebermos as conquistas democráticas ameaçadas pelo abuso de poder e pela violação dos direitos à privacidade, à livre manifestação e à defesa, combinadas à agressividade e intolerância de alguns, e à indesejada tomada de partido por setores do Poder Judiciário, convocamos os profissionais do livro a se manifestarem em todos os espaços públicos pela resistência ao desrespeito sistemático das regras básicas que garantem a existência de um Estado de direito.

Dizemos não a qualquer tentativa de golpe e, mais forte ainda, dizemos sim à Democracia”.

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10 pensamentos para refletir neste momento delicado que vivemos no Brasil

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Câmara dos Deputados (reprodução)

A civilização é composta por ciclos e marcada por rompimentos que superam ou antecedem crises. O que é uma crise senão uma insuportável e paralisante dúvida a respeito de valores até então tidos como certos? Na dúvida, podemos assinalar saídas ou desistências. Construções ou destruições.

Em um momento em que os brasileiros acumulam perguntas e não dispõem de respostas – “Que lado escolher? O que desejo de meu país? Qual minha relação com a política e com o outro?”, o desespero, a desesperança e a apatia podem encontrar terreno fértil para crescer.

Enquanto se tenta resistir às investidas do caótico, podemos encontrar conforto, ou ser instigados por alguém em quem depositamos confiança. Por isso reunimos depoimentos de algumas pessoas que se dispuseram a destrinchar as perguntas, provocar outras tantas ou mesmo arriscar uma resposta.

Leandro Karnal
Historiador brasileiro

1 —Eu não sou neutro, a Justiça não é neutra, o Congresso não é neutro, as igrejas não são neutras. Eu, o juiz Moro, Lula, o papa Francisco, Dilma, a mãe de santo, o pároco, o sindicalista, você e a socialite: todos estamos inseridos numa classe social e manifestamos um mundo que corresponde ao que mais me beneficia. Neutralidade só existe no sabão de coco. A democracia permite que uma subjetividade não seja a única possível.”

2016, em post no Facebook

Zygmunt Bauman
Sociólogo polonês

2 —Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em prática, dependerá da imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do planeta e seus habitantes. Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.”

2014, em entrevista à revista Época

3 —Mais e mais pessoas duvidam que os políticos sejam capazes de cumprir suas promessas. Assim, elas procuram desesperadamente veículos alternativos de decisão coletiva e ação, apesar de, até agora, isso não ter representado uma alteração efetiva.”

2014, em entrevista à revista Época

4 —Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que ‘nós, seres humanos, podemos fazê-lo’, crença esta articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos, e ter força e coragem para extirpá-los.”

2003, em entrevista à revista CULT

Marcia Tiburi
Filósofa brasileira

5 —Todo mundo conhece um “fascista”, um tipo psicopolítico bastante comum, alguém que perdeu a dimensão do diálogo, intelectualmente pobre, que reproduz discursos prontos, discursos de ódio, justamente porque é incapaz de ouvir o outro e de refletir sobre a diferença“.

2015, em entrevista ao site Hoje em Dia

Sigmund Freud
Neurologista e psicanalista austríaco

6 —Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a praticar incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou seus desejos sexuais, e que não hesitam em
prejudicar outras pessoas por meio da mentira, da fraude e da calúnia, desde que possam permanecer impunes.”

1927, no livro O Futuro de Uma Ilusão

Eliane Brum
Escritora e repórter brasileira

7 —Uma democracia demanda cidadãos autônomos, adultos emancipados, capazes de se responsabilizar pelas suas escolhas e se mover pela razão. O que se vê hoje é uma vontade de destruição que atravessa a sociedade e assinala mesmo pequenos atos do cotidiano. O linchamento, que marca a história do país e a perpassa, é um ato de fé. Não passa pela lei nem pela razão. Ao contrário, elimina-as, ao substituí-las pelo ódio. É o ódio que justifica a destruição daquele que naquele momento encarna o mal. Isso está sendo exercido no Brasil atual não apenas na guerra das redes sociais, mas de formas bem mais sofisticadas. Isso tem sido estimulado. Quem acha que controla linchadores, não sabe nada.”

2016, em sua coluna no El País

Mario Sergio Cortella
Filósofo e educador brasileiro

8 —Os chineses acham que devemos lidar com a história e não com o momento. Você só compreende o hoje se olha a história no seu desenvolvimento. É bom recordar o que falavam as avós: ‘Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe’. Portanto, nada de desespero. Problemas agudos se dissolvem no tempo. Os efeitos colaterais não são insuperáveis; podemos lidar com eles. É bom lembrar que devemos ter cuidado num mundo multifacetado, multicultural e multidiverso. Por isso, não podemos nos fechar em grupos exclusivos – só católicos, só gays, só muçulmanos -, o que leva à política do gueto e dilui a ideia de humanidade.”

2015, em entrevista à revista Claudia

Slavoj Zizek
Filósofo e psicanalista esloveno

9 —Tem algo que gosto de repetir: o grande papel dos intelectuais não é dar respostas. As pessoas me perguntam, por exemplo, sobre a crise ecológica: ‘O que devemos fazer?’. Eu não sei! A principal tarefa do intelectual público hoje, eu acho, é permitir, ou melhor, possibilitar que as pessoas pensem, fazer com que elas façam as perguntas certas. Eu acho que os problemas que nós temos hoje existem porque nós estamos fazendo as perguntas erradas.”

