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Sergio Moro sai do armário e assume o papel de Messias

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Sergio Moro manifestações
(crédito na imagem)

Kiko Nogueira, DCM

Sergio Moro resolveu colocar a capa de Morcego Vermelho e abraçar o papel de messias que as massas ignaras lhe outorgaram no dia 30 de junho.

“Eu vejo, eu ouço”, escreveu no Twitter em tom bíblico — não uma, mas duas vezes, abençoando a balbúrdia daquela gente que queria, por baixo, fechar o Congresso e o STF.

Segundo a Folha, a expressão caiu mal entre dirigentes de partidos, governadores e membros de cortes superiores.

“Aceitei o convite para o MJSP para consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos”, disse o ex-juiz.

“Essa é a missão. Muito a fazer.”

Se estivesse cumprindo a missão, o Queiroz, para ficar apenas num caso, não estaria desaparecido há seis meses.

O Moro que saiu do armário no domingo é um sujeito que se esbalda na megalomania.

Um profeta onisciente, onipotente e onipresente, guiando seu gado do alto da montanha onde recebeu as tábuas da lei do arcanjo Dallagnol.

A retórica lembra as viagens lisérgicas de John Lennon e Jimi Hendrix. Moro é o Olho de Hórus.

As palavras cairiam bem na letra de “Gita”, de Raul Seixas e Paulo Coelho (“Eu sou a luz das estrelas/Eu sou a cor do luar/Eu sou as coisas da vida/Eu sou o medo de amar”).

Quanto mais inflado o ego, pior a queda.

Um poema de Shelley chamado “Ozymandias” (apelido do faraó Ramsés II) ilustra bem aonde vão parar a arrogância, a ambição e o poder ilimitado.

Aqui, na tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.

Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:

Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis:

Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.

Este será o legado de Sergio Moro: a ruína colossal — abandonada inclusive por aqueles que o cultuam bovinamente.

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