2013, em entrevista ao Jornal do Commercio

Umberto Eco
Escritor e intelectual italiano

10 —Na medida em que envelheci, comecei a odiar a humanidade. Portanto, se eu tivesse um poder absoluto, deixaria que ela continuasse em seu caminho de autodestruição. Ela seria destruída e eu ficaria mais feliz. Pessoas como eu são intelectuais: nós fazemos o nosso trabalho, escrevemos artigos, temos maneiras de protestar, mas não podemos mudar o mundo. Tudo o que podemos fazer é apoiar a política de empatia”.

2016, em sua coluna no UOL

Amanda Mont’Alvão Veloso, HuffPost Brasil

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Menino é agredido por usar camiseta da Suíça na escola

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camisa suíça vermelha escola menino
Menino é xingado na escola por usar camisa da Suíça. O motivo? A peça é vermelha

Uma camiseta com a bandeira da Suíça, país conhecido por sua neutralidade, teria feito com que um menino de 9 anos fosse xingado e ameaçado em uma escola de São Paulo. O motivo? A peça era vermelha. As informações são da BBC Brasil.

Segundo seu pai, João – nome fictício – (*) saía de uma aula de inglês no começo de março quando colegas da mesma idade o chamaram de “petista” e disseram que deveria “ser espancado” e “jogado na rua”.

O pai do menino descreveu a história do filho em sua página no Facebook. A postagem tem mais de 4.500 compartilhamentos.

“Fiquei muito assustado em ver as crianças repetindo um discurso de ódio”, disse o pai.

A polarização política, que tomou conta de ruas e casas no país, está chegando às escolas. Pais, professores e alunos ouvidos pela reportagem contaram que a política nacional tornou-se assunto nas salas de aula. Lá, meninos e meninas com opiniões ligadas à esquerda e à direita se dizem constrangidos por colegas que pensam o contrário.

“(Meus amigos) explicam que a Lava Jato é roubar dinheiro das pessoas pobres. Às vezes, no recreio, ficam falando que o Lula está roubando dinheiro de todo mundo e que a Dilma não presta, é comparsa dele. Chamam ela de trouxa, idiota”, diz Luisa, de 9 anos.

Ela conta que os bate-papos acontecem na hora do lanche e que até os “preços muito caros da cantina” são colocados na conta do governo. “Falam que é culpa da Dilma, do Lula e da Lava Jato.”

Saiba mais na íntegra da matéria da BBC aqui

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Cinismo, o rei absoluto

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Leandro Dias*, Pragmatismo Político

A nomeação de Lula à Casa Civil pode se tornar um dos maiores erros políticos da história da democracia brasileira. Fazendo o exercício cínico de ignorar tanto que a nomeação se dava em circunstâncias polêmicas, em meio ao furor em volta do pedido de prisão do ex-presidente pelo MP-SP (aquele que citou Marx e Hegel e virou piada), considerado “precário” inclusive por membros da própria equipe de Sérgio Moro; como também, ignorando a polêmica sobre a prerrogativa de foro que os próprios grampos levantaram – estes, frisa-se, admitidos como ilegais pelo próprio Sérgio Moro -, podemos então afirmar que, independente de sua legalidade e do conteúdo dos grampos, do ponto de vista puramente republicano, a nomeação de Lula foi no mínimo leviana.

Se a Dilma já era considerada por muitos uma líder fraca, incapaz de correlacionar forças internas e discutir com os partidos da sua base parlamentar e estava longe de ser uma unanimidade mesmo dentro do PT, o que fica subjacente à sua decisão de chamar Lula para talvez mais importante ministério do governo é, de maneira inequívoca, uma demonstração monumental de fraqueza. É como se ela inegavelmente admitisse ser o que sempre falaram dela: uma líder pusilânime e vacilante, inapta para comandar o governo que supostamente dirige.

Mesmo que a nomeação de Lula ao ministério realmente fosse o que muitos governistas queriam e, por um bom tempo, muitos pmdbistas também, além de é claro, considerável parte da população, é difícil não entender essa nomeação como uma tentativa tardia de “Putinizar” o governo Dilma. Isto é, emular as ações – muito bem sucedidas, diga-se de passagem – do líder russo Vladmir Putin, que se alterna entre presidente e primeiro ministro da Rússia por pelo menos 16 anos, consolidando como líder inquestionável do país, tanto que muitos nem sabem que Dmitri Medvedev foi também presidente e primeiro ministro durante o “regime Putin”.

Por isso que a oposição (seja a das ruas ou parlamentar) bradou que a nomeação de Lula fosse também uma espécie de golpe branco, mesmo não havendo absolutamente nada de ilegal ali. Porém, só um esforço ingênuo poderia negar que Lula estava assumindo o comando de fato do país naquela posse de Ministro. Curiosamente, Dilma fez, pela primeira vez em cinco anos, um discurso à altura de uma líder nacional: foi firme, não gaguejou ou cometeu as gafes usuais e foi contundente contra críticas. Falou bem, mas falou tarde demais. Ironicamente resolveu parecer uma liderança forte no momento que admitia que não governava mais.

A oposição por sua vez, reconheceu essa possível mudança de eixo de poder e sentiu que se realmente deixasse Lula “sossegado” no comando, ele rapidamente traria o PMDB para perto do governo de novo, prometendo o mundo ao partido, mesmo tendo que arranhar mais uma vez a já abalado compromisso com os trabalhadores. E ainda, como a delação do Delcídio Amaral indicou poucos fatos novos em relação a Lula, mas supostas bombas para caciques importantes da oposição como Eduardo Cunha e Aécio Neves, existia, portanto, a real possibilidade – hoje pequena – de a oposição ser enfraquecida se Lula conseguisse “governar” de fato.

É irônico e – novamente – extremamente cínico que Gilmar Mendes, o mesmo que foi veemente contra grampos no STF e no alto escalão do Estado na Operação Satyagraha, declarando as interceptações de telefone da operação como um “atentado contra o STF, o Judiciário e a democracia”, indo inclusive interpelar com o próprio Lula sobre o caso em 2007, seja aquele que agora se baseia em conteúdo de um grampo ilegal para derrubar a posse do mesmo Lula e acirrar o discurso do Impeachment. O caso na época terminou com a condenação do Delegado Protógenes justamente por vazar à imprensa informações da operação e, o juiz Fausto de Sanctis – uma espécie de Sérgio Moro quase dez anos antes -, foi execrado pelo mesmo Mendes e condenado ao ostracismo. No entanto, vale mencionar em nosso festival de “dois pesos, duas medidas”, o Delegado demitido foi parar justamente nas fileiras do governismo, se filiando ao PCdoB e o De Sanctis, se tornou um controverso herói da esquerda governista, com seus méritos ou não.

No fundo, parece que a oposição suspeitava que as denúncias (até agora) contra Lula eram muito fracas e que, se ficasse apenas em discussão de Triplex e “sitiozinho” (ironizado no grampo também ilegal do prefeito do Eduardo Paes), não iria conseguir muita coisa além de um constrangimento que parecia estar dando a Lula, fama de vítima e perseguido. Só assim para tentar entender porque se precipitariam no festival irremediável de ilegalidades jurídicas que se seguiu. Quando o próprio juiz Sérgio Moro admitiu não haver “indício nas conversas, ou fora delas, de que as pessoas citadas tentaram, de fato, agir de forma inapropriada”, mas seus aliados na mídia e na oposição disseram exatamente o contrário, martelando diuturnamente o acontecido como um gigantesco escândalo, se torna difícil identificar quem é o cínico da vez: o juiz, a oposição, a emissora ou todos eles?!

Assim, tudo indica que a oposição constatou que Lula de fato poderia assumir o governo e lhe dar algum respiro, vislumbrando portanto, consequências negativas imediatas para ela, visto que até recentemente ela mesmo reconhecia a fragilidade do impeachment por pedaladas, e notou claramente que a condução coercitiva e a precipitação das denúncias a Lula pelo MP-SP eram até aquele momento um tiro no pé, que acabaram dando folego político a ele. Somou-se a isso a hostilização que Aécio e Alckmin sofreram na Paulista, indicando um frágil apoio dos radicais anti-Dilma ao PSDB e a mácula do roubo de merendas afetando publicamente importantes quadros do partido e, reitera-se, a Lava Jato começando a afetar nitidamente quadros oposicionistas. Tudo isso pode explicar porque se precipitaram em destruir definitivamente o governo na avalanche de denúncias imediatamente amplificadas pelo seu largo aparato midiático, desmantelando assim a frágil base governista e, com base nas novas denúncias que os grampos (mesmo ilegais) e a nomeação de Lula deram, reforçar irremediavelmente o clima de impeachment.

Neste sentido cabe também um esforço enorme de cegueira para não considerar que as inúmeras ilegalidades da inconsequente iniciativa de Moro divulgada pela Rede Globo visavam principalmente insuflar não apenas as ruas, mas principalmente a base anti-Dilma no parlamento e dar enorme impulso ao pedido de impeachment das pedaladas e, portanto, têm de ser tomadas pelo que são: uma tentativa de alimentar um golpe branco judicial estilo o que ocorreu no Paraguai. Cabe uma desfaçatez gigante em pedir a derrubada de um presidente eleito por conta de manobras contábeis aprovadas pela própria comissão do Senado e, que criaria precedente jurídico para derrubar outros 16 governadores e o próprio vice-presidente!

Assim, a nomeação de Lula, precipitou seus rivais a jogar gasolina na pequena fogueira que vagarosamente crescia, transformando o fraco pedido de impeachment em um forte golpe judicial. Erguendo-se diante de nós um novo governo nas solidas bases do mais gritante cinismo. Um congresso temeroso com os caminhos que a própria Lava Jato pode tomar indica uma comissão de impeachment composta por uma maioria que recebeu dinheiro das próprias empresas da Lava Jato, sob a liderança de Eduardo Cunha, atolado em denúncias na Operação e do mesmo partido que domina vários ministérios e secretarias – base há 13 anos – do governo que quer derrubar, sendo o imediato beneficiado com o processo, erguendo seu vice ao cargo máximo da nação ao passo que negocia abertamente o futuro governo com os partidos da oposição derrotada nas urnas! Podem dar a interpretação legalista que for, somente ingênuos e cínicos não considerariam esse processo de impeachment encabeçado pelo PMDB como um golpe!

Por sua vez, o governo petista que agora clama pela legalidade e preceitos constitucionais que de fato se esfacelam, também nos deu por anos exemplos de que, entre os cínicos, também merece honrosa menção.

Observou de perto a intensa judicialização da censura que se avolumava no país, ao passo que enchia sua óbvia rival Rede Globo de dinheiro e se fazia de surdo aos clamores de democratização da mídia e fim dos veículos de comunicação nas mãos de políticos, exigência constitucional. Não apenas ficou quieto quando se avolumavam ações judiciais contra jornalistas independentes em todo país por parte da oposição, exemplo de Aécio Neves em Minas Gerais e José Serra em São Paulo, como também participou ativamente deste processo no emblemático caso de Cristian Góes (preso por um conto ficcional ao qual o governador petista do Sergipe Marcelo Déda e seu desembargador se sentiram ofendidos). Assumindo que, quando conveniente, também podia navegar na onda do super-judiciário.

Leia aqui todos os textos de Leandro Dias

Além disso, não apenas propôs e sancionou a recente Lei Anti-Terrorismo, como prendeu arbitrariamente dezenas de manifestantes contra a Copa do Mundo, num circo de autoritarismo festejado com o cínico “Vai ter Copa sim! E se reclamar muito, vão ter duas”. Não o suficiente, chamou aos quatro ventos os jovens manifestantes de 2013 de “fascistas e golpistas”, como faz agora contra seus antigos aliados do PMDB e, numa afronta a antigos aliados que pediam a reforma agrária, chamou a própria bancada ruralista para apoiar o seu governo! Poderíamos somar ainda o uso de largo aparato judicial e militar para tocar adiante a polêmica obra de Belo Monte, possivelmente também envolvida em subterfúgios corruptos e a “cegueira” com os desmandos autoritários do aliado Eduardo Paes nas obras dos Jogos da Exclusão, as Olimpíadas do Rio. Os casos seriam muitos, no entanto, a situação jurídica que agora se expõe é, de fato, ainda mais grave!

Quando um juíz grampeia o escritório inteiro de defesa dos advogados da própria operação que investiga, num dos crimes jurídicos mais graves que um juiz pode cometer, e ainda recebe o aval cínico ou vil de seus aliados, numa situação digna da Stasi na Alemanha Oriental, é um sinal de quebra da legalidade já está normalizada. Vale tudo. E além, quando juízes de primeira instância têm capacidade de embargar ou revogar decisões presidenciais, por mais que elas sejam estúpidas, é porque o problema da estrutura jurídica do país desmorona a olhos vistos: é o rabo abanando o cachorro! Imagina se os juízes de primeira instância começarem a questionar “na caneta” a política econômica, as relações internacionais, políticas públicas de qualquer decisão de um governo eleito, seja pela razão que for?! Lembremos que juízes não são eleitos, se fosse simples assim pautar e travar um governo que se discorda, seria mais fácil treinar concurseiros partidários do que gastar milhões em campanhas eleitorais para convencerem a votar nos candidatos! O precedente que está se criando é tenebroso no médio e longo prazo.

Se fazem isso com decisões presidenciais, o que farão quando a população eleger um prefeito ou vereador que não se alinha com o poder judiciário dominante local? O resultado é catastrófico para a democracia.

Por fim, iludem-se os que até hoje esperam uma “guinada a esquerda” do governo que nunca veio e nunca virá.

Mesmo que os movimentos sociais e base do governo, num esforço incrível de superação e luta, consigam o impossível e salvem no curto prazo o governo após a tremenda irresponsabilidade e leviandade cometida, qual será a normalidade a ser restabelecida em caso vitorioso? Um novo acordão com o PMDB? Trazer a oposição para formar um mega-governo de coalizão e tudo ficar na mesma?

Mas enganam-se também, num misto de ingenuidade e cinismo, aqueles que pensam que uma oposição coberta de interesses escusos, atolada em processos e investigações de corrupção, igualmente promíscua e envolvida nos esquemas de corrupção que derrubam o governo atual, vazia de qualquer projeto nacional, será capaz de estabilizar e executar seriamente as mudanças que o país precisa. O mesmo partido que esteve envolvido com todas as empreiteiras investigadas, encabeçado por Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer se alinhará com José Serra, o lobista de petroleiras estrangeiras, para formar um novo governo de coalizão “que vai mudar tudo”?! Santa ingenuidade!

O novo pacto social que se avizinha no curto prazo, independente de governo ou oposição vencerem, indubitavelmente colocará a imensa maioria da população para arcar com o ônus de um novo acerto entre a alta casta política e o compadrio empresarial. Portanto, o objetivo inicial de tomar as ruas pela legalidade, antes e depois de erguido o novo governo, não pode ser outro se não constranger e questionar por completo a cleptocracia patrimonialista formada pela promiscuidade entre o poder empresarial e casta política, seja ela “governista” ou “golpista”. As Jornadas de Junho estão apenas começando.

*Leandro Dias é formado em História pela UFF e editor do blog Rio Revolta. Escreve mensalmente para Pragmatismo Politico.

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Leandra Leal: Nunca estarei de luto, mas sempre na luta pelo meu país

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Atriz Leandra Leal (reprodução)

“Eu não participo da polarização que ocorre nesse momento no país e isso é uma posição forte e válida”, declara Leandra Leal em texto publicado nas redes sociais.

A atriz carioca diz que não é a favor do atual governo, mas que também é contra “um processo de impeachment sem base legal”, referindo-se à comissão conduzida pelo presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, em que a maioria dos deputados “recebeu doação das empresas da Lava Jato”.

Ao longo do texto, a atriz se diz a favor de investigações como a Lava Jato, e espera que ela reúna “provas que condenem todos os culpados sem exceção”.

Leandra afirma ainda que não é a favor de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser nomeado ministro, mas que também não é a favor de sua “condenação prévia”.

Ao final, declara:

“Eu luto pela reforma política. Eu luto pela democracia, pelo respeito e pela convivência em sociedade. Eu nunca estarei de luto pelo meu país, estarei sempre na luta.”
A publicação dividiu a opinião dos fãs.

Um dos comentários com mais curtidas critica a atriz:

Resumindo em cima do muro! Não apoio nem critíco! Não quero um… Mas também não quero o outro… Cômodo e muito confortável o seu posicionamento, isso sim!”

Já outra comentarista parabenizou o posicionamento da atriz:

Parabéns LeandraLeal Penso da mesma forma e também sou chamada de ‘em cima do muro’. A democracia no Brasil é muito jovem, por isso imagino que as pessoas não entendam direito seu funcionamento e não consigam ser equilibradas, partindo para um radicalismo sem sentido e que não ajuda NINGUÉM. Defendendo Intervenção Militar entre outros absurdos. Não está fácil.”

Leia a íntegra do texto:

Eu não participo da polarização que ocorre nesse momento no país e isso é uma posição forte e válida.Eu não sou a…

Publicado por LeandraLeal em Sexta, 18 de março de 2016


Amauri Terto, HuffPost Brasil

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Indignação seletiva de Aécio Neves vira piada nas redes sociais

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Aécio Neves tweet inaceitável

O senador Aécio Neves deu um tiro no próprio pé no Twitter na tarde desta quarta-feira (23).

Ao postar “É inaceitável o que está acontecendo”, Aécio imediatamente começou a receber uma chuva de respostas de internautas.

A manifestação de Aécio não foi bem digerida pelos internautas porque o senador é um dos nomes que aparece no ‘listão da Odebrecht’, divulgado ontem pela imprensa e colocado sob sigilo por Sergio Moro. Aécio Neves também é citado em algumas delações premiadas da Lava Jato, inclusive a do senador Delcidio do Amaral.

“Meu amigo, inaceitável é você falar bosta sobre o atual governo quando seu nome está em todas as listas de propina já publicadas”, publicou uma usuária.

“O quê? Seu nome em tudo que é podridão? É mesmo! Votei no senhor é estou muito decepcionada. Nunca mais”, disse outra internauta. Em uma hora, o tuíte de Aécio já havia sido retuitado cerca de 2 mil vezes.

O senador se referia à ação promovida pela presidente Dilma na última terça-feira (22). Segundo o presidente nacional do PSDB, Dilma convidou embaixadores para irem ao Palácio do Planalto para “ouvir um discurso alarmista e absolutamente distante da realidade como se o Brasil estivesse prestes a sofrer um golpe de estado”.

Enquanto alguns usuários da rede social mantiveram o tom sério de cobrança ao senador, outros se engajaram numa brincadeira de escrever coisas que são inaceitáveis de estarem acontecendo seguidos no tuíte de Aécio. “Sense8 apenas em 2017”, “Amanhã eu ter aula”, “Açaí a 20 reais o litro”, “Eu ter pego o ônibus errado de novo”, são algumas das reclamações bem-humoradas dos internautas.

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“Ninguém vai dar golpe pelo telefone” – As lições de Brizola, 55 anos depois

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Antonio Martins, Outras Palavras

Ninguém vai dar golpe pelo telefone”, disse Leonel Brizola em agosto de 1961 e mudou a história do Brasil. O presidente Jânio Quadros renunciara no dia 25. Mas seu vice e sucessor constitucional, João Goulart, não poderia assumir – anunciaram imediatamente os partidos conservadores, a mídia e o exército. Para eles, “Jango” era esquerdista demais. A resistência partiu do governador gaúcho. Num lance de audácia, Brizola convocou a população e a Brigada Militar a resistir no Palácio do Piratini.

O poder militar reagiu de imediato. Para calar a rebeldia, o marechal Odilio Denys, ministro do Exército (“da Guerra”, então) e o general Orlando Geisel, comandante do 3º Exército, lançaram, em telefonemas, o ultimato. A mobilização deveria ser encerrada – ou os tanques, os aviões Gloster Meteor, da Aeronáutica, e as corvetas da Marinha estacionadas no porto seriam autorizados a bombardear o palácio. Era humilhante demais, julgou Brizola. Se quisessem consumar o golpe, que enfrentassem a resistência.

Os militares recuaram. O golpe pelo telefone foi abortado. Mais de meio século depois, quase tudo mudou, mas algo se mantém. Desde quarta-feira, os conservadores já não esperam pelo “impeachment” de Dilma. Querem levá-la à renúncia e, em especial, evitar que Lula, nomeado ministro, chegue a tomar posse. Por que o fazem? Como se articula – até este momento, com sucesso – a campanha de bloqueio à posse de Lula e às ações de Dilma? De que modo este movimento, além de ameaçar o governo, quer impor uma agenda ultra-conservadora ao país? Quais as chances de encontrar uma brecha e romper o cerco? A seguir, oito hipóteses sobre a crise.

1. Para a coalizão conservadora, já não basta o impeachment

A partir de quarta-feira à noite, um ato do juiz Sérgio Moro, logo após a confirmação de que Lula assumiria o ministério da Casa Civil, projetou a crise política para um novo patamar. Já não se trata apenas de debater a possibilidade de um impeachment da presidente. Uma coalizão formada pelos grandes grupos da velha mídia, os partidos de direita e centro-direita e lideranças empresariais como Paulo Skaff querem bloquear, na prática, a possibilidade de a presidente governar. Há três instrumentos principais para isso: a) Um massacre midiático, que passou a dominar por completo o noticiário dos telejornais, jornais e revistas; b) Uma sucessão atos ilegais de juízes, procuradores e delegados da Polícia Federal, adotados para repercutir intensamente na mídia – que os publica com imenso destaque, sem se importar com seu caráter abusivo; c) A construção, também nas ruas, de um suposto “consenso” em favor da renúncia de Dilma (o que dispensaria o impeachment). Para isso contribui, além do massacre midiático e dos abusos jurídicos espetaculares, a Polícia Militar, – disposta, especialmente em São Paulo, a criar um ambiente de caos capaz de sugerir que, para restabelecer a ordem, a presidente deve cair.

2. Busca-se evitar um “risco”: e se Dilma cumprisse o que propôs?

A tentativa de inviabilizar o governo e levá-lo à renúncia semnecessitar do impeachment expressa uma mudança brusca de tática e tem sentido evidentemente programático. Dilma foi cozinhada em banho-maria nos últimos meses. O pedido de impeachment, aceito por Eduardo Cunha em 2 de dezembro, tramitava até agora entre avanços e recuos, mordes e assopras. A paralisia da presidente e, em especial, sua insistência em governar contra o programa pelo qual foi eleita pareciam comprazer as forças hoje animadas por derrubá-la. Bastou, porém, o anúncio do empossamento de Lula para que se deflagrasse um tsunami. A revelação, por Moro, dos grampos telefônicos a que foi submetida a própria presidente ocorreu no exato momento em que circulavam rumores sobre uma reforma de governo que pode tornar ministros Celso Amorim, Ciro Gomes e Franklin Martins. Ficou claro: o que atiça a coalizão golpista não são eventuais malfeitos do governo – mas o “risco” de que ele, finalmente cumpra aquilo a que se propôs quando apresentou-se aos eleitores.

3. Há caminhos para a mobilização da sociedade…

Meses de letargia, diante de um inimigo poderoso e agressivo, tornaram a situação do governo muito difícil. Mas a aplicação do programa de campanha parece ser, como se viu em texto anterior, não apenas a única alternativa para Dilma e Lula, mas também algo de grande poder mobilizador. Abriria diálogo com dois públicos. Primeiro, os movimentos sociais, os intelectuais que os apoiam, as bases de apoio do lulismo e outros setores da esquerda. Basta ver, por exemplo, a manifestação de milhares de pessoas anteontem, na PUC-São Paulo; ou o texto breve, porém muito incisivo publicado por Guilherme Boulos a respeito da conjuntura – sugerindo que os sem-teto estarão presentes nas marchas em defesa da democracia, hoje. Este poder será multiplicado se os novos ministros forem nomeados rapidamente e se eles começarem a criar fatos políticos há muito esperados. Entre estes: o fim do (des)ajuste fiscal, a perspectiva de uma lei de democratização das comunicações (para a qual Franklin Martins redigiu uma proposta detalhada e viável), a sinalização de que o Brasil voltará a ter política externa independente (ao contrário da pequenez dos últimos seis anos), a disposição para denunciar a aristocracia financeira (um tema que pode render a Ciro Gomes o espaço de um Bernie Sanders brasileiro).

4. … e para dialogar com a economia real

Mas não é só. O destravamento da economia brasileira, hoje submersa numa crise fabricada pelo (des)ajuste fiscal, permitirá atrair de novo setores que hoje engrossam por desespero ou desesperança o descontentamento. Estão entre eles os trabalhadores à beira de perder o emprego ou os empresários tragados por dívidas bancárias. Assim que recomposto, o governo precisa emitir mensagens claras – e muito rápidas – de mudança. São elas que permitirão furar o cerco que lhe impõe a coalizão conservadora. Na situação quase surreal em que estamos, o Poder Executivo (normalmente símbolo mais claro do poder de Estado) precisa encontrar pequenas brechas para enfrentar o cerco que lhe fazem os adversários.

5. Os elementos do cerco: o Judiciário amarra o governo…

O cerco que paralisa o governo Dilma desde o anúncio da nomeação de Lula merecerá, no futuro, um exame profundo dos cientistas políticos. A partir de quarta-feira, a presidente encontra-se inteiramente paralisada – agora, não apenas por sua conhecida hesitação. As chances de recomposição do governo foram por uma articulação entre velha mídia, aparato judiciário-policial e mobilizações de rua favorecidas tanto pelo noticiário quanto pela polícia.

O primeiro elemento é o Judiciário. Os abusos contidos na revelação, por Moro, do grampo contra Lula e Dilma são múltiplas e flagrantes: provável interceptação dos telefones da chefe de governo, vazamento das falas à mídia, exposição de conversas íntimas sem nenhuma relação com os fatos investigados. Mas esta fieira de ilegalidades – que apenas completa outras, cometidas há meses – não leva os tribunais superiores, nem o Conselho Nacional de Justiça a adotar nenhuma medida contra o juiz Sérgio Moro, por mais leve que seja. Ao contrário: desde quarta-feira, as ilegalidades de Moro têm sido usadas como base para dezenas de ações que bloqueiam a posse de Lula. Em muitos casos, os juízes que as proferem sequer escondem seu partidarismo.

Em 1964, o Supremo Tribunal Federal considerou que a deposição de um governo legítimo, por um golpe militar, não afrontava a Constituição – e recebeu o primeiro ditador, Castello Branco, com honrarias. Vê-se agora que não se tratou de um ato do acaso.

6. … a mídia constrói o pensamento único sobre a crise

A explosão na mídia das gravações de Moro é uma aula de manipulação na época da sociedade do espetáculo, em três atos.

1) Choque. Os diálogos apareceram, quarta-feira poucos minutos antes do Jornal Nacional. No primeiro momento, destacou-se a possível ousadia do ato: “Polícia Federal intercepta diálogos entre Dilma e Lula”, ou variações. Sem nenhuma crítica à interceptação (como se práticas de Estado Policial fossem normais ou necessárias) e sem análise do conteúdo das conversas, os portais e os noticiários da noite buscaram criar um clima de “a casa caiu”. Recorreu-se até mesmo a expedientes de interpretação teatral esdrúxulos, como a leitura dramática dos diálogos, pelos dois apresentadores do Jornal Nacional.Isso desfez a curiosidade, até então predominante, sobre o que mudaria no governo Dilma com a entrada de Lula.

2) Exploração Intensiva. Nos noticiários da manhã de hoje, passou-se do choque instantâneo à repetição prolongada. Usa-se à exaustão a técnica de apresentar a imagem de um documento oficial, como se este caráter fosse sinal de verdade; de descontextualizar certos trechos curtos, destacando-os ampliados; de fazer interpretações destes segmentos, apresentando-as como as únicas possíveis. Para a esmagadora maioria dos espectadores, funciona como se estivessem entrando em contato com a revelação da verdade contida nos documentos.

3) Desaparecimento súbito. A interceptação das gravações entre Lula e Dilma evaporou do noticiário já no meio da manhã, tão subitamente como entrara. Foi substituída por outro factoide: a decisão de um juiz de primeira instância de Brasília, anulando temporariamente a posse de Lula. A desaparição súbita é muito conveniente porque evita que as críticas ao fato (no caso, apontando a ilegalidade e abuso da escuta) cheguem ao público médio. Uma vez utilizada como instrumento de propaganda maciça, a notícia deve desaparecer. Durante horas, o que dominou os portais de internet (em manchetes gigantescas) foi o bloqueio à posse de Lula.

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Mas as técnicas são idênticas: choque, exploração intensiva e desaparecimento súbito, antes que se desenvolva a crítica.

7. … e as ruas tornam-se a um fator de legitimação

Tão tolo quanto negar a legitimidade das manifestações contra o governo seria desconsiderar seu contexto. Nos últimos dias, o massacre midiático intensificou-se como nunca. Na quarta-feira, oJornal Nacional dedicou 68 minutos ao vazamento dos grampos contra Lula – aplicando sempre os métodos apontados acima. Que reputação resistiria a tal bombardeio?

A nomeação de Lula gerou, entre um público formado pela TV, indignação previsível. Então, a mesma TV agiu para multiplicar o alcance deste fato – a as Polícias Militares ofereceram seu auxilio. Em São Paulo, um grupo de manifestantes que se reduzia a trinta pessoas pelas manhãs bloqueou por 40 horas a Avenida Paulista, principal artéria do centro da cidade. A mesma PM conhecida pela truculência contra manifestações rebeldes, agora encarregou-se de desviar o tráfego, em favor dos que pediam o impeachment (eles foram finalmente retirados da avenida, na manhã desta sexta).

Aglomerações semelhantes, em tamanho e sentido, repetiram-se em diversas capitais. Foram apresentadas na TV e nos portais, em intermináveis flashes, como sinais da indignação popular. As fotos e tomadas de câmera eram feitas a partir de baixo, de ângulos em que se torna difícil saber se uma manifestação reúne cem ou cem mil pessoas. Inverte-se uma lógica. As mobilizações sociais já não são instrumentos de pressão das multidões contra os poderosos, mas meios que o verdadeiro poder utiliza para legitimar seus atos…

Mas fecha-se, assim, o quadro. Para o telespectador médio, a Justiça, a imprensa e as ruas insurgem-se contra a posse de Lula e a chance de Dilma retornar a seu programa. Quem ousará defender tais hipóteses?

8. Um pouco de brizolismo não faz mal a ninguém

Há 55 anos, quando desafiou o “golpe por telefone” e desfez sua trama, Leonel Brizola arriscou o mandato de governador e a vida. Talvez por isso, tenha salvado ambos. Em certos momentos, desafiar o pragmatismo, desprezar o que parece ser o caminho mais cômodo, é o único meio não apenas para preservar a chama das ideias – mas também para obter vitórias concretas.

A esta altura, as chances de evitar o impeachment, que pareciam reduzidas no início da semana, estreitaram-se um pouco mais. Com Lula paralisado, só uma mobilização popular surpreendente – porque contrária à imensa pressão conservadora – alterará o prognóstico mais provável. Para a noite desta sexta-feira, precisamente, estão marcadas, em muitas cidades, manifestações contra o golpe.

Será ótimo se forem muito mais que a defesa de um mandato ou um posto de ministro. Uma pauta crucial para o futuro do país está em jogo. Sem debate algum com a opinião pública, o Congresso debate a concessão do pré-sal a corporações globais; a submissão completa do Banco Central à aristocracia financeira; restrições ainda mais amplas ao aborto; um Estatuto da Família que exclui as uniões homoafetivas; mais dificuldades à demarcação de temas indígenas e quilombolas; etc etc etc.

Os que promovem tal agenda têm um objetivo claro. Querem evitar que, diante da crise do lulismo, a sociedade possa debater um leque de alternativas. Preferem que surjam, em vez disso, “lições de casa” a cumprir obedientemente e sem criticas.

Este impasse permanecerá, seja qual for o destino do governo Dilma. Ao contrário do que pensam alguns, evitar o golpe promovido pela coalizão conservadora não é um objetivo menor. Mas, assim como fez Brizola em 1961, será bom ter em mente que a luta não é por mandatos e postos, mas por projetos. Foi esta visão essencial que levou o mesmo personagem, muito tempo mais tarde, a desafiar a TV Globo e tudo o que ela representa frisando que não chegara aos 70 anos – a idade atual de Lula – “para ser um acomodado”…

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Al Jazeera English divulga reportagem sobre tentativa de golpe no Brasil

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Publicações como Der Spiegel (Alemanha), The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Público (Portugal), The Guardian (Inglaterra), Página 12 (Argentina) e até mesmo a rede de televisão Al-Jazeera, entre outras, estão denunciando a ameaça contra a democracia no Brasil. E mais: boa parte desses veículos destaca o protagonismo da mídia brasileira no golpe.

Um exemplo é a publicação alemã Der Spiegel. Sob o título “A Crise Institucional no Brasil: Um Golpe Frio”, no último sábado (19.03.2016), em seu online, a Spiegel citou textualmente a participação das Organizações Globo em prol do impeachment.

Diz o texto: “parte da oposição e da Justiça age, juntamente com a maior empresa de telecomunicações TV Globo, para estimular uma verdadeira caça às bruxas que tem como alvo o ex-presidente Lula”. O juiz Sérgio Moro também é mencionado, não na carapuça de herói, mas como um juiz que faz política, o “que não é sua função”.

Entre as denúncias, destaca-se uma reportagem divulgada pela Al-Jazeera (assista abaixo), a mais importante rede de televisão do mundo árabe. Nesta segunda-feira (21.03), o Listening Post dissecou, a partir de imagens e entrevistas, o papel central da mídia brasileira na condução do golpe.

Frisando que Dilma não está sob nenhuma investigação, a reportagem mostra, por exemplo, a suspensão da programação regular na TV brasileira, trazendo imagens da Rede Globo e de outras emissoras, no dia da manifestação contra o Governo Dilma, “incitando as pessoas a irem para as ruas exigir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff”.

A reportagem aponta, também, que “cinco famílias, entre as mais ricas do país, controlam 70% dos principais meios de comunicação”, compondo o “establishment brasileiro, a classe dominante, há décadas”. E dispara: “nem Lula, nem Dilma tentaram diversificar a cena midiática em relação à concessão de propriedade dos canais de transmissão”.

Vídeo (Facebook):

"Dilma Rousseff's Watergate"Reportagem – legendada – da Al Jazeera English sobre a tentativa de golpe no Brasil.Tradução:- Junia Zaidan (Observatório de Tradução: Arte, Mídia e Ensino – UFES)- Paulo Chagas de Souza (DL – FFLCH – USP)

Publicado por Warley Alves em Segunda, 21 de março de 2016


Vídeo (Youtube):

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